Putin enviará um ‘alerta apocalíptico’ ao Ocidente durante evento do Dia da Vitória, diz agência

Discurso do chefe do Kremlin contará com desfile de tropas, tanques, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais.

O presidente Vladimir Putin enviará um “alerta apocalíptico” ao Ocidente quando liderar as comemorações na segunda-feira (9) marcando o 77º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista, brandindo o vasto poder de fogo da Rússia enquanto suas forças lutam na Ucrânia.

Desafiador diante do profundo isolamento ocidental desde que ordenou a invasão do vizinho russo, Putin falará na Praça Vermelha diante de um desfile de tropas, tanques, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais, segundo apurou a agência Reuters.

Visitantes tiram fotos na Praça Vermelha, em Moscou, das luzes apagadas do Kremlin e da Catedral de São Basílio, neste sábado (27), na Hora do Planeta 2021 — Foto: Pavel Golovkin/AP Photo
Visitantes tiram fotos na Praça Vermelha, em Moscou, das luzes apagadas do Kremlin e da Catedral de São Basílio, neste sábado (27), na Hora do Planeta 2021 — Foto: Pavel Golovkin/AP Photo

Um sobrevoo sobre a Catedral de São Basílio incluirá caças supersônicos, bombardeiros estratégicos Tu-160 e, pela primeira vez desde 2010, o avião de comando Il-80 “apocalipse”, que levaria o alto escalão da Rússia no caso de uma guerra nuclear , disse o Ministério da Defesa.

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Nesse cenário, o Il-80 foi projetado para se tornar o centro de comando móvel do presidente russo. Está repleto de tecnologia, mas detalhes específicos são segredos de estado russos.

O líder do Kremlin, de 69 anos, comparou repetidamente a guerra na Ucrânia ao desafio que a União Soviética enfrentou quando os nazistas de Adolf Hitler invadiram em 1941.

“A tentativa de apaziguar o agressor às vésperas da Grande Guerra Patriótica acabou sendo um erro que custou caro ao nosso povo”, disse Putin em 24 de fevereiro, quando anunciou o que chamou de operação militar especial na Ucrânia.

21/3 - O presidente russo, Vladimir Putin (centro), assina documentos oficializando o processo de incorporação da região da Crimeia ao país após referendo em que a ampla maioria optou pela separação da Ucrânia — Foto: Mikhail Klimentyev/RIA Novosti/Kremlin/Reuters
21/3 – O presidente russo, Vladimir Putin (centro), assina documentos oficializando o processo de incorporação da região da Crimeia ao país após referendo em que a ampla maioria optou pela separação da Ucrânia — Foto: Mikhail Klimentyev/RIA Novosti/Kremlin/Reuters

“Não cometeremos tal erro uma segunda vez, não temos o direito”, completou ele.

Putin descreve a guerra na Ucrânia como uma batalha para proteger os falantes de russo da perseguição pelos nazistas e para se proteger contra o que ele chama de ameaça dos EUA à Rússia representada pela ampliação da OTAN.

Tanques russos avançam sobre área próxima a Mariupol, foco da nova fase da guerra ucraniana, junto com a região do Donbass, no leste da Ucrânia — Foto: Alexei Alexandrov/ AP
Tanques russos avançam sobre área próxima a Mariupol, foco da nova fase da guerra ucraniana, junto com a região do Donbass, no leste da Ucrânia — Foto: Alexei Alexandrov/ AP

A Ucrânia e o Ocidente descartam a alegação de fascismo como um absurdo e dizem que Putin está travando uma guerra de agressão não provocada.

A União Soviética perdeu 27 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial, mais do que qualquer outro país, e Putin criticou nos últimos anos o que Moscou vê como tentativas do Ocidente de revisitar a história da guerra para menosprezar a vitória soviética.

Ao lado da derrota do imperador francês Napoleão Bonaparte em 1812, a derrota da Alemanha nazista é o triunfo militar mais reverenciado dos russos, embora ambas as invasões catastróficas do oeste tenham deixado a Rússia profundamente sensível sobre suas fronteiras.

Sombra da Ucrânia

A guerra na Ucrânia lançará uma longa sombra sobre este Dia da Vitória.

Pessoas caminham em frente a prédio residencial fortemente danificado durante conflito entre Rússia e Ucrânia na cidade ucraniana de Mariupol — Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS
Pessoas caminham em frente a prédio residencial fortemente danificado durante conflito entre Rússia e Ucrânia na cidade ucraniana de Mariupol — Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS

A invasão da Rússia matou milhares de pessoas e desalojou quase 10 milhões. Também deixou a Rússia nas garras de duras sanções ocidentais e levantou temores de um confronto mais amplo entre a Rússia e os Estados Unidos – de longe as maiores potências nucleares do mundo.

Além de 11.000 soldados marchando pela Praça Vermelha juntos, o Ministério da Defesa disse que serão 131 peças de equipamento militar que apresentarão um grande espetáculo.

O conflito na Ucrânia expôs fraquezas nas forças armadas da Rússia, apesar da tentativa de Putin em suas duas décadas no poder de deter o conflito.

Um militar ucraniano caminha em meio a tanques russos destruídos em Bucha, nos arredores de Kiev, Ucrânia — Foto: Felipe Dana/AP Photo
Um militar ucraniano caminha em meio a tanques russos destruídos em Bucha, nos arredores de Kiev, Ucrânia — Foto: Felipe Dana/AP Photo

Ao Kremlin foi negada uma vitória rápida e a economia russa – duramente pressionada por sanções – enfrenta a pior contração desde os anos que se seguiram à queda da União Soviética.

Há menos de duas décadas, o presidente dos EUA, George W. Bush, juntou-se a Putin para as comemorações de 9 de maio em Moscou. Este ano nenhum líder ocidental foi convidado, disse o Kremlin.

Os Estados Unidos e seus aliados aumentaram o fornecimento de armas para a Ucrânia e Putin recebeu pedidos de alguns militares russos para liberar maior poder de fogo na Ucrânia, disseram à Reuters duas fontes próximas às forças armadas. Moscou disse ao Ocidente que seus suprimentos de armas são alvos legítimos.

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Coluna de carros com mísseis em ensaio para Dia da Vitória em Moscou, em 4 de maio de 2022 — Foto: Kirill Kudryavtsev / AFP

Antes de 9 de maio, a especulação rodou em Moscou e nas capitais ocidentais de que Putin estava preparando algum tipo de anúncio especial sobre a Ucrânia, talvez uma declaração direta de guerra ou mesmo uma mobilização nacional.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou essas sugestões na quarta-feira, descrevendo-as como “absurdas”.

O Kremlin não respondeu aos pedidos de comentários sobre o que Putin poderia dizer em seu discurso. Esse deve ser proferido pela tribuna da Praça Vermelha em frente ao Mausoléu de Vladimir Lenin.

No ano passado, Putin criticou o excepcionalismo ocidental e o que ele disse ser a ascensão do neonazismo e da russofobia – tendências às quais ele voltou várias vezes ao abordar na questão da Ucrânia.