China inicia exercícios militares em torno de Taiwan

Operação utiliza armamento com munição real e deve durar até o domingo, dia 7

As forças armadas chinesas iniciaram exercícios militares de fogo real em torno de Taiwan, nesta quinta-feira, num dos maiores exercícios já realizados na ilha, informou a televisão estatal CCTV.

“A partir das 12h de hoje (quinta-feira, 4h GMT) até 12h do dia 7 será realizado um importante exercício militar do Exército Popular de Libertação”, publicou a CCTV na rede social Weibo, após a visita da deputada norte-americana Nancy Pelosi.

“Durante esses exercícios de combate reais, seis áreas principais ao redor da ilha foram selecionadas e, nesse período, todos os navios e aeronaves não devem entrar nas áreas marítimas e no espaço aéreo relevantes”, completou a publicação.

Continua após a publicidade..

Algumas dessas áreas ficam muito próximas de portos importantes, e o governo de Taiwan acusa a China de conduzir efetivamente um bloqueio.

Enquanto isso, a Marinha dos EUA divulgou que o porta-aviões USS Ronald Reagan estava realizando operações programadas no Mar das Filipinas, no Pacífico Ocidental, um trecho de 5,7 quilômetros quadrados de oceano, que inclui águas ao sudeste de Taiwan .

Nas redes sociais, imagens de radar são compartilhadas mostrando o sobrevoo de duas aeronaves na costa sul de Taiwan.

Autoridades de Taiwan disseram que estão monitorando de perto os grandes exercícios militares da China ao redor da ilha, e que suas forças estão se preparando para um conflito, embora não vão tomar a iniciativa.

“O Ministério da Defesa Nacional sustenta que manterá o princípio de se preparar para a guerra sem buscar a guerra, com a atitude de não escalar o conflito ou causar disputas”, disse em comunicado.

Reação da diplomacia

Os chanceleres da Associação das Nações do Sudeste Asiático alertaram, nesta quinta-feira, que a situação “pode desestabilizar a região e eventualmente causar (…) conflitos abertos e consequências imprevisíveis entre grandes potências”.

Da mesma forma, o chefe diplomático da União Europeia, Josep Borrell, condenou os exercícios militares e considerou que a visita de Pelosi “não era uma justificativa” para eles.

Pequim, por sua vez, defendeu os exercícios militares, bem como outras manobras nos últimos dias em torno de Taiwan, como “justas e necessárias” e culpou os Estados Unidos e seus aliados pela escalada.

– Na atual briga por conta da visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são os provocadores e a China é a vítima – disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, agradeceu às nações do Grupo dos Sete (G7) por apoiarem a paz e a estabilidade regionais, depois que o grupo pediu à China que resolva as tensões no Estreito de Taiwan de maneira pacífica.

Tsai, em um post no Twitter, escreveu: “Taiwan está empenhada em defender o status quo e nossa democracia. Trabalharemos com parceiros que pensam da mesma forma para manter um Indo-Pacífico livre e aberto”.

Rotina de incertezas

Os 23 milhões de habitantes de Taiwan vivem com a possibilidade de invasão, e a ameaça se intensificou sob o presidente Xi Jinping.

O Estreito de Taiwan, com 130km de largura em seu ponto mais estreito, é uma importante rota marítima internacional.

Mas agora se tornou um ponto de conflito entre Estados Unidos, Taiwan e autoridades chinesas, que não vacilam em demonstrar poder antes do próximo congresso do Partido Comunista da China, que deve dar a Xi um terceiro mandato como chefe de Estado.

– O anúncio dos exercícios militares chineses representa uma clara escalada da atual base de atividades militares chinesas em torno de Taiwan e a última crise no Estreito de Taiwan de 1995-1996 – disse Amanda Hsiao, analista de China do International Crisis.

– Pequim está indicando que rejeita a soberania de Taiwan – completou.

No entanto, analistas disseram à AFP que a China não está tentando escalar a situação além de seu controle, pelo menos por enquanto.

– A última coisa que Xi quer é uma guerra acidental – disse Titus Chen, professor associado de ciência política da Universidade Nacional Sun Yat-Sen, em Taiwan.

Fonte: AFP