Agências de ajuda humanitária alertaram para um desastre humanitário
Por Pavel Polityuk, Natalia Zinets e Aleksandar Vasovic na Ucrânia, Olzhas Auyezov em Almaty, Matthias Williams em Medyka, Guy Faulconbridge e William Schomberg em Londres, John Irish em Paris, Francois Murphy em Viena, David Ljunggren em Ottawa e outros escr – Leópolis/Kiev (Ucrânia)
Rússia e Ucrânia trocaram acusações neste sábado (5) por não haver passagem segura para civis que fogem de duas cidades sitiadas e bombardeadas por forças russas, no décimo dia de uma guerra que está criando o maior desastre humanitário na Europa em décadas.
A guerra, que começou com a invasão russa em 24 de fevereiro, fez com que quase 1,5 milhão de refugiados fugissem para o oeste da União Europeia e desencadeou sanções internacionais sem precedentes contra Moscou e alertas de recessão.
O Ministério da Defesa russo disse que suas unidades abriram corredores humanitários perto das cidades de Mariupol e Volnovakha, que foram cercadas por suas tropas.
Em Mariupol, no entanto, o conselho da cidade disse que a Rússia não está respeitando o cessar-fogo e pediu aos moradores que retornem aos abrigos e aguardem mais informações sobre a evacuação.
O Ministério da Defesa russo acusou os “nacionalistas” ucranianos de impedirem a saída dos civis, informou a agência de notícias RIA.
O porto do sudeste sofreu fortes bombardeios, um sinal de seu valor estratégico para Moscou devido à sua posição entre o leste da Ucrânia –controlado por separatistas russos– e a península da Crimeia no Mar Negro, que Moscou tomou da Ucrânia em 2014.
“Esta noite o bombardeio foi mais forte e mais próximo”, disse um membro dos Médicos Sem Fronteiras. Ainda não havia eletricidade, água, aquecimento ou sinal de telefonia móvel e a comida era escassa.
O governo ucraniano disse que o plano é evacuar cerca de 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil de Volnovakha.
Desastre humanitário
Apesar dos planos de cessar-fogo limitados, o Ministério da Defesa russo disse que continuará sua ampla ofensiva na Ucrânia, onde nega atingir civis ou realizar uma invasão, chamando suas ações de “operação militar especial”.
As forças russas realizavam ataques à infraestrutura militar em Donetsk, controlada pelos separatistas, e apertavam o cerco a Mariupol, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov.
Agências de ajuda humanitária alertaram para um desastre humanitário em todo o país. O número de refugiados pode aumentar para 1,5 milhão até o final do fim de semana, ante 1,3 milhão hoje, disse o chefe da agência de refugiados das Nações Unidas neste sábado.
A decisão do presidente Vladimir Putin de invadir o país gerou condenação de diversos países ao redor do mundo. As autoridades ucranianas relataram milhares de mortos e feridos entre a população civil.
Moscou diz que seu objetivo é desarmar seu vizinho, combater o que vê como agressão da Otan e capturar os líderes, a quem chama de neonazistas. No sábado, ele acusou o Ocidente de agir como bandido e ameaçou retaliação, sem dar detalhes.
“Como você entenderá, deve haver uma resposta correspondente ao banditismo econômico”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O conflito também abalou a diplomacia internacional sobre o programa nuclear do Irã, uma das poucas áreas em que a Rússia e os Estados Unidos trabalharam juntos para impedir o que o Ocidente suspeita ser um plano iraniano de desenvolver armas nucleares.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse no sábado que as novas sanções ocidentais impostas ao seu país se tornaram um obstáculo para fechar um acordo nuclear com o Irã. Um alto funcionário iraniano disse à Reuters que a postura russa não está sendo útil.
Fonte: Reuters