Julian Assange Deixa a Prisão no Reino Unido
Julian Assange, fundador do WikiLeaks, deixou a prisão no Reino Unido nesta segunda-feira (24) após chegar a um acordo com a Justiça dos Estados Unidos. O acordo envolve Assange se declarar culpado em acusações de espionagem. “Julian Assange está livre”, anunciou o WikiLeaks em uma publicação no X (antigo Twitter).
Assange deixou a prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, na manhã de segunda e embarcou em um avião para sair do Reino Unido às 13h (horário de Brasília). Sua libertação foi tornada pública à noite, com a divulgação dos documentos da justiça americana.
Como parte do acordo, Assange vai se declarar culpado por violar a lei de espionagem dos EUA. Ele assumirá uma acusação criminal de conspiração para obter e divulgar documentos classificados de defesa nacional dos EUA em audiência nas Ilhas Marianas do Norte às 20h de terça-feira, horário de Brasília.
Acordo com a Justiça Americana
Na audiência, Assange deve ser sentenciado a 62 meses de prisão, período que já cumpriu no Reino Unido. Após se declarar culpado, ele estará oficialmente liberado e espera-se que volte para a Austrália, seu país natal. Segundo a Justiça americana, a audiência será nas Ilhas Marianas do Norte devido à proximidade com a Austrália.
Os EUA queriam julgar Assange por vazar 700 mil documentos confidenciais desde 2010, relacionados às atividades militares e diplomáticas americanas, principalmente no Iraque e Afeganistão. Caso fosse extraditado para os EUA, ele poderia enfrentar uma pena de até 175 anos de prisão.
Reações e Comunicado do WikiLeaks
Na noite de segunda-feira, a conta oficial do WikiLeaks anunciou o paradeiro de Assange após a divulgação dos documentos judiciais dos EUA que formalizaram o acordo. O WikiLeaks informou que Assange deixou a prisão de segurança máxima Belmarsh na manhã de 24 de junho, após 1901 dias de detenção. Ele foi libertado sob fiança pelo Tribunal Superior de Londres e embarcou em um avião no aeroporto de Stansted durante a tarde.
“Julian Assange está livre. (…) Isso é o resultado de uma campanha global que abrangeu organizadores de base, defensores da liberdade de imprensa, legisladores e líderes de todo o espectro político, chegando até as Nações Unidas”, afirmou o WikiLeaks em comunicado no X.
O comunicado destacou que Assange passou mais de cinco anos em uma cela de 2×3 metros, isolado por 23 horas diárias. Agora, ele se reunirá com sua esposa, Stella Assange, e seus filhos. Em um vídeo publicado, Stella anunciou a criação de uma vaquinha de emergência para a recuperação da saúde de Julian.
Vazamentos e Acusações
Em 2010, o WikiLeaks divulgou centenas de milhares de documentos militares classificados dos EUA sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque. Assange foi indiciado durante o governo do ex-presidente Donald Trump pela liberação em massa de documentos secretos, vazados por Chelsea Manning, ex-analista de inteligência militar dos EUA.
Os documentos incluíam cabos diplomáticos e relatos de batalhas, como um vídeo de 2007 de um helicóptero Apache dos EUA disparando contra supostos insurgentes no Iraque, matando uma dúzia de pessoas, incluindo dois funcionários da Reuters. Esse vídeo foi divulgado em 2010.
A divulgação incluía identidades de pessoas que cooperavam com os militares no Oriente Médio, o que, segundo oficiais norte-americanos, colocava vidas em risco. Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA descreveu os vazamentos do WikiLeaks como “um dos maiores vazamentos de informações confidenciais na história dos Estados Unidos”.
Processos Legais e Tentativas de Extradição
“Meu cliente está sendo processado por realizar uma prática jornalística comum, de obter e publicar informações confidenciais, informações verdadeiras e de interesse público evidente e importante”, afirmou Edward Fitzgerald, advogado de Assange. Clair Dobbin, advogada que representa os Estados Unidos, argumentou que Assange publicou nomes de pessoas que “atuaram como fontes de informação para os Estados Unidos”.
Em janeiro de 2021, um tribunal britânico inicialmente rejeitou o pedido de extradição para os EUA. Contudo, uma apelação americana fez com que, em dezembro de 2021, a Justiça britânica anulasse a primeira decisão, reabrindo o caminho para a extradição até o julgamento desta semana.
Recurso Contra a Extradição
Em maio, o Tribunal Superior de Justiça de Londres autorizou Assange a apresentar recurso contra sua extradição para os Estados Unidos, que será julgado no Reino Unido. Essa foi considerada uma vitória significativa para Assange.
A decisão aconteceu após os juízes britânicos pedirem mais informações ao governo norte-americano sobre o caso. Na acusação inicial dos EUA, Assange poderia enfrentar até 175 anos de prisão caso fosse enviado ao país.
Prisão na Inglaterra e Saúde Frágil
Julian Assange estava preso na Inglaterra desde 2019, após passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio para evitar a extradição por acusações de agressão sexual na Suécia, que foram posteriormente retiradas.
Antes do julgamento, a esposa de Assange alertou sobre seu estado de saúde frágil. “A saúde dele está piorando, física e mentalmente. A vida dele corre perigo a cada dia que permanece na prisão e, se for extraditado, ele vai morrer”, afirmou Stella Assange no fim de maio.