O ataque a uma torre de televisão em Kiev, capital da Ucrânia, nesta terça-feira (1º) provocou pelo menos cinco mortes. Fotos e vídeos do ataque à estrutura ucraniana postados em redes sociais foram geolocalizados e verificados pela CNN. A informação das mortes no local foi atribuído ao Serviço de Emergência do país.
Mais cedo, os militares russos disseram que realizariam ataques contra instalações em Kiev, alertando os civis que vivem perto das áreas a saírem. Os alvos seriam a Agência de Segurança de Estado e o 72º Centro Principal para Informações e Operações Psicológicas em Kiev.
Em uma entrevista exclusiva à CNN internacional e à Reuters, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu ao presidente norte-americano Joe Biden que dê uma mensagem forte e “útil” sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia em seu discurso sobre o Estado da União hoje. Zelensky concedeu a entrevista de um bunker em Kiev de onde ele está liderando a resposta de seus militares.
“É muito sério […] não estou em um filme”, disse Zelensky, ex-ator de comédia, à CNN. “Não sou um ícone, acho que a Ucrânia é um ícone […] A Ucrânia é o coração da Europa, e agora acho que a Europa vê a Ucrânia como algo especial para este mundo. É por isso que o mundo não pode perder esse algo especial”.
A entrevista do mandatário ucraniano acontece enquanto o exército russo avança rumo a Kiev no sexto dia de ataques ao país. Mais cedo, imagens de satélite mostraram um comboio russo com mais de 64 quilômetros de comprimento se aproximando da capital da Ucrânia.
Durante a manhã, os militares russos ainda atacaram outras cidades como Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia, e Mariupol, uma cidade portuária no sul. De acordo com um alto funcionário da defesa dos EUA, entre o início da guerra na última quinta (24) e a manhã desta terça (1º), os Estados Unidos já registraram mais de 400 mísseis disparados pela Rússia contra a Ucrânia.
Ataques em Kharkiv
Pelo menos dez pessoas morreram e 35 ficaram feridas em um ataque com foguetes na segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, disse o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia em um post do Telegram nesta terça-feira (1°).
A explosão atingiu o prédio da Administração Estatal Regional do governo, de acordo com vídeos do incidente postados pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia (MOFA) e funcionários do governo. Os vídeos foram publicados também na terça-feira, no horário local, e foram verificados pela CNN.
O edifício da Administração Estatal Regional abriga escritórios do governo local. Ele está localizado na “Praça da Liberdade” – a praça principal de Kharkiv e um marco arquitetônico.
“A Rússia está travando uma guerra em violação do direito internacional humanitário. Mata civis, destrói a infraestrutura civil. O principal alvo da Rússia são as grandes cidades que agora são atingidas por seus mísseis”, tuitou o Ministério do Interior, que compartilhou um vídeo mostrando o ataque.
Russia is waging war in violation of international humanitarian law. Kills civilians, destroys civilian infrastructure. Russiaʼs main target is large cities that now fired at by its missiles.
????Kharkiv, Administration building pic.twitter.com/BJgyNnDp1h
— MFA of Ukraine ???????? (@MFA_Ukraine) March 1, 2022
Ataques em Mariupol
O prefeito de Mariupol, na Ucrânia, disse na manhã desta terça-feira que a cidade portuária do Sul estava sob bombardeios constantes que mataram civis e danificaram a infraestrutura, enquanto a Rússia iniciava o sexto dia de sua invasão, de acordo com a agência de notícias Reuters.
“Tivemos bairros residenciais bombardeados por cinco dias. Eles estão nos atacando com artilharia, estão nos bombardeando com GRADS, estão nos atingindo com forças aéreas”, disse Vadym Boichenko em uma transmissão ao vivo pela TV ucraniana.
Zelensky diz que Rússia comete “terrorismo de Estado”
Em reação ao ataque a Kharkiv, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que o míssil é “um terror absoluto e indisfarçado”. “Ninguém vai perdoar. Ninguém vai esquecer. Este ataque a Kharkiv é um crime de guerra”, afirmou o presidente nesta terça-feira.
“Pedimos a todos os países do mundo que respondam imediata e efetivamente a essa tática criminosa do agressor e declarem que a Rússia está cometendo terrorismo de Estado. Exigimos total responsabilidade pelos terroristas nos tribunais internacionais”, condenou o presidente.
Segundo ele, Kharkiv e a capital Kiev são os principais alvos russos no momento. “A defesa da capital, hoje, é a principal prioridade para o Estado. Se protegermos Kiev, protegeremos o Estado. Este é o coração do nosso país. E deve continuar batendo. E continuará batendo, para que a vida triunfe”, acrescentou o presidente.
Na segunda-feira (28), pelo menos nove civis haviam sido mortos por ataques com foguetes russos em Kharkiv, disse o prefeito Ihor Terekhov. Segundo ele, três crianças morreram.
“Os mísseis atingiram prédios residenciais, matando e ferindo civis pacíficos. Kharkiv não vê tantos danos há muito tempo. E isso é horrível”, disse ele. Uma família de dois adultos e três crianças foi queimada viva em seu carro, disse ele.
Rússia e Ucrânia voltarão a negociar cessar-fogo nesta quarta, diz agência
A segunda rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia está planejada para 2 de março, segundo a agência de notícias russa TASS nesta terça-feira (1º), citando uma fonte do lado russo.
O primeiro encontro, nesta segunda (28), foi encerrado sem acordo sobre um possível cessar-fogo para a guerra, que já persiste há seis dias.
Segundo o assessor presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, os representantes retornariam às suas respectivas capitais antes de uma segunda rodada de negociações. “As partes determinaram os tópicos onde certas decisões foram mapeadas. Para que essas decisões sejam implementadas como um roteiro, as partes estão retornando para consultas às suas capitais”, disse o assessor, após o encontro.
Podolyak afirmou que o objetivo principal da primeira rodada de negociações foi “discutir o cessar-fogo e o fim das ações de combate no território da Ucrânia”.
Presidente da Ucrânia faz apelo à União Europeia
Também nesta terça (1º), Zelensky fez em um pronunciamento ao Parlamento Europeu, por videoconferência. Ele fez um apelo para que os países provem que estão do lado da Ucrânia em sua guerra com a Rússia – um dia depois de assinar um pedido oficial de adesão ao bloco.
“Provem que vocês estão conosco. Provem que você não vão nos abandonar. Provem que vocês são realmente europeus e então a vida vencerá a morte e a luz vencerá as trevas. Glória à Ucrânia “, disse ele, em ucraniano, em um discurso traduzido para o inglês. O intérprete falou entre lágrimas, enquanto a emoção tomou conta do Parlamento.
Os parlamentares da UE, muitos vestindo camisetas com uma hashtag de apoio à Ucrânia e segurando a bandeira ucraniana, outros com lenços ou fitas azuis e amarelas, aplaudiram Zelensky de pé.
“A União Europeia será muito mais forte conosco. Sem vocês, a Ucrânia estará solitária”, acrescentou o presidente.
Rússia cobra retirada de armas nucleares dos EUA na Europa
Durante um discurso gravado exibido na Conferência sobre Desarmamento em Genebra, na Suíça, o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, cobrou nesta terça que os Estados Unidos retirem suas armas nucleares de países da Europa.
“É inaceitável para a Rússia que alguns países europeus sediem as armas nucleares americanas”, afirmou Lavrov. Ele também disse que o país está pronto para trabalhar com os EUA em uma “estabilidade estratégica”. O chanceler também destacou que a Ucrânia ainda possui tecnologia nuclear soviética, e que os russos “não podem falhar em responder a esse perigo”.
Lavrov deveria comparecer à sessão pessoalmente, mas a visita foi cancelada, após países europeus anunciarem o fechamento do espaço aéreo para os russos.
ONU registra mais de 100 civis mortos e 677 mil refugiados
A agência de Direitos Humanos das Nações Unidas informou nesta terça-feira (1º) que o conflito já matou pelo menos 136 civis, incluindo 13 crianças, além de ter deixado cerca de 400 feridos. Segundo a entidade no entanto, o número real de vítimas é provavelmente muito maior.
Ao mesmo tempo, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) divulgou que cerca de 677 mil cidadãos ucranianos estão refugiados em países vizinhos em razão dos ataques.
De acordo com Filippo Grandi, dirigente da ACNUR, 150 mil pessoas deixaram o país somente nas últimas 24 horas.
Mães e crianças se abrigam em porão de hospital em Kiev
No porão do Hospital Infantil Ohmatdyt, em Kiev, na Ucrânia, mães e bebês buscam conforto em camas improvisadas e cobertores dispostos em ambos os lados de um corredor de concreto.
Crianças mais velhas que estão muito debilitadas para ir para casa ou fugir da capital com suas famílias após a invasão da Ucrânia pela Rússia também estão se adaptando à vida sitiada, ficando longe de janelas e deitadas em corredores enquanto recebem tratamento intravenoso.
Prefeito de Kiev à CNN
Vitali Klitschko, prefeito da capital da Ucrânia, Kiev, disse a Anderson Cooper, da CNN, que está orgulhoso dos cidadãos ucranianos por defenderem seu país e vê a batalha pela frente como uma luta por seu futuro.
Klitschko disse que Kiev está sob um ataque “ininterrupto” das tropas russas e do que ele chamou de “grupos de agressão russos”.
Nos últimos dias, a neve e a temperatura oscilando na casa de 0ºC têm representado mais uma preocupação para os moradores de Kiev, que se abrigam em porões sem aquecimento, estacionamentos subterrâneos e estações de metrô em toda a cidade.
Ocidente e China condenam Rússia, isolada na ONU
Países do Ocidente e a China condenaram a invasão da Ucrânia pela Rússia em discursos realizados nesta segunda-feira (28) durante uma reunião emergencial da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), convocada pelo Conselho de Segurança da entidade no domingo (27).
Entre os países-membros, o embaixador da Ucrânia junto à ONU, Sergiy Kyslytsya, foi o primeiro escalado a falar. Ele condenou as ações do governo de Vladimir Putin e, durante sua fala, afirmou que as próprias Nações Unidas estão sob ameaça, caso a Ucrânia não resista ao enfrentamento militar.
“Se a Ucrânia não sobreviver, a paz tampouco sobreviverá. Se a Ucrânia não sobreviver, a ONU não sobreviverá. Não se iludam: se a Ucrânia não sobreviver, não será uma surpresa se a democracia ruir em seguida”, declarou o embaixador ucraniano. “A única parte culpada aqui é a Federação Russa”.
Em seu discurso, o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, sugeriu que o começo dos conflitos entre seu país e a Ucrânia estaria no não cumprimento de acordos previamente estabelecidos.
“A raiz das ações atuais está há muitos anos na sabotagem e na desobediência das obrigações”, afirmou. Nebenzya complementou considerando que “recentemente, houve em Kiev um acordo para reconsiderar e para que eles cumprissem aquilo que eles assinaram em 2015”.
O que de mais importante aconteceu na segunda-feira
- Prefeito de Kharkiv diz que 9 civis morreram em ataques com foguetes russos
- Ministro de Relações Exteriores do Brasil diz que portaria sobre visto humanitário será publicada até quarta (2)
- ONU estima que mais de 520 mil cidadãos ucranianos estão refugiados em países vizinhos
- Bolsonaro diz que sempre pregou o “equilíbrio” na relação entre Rússia e Ucrânia
- Meta bloqueará o acesso de estatais russas na Europa
- Nações africanas no Conselho de Segurança condenam racismo na fronteira ucraniana
- General Motors anuncia que deixará de exportar carros para a Rússia
- EUA divulgam novas sanções financeiras contra a Rússia
- Biden diz que norte-americanos não devem se preocupar com guerra nuclear
- Tribunal de Haia vai investigar Rússia por crimes de guerra e contra humanidade
- Comboio russo avançou de Ivankiv para arredores de Kiev
- Alemanha envia aviões de guerra e aeronaves de patrulha para o Mar Báltico
- Fifa e Uefa suspendem times da Rússia por guerra na Ucrânia; seleção fica fora da Copa
- Presidente ucraniano assina pedido formal de adesão à União Europeia
- Airbnb anuncia que vai abrigar até 100 mil refugiados ucranianos
- Primeira negociação por cessar-fogo acaba sem acordo entre Rússia e Ucrânia
- Na ONU, Ucrânia pede cessar-fogo; Rússia diz que acordos foram sabotados
- Quase 6.000 pessoas estão detidas na Rússia após quarto dia de protestos
- Rublo cai 30%, e Rússia sobe juros de 9,5% para 20% após enxurrada de sanções
Qual é o tamanho dos exércitos da Rússia e Ucrânia?
A realidade é que há uma grande diferença entre o exército ucraniano e o exército russo. “Este não é o mesmo exército russo que estava em ruínas logo após a Guerra Fria“, diz o analista Jeffrey Edmonds, do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
“É um exército muito móvel, bastante moderno e bem treinado, com uma força aérea muito saudável, grandes forças terrestres, muito controle de artilharia, navios pequenos com muita capacidade para missões de ataque ao solo”. Veja comparação abaixo:
- ORÇAMENTO MILITAR DE 2021
Ucrânia: U$ 4,1 bilhões
Rússia: US$ 45,3 bilhões
- TROPAS ATIVAS
Ucrânia: 219 mil soldados
Rússia: 840 mil soldados
- AERONAVES DE COMBATE
Ucrânia: 170
Rússia: 1.212
- HELICÓPTEROS DE ATAQUE
Ucrânia: 170
Rússia: 997
- TANQUES DE GUERRA
Ucrânia: 1.302
Rússia: 3.601
- ARMAMENTO ANTIAÉREO
Ucrânia: 2.555
Rússia: 5.613
Resumo para entender o conflito
Após meses de escalada militar e intemperança na fronteira com a Ucrânia, a Rússia atacou o país do Leste Europeu. No amanhecer da quinta-feira (24), as forças russas começaram a bombardear diversas regiões do país.
O presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma “operação militar especial” na região de Donbas (ao Leste da Ucrânia, onde estão as regiões separatistas de Luhansk e Donetsk, as quais ele reconheceu independência).
O que se viu nas horas a seguir, porém, foi um ataque a quase todo o território ucraniano, com explosões em várias cidades, incluindo a capital Kiev.
Em seu pronunciamento antes do ataque, Putin justificou a ação ao afirmar que a Rússia não poderia “tolerar ameaças da Ucrânia”. Putin recomendou aos soldados ucranianos que “larguem suas armas e voltem para casa”. O líder russo afirmou ainda que não aceitará nenhum tipo de interferência estrangeira.
Esse ataque ao ex-vizinho soviético ameaça desestabilizar a Europa e envolver os Estados Unidos.
A Rússia vem reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado, acumulando dezenas de milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas portas do país.
Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos para acalmar as tensões não tiveram êxito.
A escalada no conflito de anos entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou a maior crise de segurança no continente desde a Guerra Fria, levantando o espectro de um confronto perigoso entre as potências ocidentais e Moscou.
*Com informações da CNN Internacional e da Agência Reuters, além de Giulia Alecrim, Vinícius Bernardes, Léo Lopes, Giovanna Galvani, Tiago Tortella, Renata Souza, Vinícius Tadeu, Henrique Melo, André Rigue e Fábio Munhoz, da CNN Brasil