Moraes bloqueia redes sociais e manda empresários suspeitos de mensagens golpistas prestarem depoimento à PF

Por Aguirre Talento, André de Souza, Mariana Muniz e Eduardo Gonçalves — Brasília

Luciano Hang, da Havan, e Bolsonaro durante solenidade no Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, além da busca e apreensão, que a Polícia Federal tome os depoimentos de oito empresários bolsonaristas suspeitos de compartilharem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp. O ministro ainda ordenou o bloqueio das redes sociais desses empresários e a quebra dos sigilos bancários.

A PF tomou parte dos depoimentos na manhã desta terça-feira, após cumprir as buscas contra os alvos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. No caso de empresários que não foram encontrados no momento da busca, eles foram intimados para prestar esclarecimentos ainda hoje.

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Foram alvos da operação os empresários Luciano Hang, da rede Havan, Meyer Nigri, da Tecnisa, Afrânio Barreira Filho (do Cocobambu), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Isaac Peres (Multiplan), José Koury, Luiz André Tissot (grupo Sierra) e Marco Aurélio Raymundo (Mormaii).

Em nota, a assessoria de Hang informou que o empresário não defendeu golpe nem fez críticas ao STF. “Luciano estava trabalhando em sua empresa, às 6h da manhã, quando a Polícia Federal o abordou e recolheu seu telefone celular”, diz a nota. A assessoria do grupo Sierra afirmou que não iria se manifestar.

O advogado de Afrânio Barreira, Daniel Maia, afirmou que a operação de hoje é “fruto de perseguição política e denúncias falsas, as quais não tem nenhum fundamento”. “E que seu cliente está absolutamente tranquilo e colaborando com a busca da verdade, a qual resultará rapidamente no arquivamento da investigação”, escreveu o defensor, em nota.

A defesa do empresário Meyer Nigri confirmou que ele prestou depoimento na manhã desta terça e que, na oitiva, “rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado”. “Ao contrário, reafirmou sua firme crença na democracia e seu respeito incondicional aos poderes constituídos da República”, diz a nota assinada pelos advogados Alberto Toron e Luiz Pacífico.

A defesa de Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, informou que foi contatada hoje pela Polícia Federal, mas “desconhece o inteiro teor do inquérito e se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos”.

A defesa de Ivan Wrobel , por sua vez, destacou que o empresário “tem um histórico de vida completamente ligado à liberdade” e que as acusações contra ele “não condizem com a realidade dos fatos”. “Em 1968, ele foi convidado a se retirar do IME (Instituto Militar de Engenharia) por ser contrário ao AI5. Nada na vida dele pode fazer crer que o posicionamento daquele momento tenha mudado”, diz o texto.

Os empresários alvos da operação integravam um grupo de WhatsApp no qual foi discutida a realização de um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencesse as eleições, em outubro. As conversas virtuais foram reveladas em reportagem do site “Metrópoles”.

Segundo os prints das conversas que constam na matéria, o empresário Koury afirma que “preferia” um golpe à “volta do PT”. “Um milhão de vezes”, escreveu ele. Em outro momento, Morongo comenta que “golpe” na verdade foi o Supremo Tribunal Federal ter “agido fora da Constituição” e mandado “soltar o presidiário”, em uma referência a Lula. Posteriormente, o empresário André Tissot disse que o “golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo”. “(Em 2019) teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, acrescentou.

Na semana passada, um grupo de advogados entrou com uma notícia crime no STF pedindo para que os empresários fossem incluídos no inquérito das milícias digitais, que está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. No documento, os juristas solicitaram que eles fossem investigados por suposto financiamento de “atos antidemocráticos e ataques às instituições brasileiras”.

Fonte: O Globo