Eleições na Turquia: resultados parciais indicam disputa acirrada

Eleições na Turquia podem ir ao segundo turno, caso nenhum dos candidatos ultrapasse os 50%

Montagem mostra Recep Tayyip Erdogan e Kemal Kilicdaroglu em atos de campanha na Turquia em maio de 2023 — Foto: Reuters
Montagem mostra Recep Tayyip Erdogan e Kemal Kilicdaroglu em atos de campanha na Turquia em maio de 2023 — Foto: Reuters

Os resultados parciais das eleições na Turquia, ocorridas no último domingo (14), apontam uma disputa acirrada entre os principais candidatos, Recep Tayyip Erdogan e Kemal Kilicdaroglu. O atual presidente e o líder da oposição estão abaixo do percentual de 50% dos votos, o que pode levar a eleição ao segundo turno. Até o momento, a apuração de 91,93% das urnas mostra Erdogan com 49,49% dos votos e Kilicdaroglu com 44,79%. Ainda que a contagem oficial seja do Conselho Superior Eleitoral, a imprensa turca tem divulgado a apuração dos votos.

O presidente Erdogan lidera o conservador e religioso Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) desde 2003, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro. Em 2017, Erdogan liderou a troca do regime político de parlamentarismo para o presidencialismo, após sair vitorioso de uma tentativa de golpe de Estado ocorrida em 2016. Desde então, venceu todas as eleições presidenciais. Para 2023, no entanto, as pesquisas já indicavam uma eleição apertada. O líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, tinha uma leve vantagem nas estimativas para o primeiro turno. Caso vá para o segundo turno, a disputa será realizada no dia 28 de maio.

Kemal Kilicdaroglu, de 74 anos, é um político secular de centro-esquerda e líder do Partido Republicano do Povo. Ele lidera uma aliança de seis partidos, incluindo islâmicos, nacionalistas e o partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos. Entre as promessas de sua campanha está a desmobilização do sistema presidencial instalado por Erdogan, retornando ao parlamentarismo.

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Kemal Kilicdaroglu, de 74 anos, o líder da oposição na Turquia, vota em uma seção eleitoral de Ankara neste domingo (14). — Foto: AP Photo

Queda de popularidade de Erdogan

Os motivos que levaram à queda de popularidade de Erdogan incluem a crise econômica e a crítica à resposta do governo ao terremoto que atingiu o sul da Turquia no início de 2023, matando 50 mil pessoas. A alta inflação, uma das mais altas no mundo, tem corroído o poder de compra das famílias. Além disso, o governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência a tremor de terra.

A campanha eleitoral atual é baseada em conquistas passadas, e Erdogan apresenta-se como o salvador da nação. Ele destaca o entusiasmo dos eleitores, principalmente nas áreas mais atingidas pelo terremoto. Já o líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, afirmou em diversos momentos liderar a contagem de votos contra Erdogan, mesmo as agências de notícias turcas divulgando resultados parciais que apontavam Erdogan à frente.

Tratores limpam destroços de prédios derrubados por terremotos em Antáquia, na Turquia — Foto: Thaier Al-Sudani/REUTERS

Segundo Turno

Caso vá para o segundo turno, a disputa será ainda mais acirrada. Os candidatos têm opiniões opostas sobre diversos temas, como política econômica, direitos humanos e política externa. A eleição na Turquia é acompanhada de perto pela comunidade internacional, especialmente pelos países da União Europeia e pelos Estados Unidos. A Turquia é um país estratégico na região do Oriente Médio, com uma posição geográfica importante e um papel significativo na política regional. Além disso, a Turquia é membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e um dos candidatos à adesão à União Europeia, o que a torna ainda mais relevante na política internacional.

Política externa

As eleições na Turquia também prometem afetar a política externa do país — assunto que já está sob os holofotes há alguns meses.

Erdogan é um antigo aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e a forma como age (ou deixa de agir) perante a guerra na Ucrânia não tem agradado os colegas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que o grupo está do lado ucraniano.

Se Kilicdaroglu sair vitorioso, no entanto, este cenário pode mudar. Em mais de uma ocasião, o candidato afirmou ter interesse em fortalecer os laços do Estado turco com a Otan e, inclusive, acredita que o país deveria pleitear uma vaga na União Europeia.

Quanto à guerra russa na Ucrânia, Kilicdaroglu confirmou que, se eleito, irá impor sanções à Rússia, algo que Erdogan pouco fez até agora. Isso isolaria Moscou ainda mais no cenário internacional e poderia ter desdobramentos importantes, segundo os especialistas.