Maguila, ícone do boxe brasileiro, morre aos 66 anos; ex-peso-pesado sofria de demência pugilística

Ex-peso-pesado sofria de demência pugilística, consequência das pancadas que recebeu ao longo dos 17 anos de carreira; Adilson conquistou títulos brasileiros, sul-americanos e o Mundial da WBF.

Maguila

A despedida de uma lenda do esporte nacional

O Brasil perdeu, nesta quinta-feira, 24 de outubro de 2024, um dos maiores nomes do seu boxe. José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, faleceu aos 66 anos em São Paulo. Maguila, que marcou época no boxe peso-pesado, sofria de encefalopatia traumática crônica (ETC), uma forma de demência pugilística, desde 2013, resultado dos anos de impacto nos ringues.

A morte foi confirmada por sua esposa, Irani Pinheiro, em entrevista à TV Record. “Ele ficou 28 dias internado, mas preferimos não divulgar por ser um momento íntimo da família”, relatou Irani, explicando que Maguila também enfrentava problemas pulmonares nos últimos meses de vida.

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Maguila deixa um legado imenso no esporte e na cultura popular brasileira, com um cartel impressionante de 85 lutas, 77 vitórias (61 por nocaute), sete derrotas e um empate técnico. Seu carisma, tanto nos ringues quanto fora deles, conquistou o público.

A trajetória vitoriosa de Maguila

Nascido em 11 de julho de 1958, em Aracaju, Maguila começou no boxe inspirado por lendas como Muhammad Ali e Éder Jofre. De origem humilde, Adilson teve uma infância difícil e enfrentou a fome e a pobreza quando se mudou para São Paulo aos 14 anos, onde trabalhou como ajudante de pedreiro.

Foi em 1979 que ele iniciou oficialmente no boxe, sob a tutela de Ralph Zumbano, e em 1983 conquistou seu primeiro título brasileiro no ginásio do Ibirapuera. Maguila se manteve no topo do boxe brasileiro até 1995, acumulando títulos e vitórias memoráveis.

Grandes combates e a consagração mundial

Maguila se destacou em lutas contra grandes nomes do boxe mundial. Em 1989, enfrentou Evander Holyfield, um dos maiores nomes da história do esporte. Apesar de ter iniciado bem a luta, foi derrotado por Holyfield no segundo round, mas o combate marcou a carreira do brasileiro.

Outro momento icônico foi sua luta contra George Foreman, em 1990, em Las Vegas. Embora tenha sido nocauteado no segundo round, a coragem de Maguila ao enfrentar os gigantes da categoria fez dele um herói nacional.

Em 1995, Maguila finalmente alcançou o título mundial ao vencer Johnny Nelson e se tornar campeão da Federação Mundial de Boxe (WBF), consolidando seu nome entre os grandes do esporte.

A luta fora dos ringues: a demência pugilística

O diagnóstico de demência pugilística, que marcou seus últimos anos, trouxe desafios imensos à vida de Maguila e sua família. Inicialmente confundida com Alzheimer, a condição foi finalmente diagnosticada em 2013, após anos de sintomas que incluíam perda de memória e episódios de agressividade.

Maguila passou seus últimos anos em tratamento na clínica Anjos de Deus, em Itu, São Paulo, onde recebeu cuidados e apoio da esposa. Sua esposa relatou as dificuldades da jornada, mas também lembrou os bons momentos que viveram juntos.

Legado e homenagem à memória de Maguila

Maguila será lembrado como um dos maiores esportistas que o Brasil já teve. Além do boxe, ele se aventurou em outras áreas, incluindo a gravação de um álbum de samba e participações na TV. Seu carisma, seu talento no ringue e sua humildade fora dele garantiram seu lugar no coração dos brasileiros.

Seu cérebro será doado para estudos na Universidade de São Paulo, em uma iniciativa semelhante à de outros atletas que sofreram com impactos repetidos na cabeça. A pesquisa visa entender melhor as consequências dessas lesões e desenvolver métodos de prevenção.

Maguila deixa um legado de conquistas, desafios superados e muito amor pelo esporte que o tornou uma lenda. Sua memória viverá tanto nos ringues quanto nos corações dos brasileiros.