Guerra na Ucrânia: Rússia invade o país por terra, ar e mar

Kiev e Kharkiv, as duas maiores cidades da Ucrânia, foram bombardeadas e atacadas com mísseis. Em resposta a Putin, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que distribuiu armas aos ucranianos. União Europeia classificou o momento como o ‘pior desde a 2ª Guerra Mundial’.

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia dos últimos dias culminou em ataques por terra, ar e mar, que começaram na madrugada desta quinta-feira (24). Dias após uma série de ameaças e de ter reconhecido a independência de duas províncias separatistas do leste ucraniano, o presidente russo, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia.

Cidades como Kiev e Kharkiv, as duas maiores do país, foram atacadas com mísseis e bombas. Tropas russas também desembarcaram em Odessa, que fica às margens do Mar Negro, e cruzaram a fronteira até Kharkiv.

Ao menos 57 pessoas morreram e outras 169 ficaram feridas na Ucrânia após os ataques russos, disse o ministro da Saúde da Ucrânia, Oleh Lyashko.

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Bombardeios seguem na região separatista de Donetsk, segundo o vice-ministro da Defesa. Uma autoridade americana disse à agência Reuters que os russos dispararam mais de 160 mísseis contra alvos ucranianos.

Em resposta, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, disse que o país reagiu, matando 50 soldados, destruindo 4 tanques russos e derrubando 6 aeronaves. Zelensky também afirmou que distribuiu armas ao povo e que o país adotou a lei marcial (quando regras militares substituem as leis civis comuns de um país).

Nas ruas da Ucrânia, as imagens mostram o cenário de caos: filas em postos de combustíveis, corridas aos supermercados por mantimentos, engarrafamentos e estações de trens lotadas (veja fotos aqui).

Ucrânia invadida pelos russos

Uma mulher passa pelos escombros após o bombardeio russo, em Mariupol, Ucrânia, nesta quinta-feira (24) — Foto: Evgeniy Maloletka/AP

As autoridades ucranianas informaram que tropas russas tomaram a região onde fica o depósito de resíduos nucleares de Chernobyl. As forças russas chegaram lá depois de cruzar a fronteira da Belarus com a Ucrânia.

O assessor da presidência da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, destacou que essa é uma das ameaças mais sérias na Europa hoje.

O aeroporto militar de Hostomel, que fica a cerca de 23 quilômetros da capital de Kiev, também foi dominado pelos russos.

Mais cedo, autoridades militares ucranianas haviam dito que paraquedistas russos desceram de 20 helicópteros e 8 aeronaves Mi-8 e começaram a combater os ucranianos para controlar o aeroporto. Assista aqui.

Segundo informações do jornal ucraniano Pravda News, um ataque das forças de ocupação russa teria deixado quatro pessoas mortas e 10 feridas em Vuhledar, na província separatista de Donestsk.

Por volta das 11h – horário local (5h à frente do horário de Brasília) – projéteis russos teriam atingido um hospital. Seis dos feridos seriam médicos. O estado de saúde dos profissionais não estava claro.

Conflito histórico

A Rússia e a Ucrânia vivem uma antiga história de conflitos. Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.

A Ucrânia é uma ex-república soviética, tem laços sociais e culturais com a Rússia, e o russo é amplamente falado por ucranianos. Além de fazer fronteira com os russos, a Ucrânia é vizinha da União Europeia.

Desde 1991, com o fim da União Soviética, a Ucrânia é um país independente. Mas as histórias do país e da Rússia se confundem. A Ucrânia é considerada o berço da Rússia moderna (leia mais sobre o assunto aqui).

OTAN

A Otan – a aliança militar do Ocidente – afirmou que está com o “povo da Ucrânia” e que está tomando “todas as medidas necessárias para garantir a segurança e a defesa de todos os aliados”.

A aliança tem papel importante na disputa. Apesar de a Ucrânia não ser um membro, ela é considerada um “país parceiro” — e, em algum momento, pode vir a fazer parte. A Rússia, entretanto, é contra essa entrada. Entenda o que é a Otan, qual significado da sigla, países membros e objetivos.

“Pedimos que a Rússia cesse imediatamente sua ação militar e retire todas as suas forças da Ucrânia e arredores, respeitando plenamente o direito internacional humanitário e permitindo o acesso humanitário seguro e assistência a todas as pessoas necessitadas”, diz o comunicado lido pelo presidente da aliança, Jens Stoltenberg.

Reação internacional

Em comunicado oficial, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, também condenou a ofensiva russa.

“O presidente Putin escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano. A Rússia sozinha é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de forma unida e decisiva. O mundo responsabilizará a Rússia”, disse Biden.

O presidente Biden voltou a se pronunciar na tarde desta quinta em um discurso concedido na Casa Branca. “Vladimir Putin está planejando isso há meses”, disse. Ele afirmou ainda que Putin “e seu país arcarão com as consequências”. Como resposta, Biden anunciou que vai limitar as transações em dólar para empresas russas.

O mais alto diplomata da União Europeia, Josep Borrell, disse que a Europa vive “o momento mais sombrio desde o fim da segunda guerra mundial”. Chamou a atitude russa de “inaceitável e intolerável”.

O presidente francês Emmanuel Macron ligou Vladimir Putin e pediu a interrupção imediata das operações militares na Ucrânia, informou o governo da França em comunicado.

Segundo o governo francês, a ligação de Macron foi feita após uma conversa com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e antes de uma reunião com outros líderes da União Europeia. Macron disse para Putin que ele estava sujeito a “enormes sanções”.

Outros líderes mundiais, como Boris Johnson (Reino Unido) e Olaf Scholz (Alemanha), também condenaram os ataques (veja aqui o que cada um disse).

Declaração russa

Na tarde desta quinta, Vladimir Putin falou publicamente pela primeira vez após iniciar o país uma operação de ataque contra a Ucrânia. Ele disse, em conversa com empresários do país, que se prepara para responder às sanções impostas pelo Ocidente após o Kremlin reconhecer duas áreas separatistas do leste ucraniano.

Putin disse aos empresários que “foi obrigado” a tomar a decisão de atacar a Ucrânia e que “não tinha como agir diferente”. Putin exige, entre outras coisas, que a Ucrânia não faça parte da aliança militar do ocidente, a Otan.

Ainda durante a conversa, Putin tentou tranquilizar os empresários e disse que a Rússia segue sendo parte de uma economia global, e que não pretende alterar a ordem vigente.

Economia

A tensão no leste europeu também refletiu na economia mundial. Bolsas internacionais derreteram e o preço do petróleo passou de US$ 100 pela primeira vez desde 2014, com o barril do tipo Brent atingindo US$ 105.

Já ativos considerados refúgios seguros, como o ouro, o dólar e o iene japonês, se valorizaram num momento de tensão elevada nos mercados.

Por volta das 10h50 (horário de Brasília), o índice DAX da bolsa da Alemanha – a maior economia da Europa e muito dependente de insumos energéticos russos – caía 4,90%. As bolsas de Paris e Madrid tinham baixa em torno de 4%. Em Londres, o índice FTSE recuava 3,01%.

A Bolsa de Valores de Moscou chegou a suspender a operações após abrir com queda de mais de 10%, e recuava 33,12%. Ao longo das negociações, chegou a tombar 50%. O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov afirmou que a Rússia criou ferramentas de segurança suficientes para sobreviver à reação “emocional” do mercado financeiro à invasão russa da Ucrânia.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a Rússia criou ferramentas de segurança suficientes para sobreviver à reação “emocional” do mercado financeiro à invasão russa da Ucrânia.

No episódio desta quinta-feira de O Assunto, Fernanda Magnotta, pesquisadora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, analisa os impactos de possíveis sanções econômicas a Rússia.

“Quanto mais abrangente forem as sanções, mais efetivas elas serão, talvez, contra a Rússia. Só que quanto mais abrangentes e efetivas elas forem, evidentemente mais a conta terá que ser repartida por todos, inclusive por aqueles que às impõem”, disse Magnotta. Ouça o episódio abaixo.

Itamaraty

O secretário de Comunicação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Leonardo Gorgulho, disse que até a tarde desta quinta, o Brasil não possui um plano de resgate para retirar os brasileiros que estão na Ucrânia. Cerca de 500 brasileiros estão no país.

“Sobre a existência de plano de resgate, não há plano de resgate, não há da parte do Brasil e de qualquer outro país”, afirmou o embaixador. Leia mais aqui.

Embaixadas brasileiras em outros países estão em regime de plantão para dar assistência aos brasileiros que saírem da Ucrânia por conta própria. São elas: embaixada do Brasil em Varsóvia, Minsk, Bratislava e Moscou.

A nota do Itamaraty, divulgada no fim da manhã desta quinta, foi a primeira manifestação oficial do governo brasileiro após a invasão (leia a íntegra da nota aqui).

“O Governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia. O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”, diz a nota do Itamaraty.

O presidente Jair Bolsonaro, que viajou a São José do Rio Preto (SP), discursou por 20 minutos na cidade paulista, mas não fez nenhuma menção ao conflito.

Mapa mostra locais da Ucrânia que foram bombardeados em ataques da Rússia — Foto: Arte g1
Mapa mostra locais da Ucrânia que foram bombardeados em ataques da Rússia — Foto: Arte g1

Brasileiros na Ucrânia

Segundo embaixada do Brasil na Ucrânia, cerca de 500 brasileiros vivem no país (há, principalmente, muitos jogadores de futebol e profissionais de tecnologia da informação).

Em entrevista à GloboNews, o estudante Rony de Moura, que está na Ucrânia, que a situação no país “parece um pesadelo”. “Você vê no semblante das pessoas um ar de preocupação, que nos últimos dias havia sumido. Mas agora é muito claro e um pouco assustador”, disse.

Fonte: G1