Rússia e Ucrânia travam batalha pelo controle de Kiev no 5º dia da guerra

Conflito se intensificou nos arredores e ruas da capital, onde forças ucranianas tentam resistir à invasão. Russos atacaram base militar, estação de energia, gasoduto e refinaria de petróleo. Presidente recusou ajuda dos EUA para deixar país. Também houve registro de confrontos na 2ª maior cidade da Ucrânia, Kharkiv.

Continua após a publicidade..

Conteúdo

A Guerra na Ucrânia entrou nesta segunda-feira (28) em seu quinto dia. De acordo com as autoridades ucranianas, o número total de civis mortos até agora é de 352, entre eles 14 crianças. Veículos de imprensa locais informam que o presidente Volodymyr Zelensky conversou com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e teria dito que as próximas 24 horas serão decisivas para a ocupação de Kiev. Leia um resumo dos últimos acontecimentos mais abaixo.

AO VIVO: Sirenes voltam a tocar em Kiev

Continua após a publicidade..

No início da tarde deste domingo, a agência de notícias Associated Press informou que Vitali Klitschko, prefeito de Kiev e ex-campeão mundial de boxe dos pesos pesados, descreveu a capital da Ucrânia como “cercada”.

Ele teria afirmado que uma evacuação de civis não seria possível “porque todos os caminhos estão bloqueados”. Em declaração reproduzida pela agência, ele teria dito: “Estamos à beira de uma catástrofe humanitária”.

Mais tarde, no entanto, o jornal ucraniano “Kyiv Independent” informou que um porta-voz do prefeito negou que a cidade estivesse cercada. Ele disse que Klitschko “se expressou mal” e classificou a reportagem da AP como “uma mentira e uma manipulação”.

De acordo com a agência de notícias Reuters, imagens de uma empresa de satélites americana mostraram, na tarde deste domingo uma grande movimentação tropas russas em direção à capital. O comboio se estendia por cinco quilômetros e tinha veículos transportando combustível e tanques de guerra.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) pelo menos 64 civis morreram e mais de 300 mil tiveram de sair de suas casas na Ucrânia desde o começo da invasão por tropas russas, nesta quinta-feira (24). Além dos mortos, há 176 feridos, informou o Comissariado para Direitos Humanos da ONU.

Também no domingo, a Ucrânia protocolou um processo contra a Rússia no Tribunal Penal Internacional, em Haia, disse no Twitter o presidente Volodymy Zelensky. “A Rússia deve responder por ter manipulado a noção de genocídio para justificar a agressão. Nós exigimos uma decisão urgente para pedir que a Rússia pare com as atividades militares agora e esperamos que o processo comece na semana que vem”, escreveu ele.

Além disso, forças ucranianas começaram a enfrentar tropas russas nas ruas de Kharkiv, a segunda maior cidade do país, disse o governador Oleh Sinegubov. Imagens mostraram explosões em um gasoduto, resultado de um ataque aéreo.

“As luzes dos veículos dos inimigos russos já apareceram em Kharkiv, inclusive no centro da cidade. As forças armadas ucranianas estão destruindo o inimigo. Nós pedimos aos civis para que não saiam”, afirmou o governador

Na imprensa ucraniana, houve relatos de explosões na cidade de Vasylkiv (40 km ao sul de Kiev), onde um entreposto de petróleo teria sido destruído — a administração da capital recomendou aos moradores fecharem bem suas janelas e evitar intoxicação pela fumaça.

O presidente Vladimir Putin ordenou que o comando militar da Rússia colocasse as armas nucleares de represália em posição de alerta grave.

Segundo a agência de notícias Reuters, ele tomou a decisão depois de ouvir declarações que considerou agressivas de representantes dos países que fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield afirmou que a ordem de Putin mostra que o líder russo está escalando o conflito de uma maneira que é inaceitável.

Já o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, declarou à agência de notícias AFP que a ideia de uma guerra nuclear na Europa é “inconcebível”.

Após impasse sobre local, o governo da Ucrânia informou na tarde deste domingo que as negociações com a Rússia já começaram.

Mais cedo, o presidente Zelensky havia afirmado que iria enviar uma delegação para negociar com os russos sem pré-condições. A AFP informou que as discussões devem ocorrer na fronteira com Belarus, perto de Chernobyl, na região do rio Pripyat.

Putin havia acusado a Ucrânia de não “aproveitar a oportunidade” para negociações que deseja impor em Belarus, país de onde a Rússia lançou parte de sua invasão.

O primeiro-ministro Naftali Bennett se ofereceu para intermediar um fim das hostilidades da Rússia em território ucraniano neste domingo em uma conversa com o presidente Vladimir Putin.

A Ucrânia pediu a intermediação de Israel durante meses – os israelenses têm boas relações com os dois países em conflito. E a União Europeia começou a fornecer quantidades “significativas” de armas aos ucranianos para que eles possam se defender dos ataques russos.

Além disso, líderes do grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) disseram que aliados ocidentais decidiram cortar “certos bancos russos” do sistema mundial de comunicação interbancária chamado Swift. A declaração em texto conjunto publicado pela presidência da França, não especificou quais bancos russos foram afetados pela decisão.

O comunicado acrescentou que uma força-tarefa transatlântica será criada em breve para coordenar as sanções contra a Rússia.

O grupo hacker-ativista Anonymous anunciou que está em andamento um “cyber ataque contra a Rússia”. De acordo com o perfil da organização, a TV estatal russa foi hackeada e está transmitindo “a realidade do que está acontecendo na Ucrânia”. O governo ucraniano conta com voluntários para travar uma guerra cibernética contra os russos.

Neste domingo, a fabricante de armas estatal ucraniana Ukroboronprom informou que o maior avião de carga do mundo, o Antonov-225 Mriya, fabricado na Ucrânia, foi queimado em um ataque russo ao aeroporto Hostomel, perto de Kiev (leia mais sobre a aeronave).

E a polícia deteve neste domingo mais de 2 mil pessoas em protestos contra a guerra realizados em 48 cidades da Rússia. Desde o início da invasão à Ucrânia, nesta quinta, mais de 5,5 mil pessoas foram presas em diversas manifestações, de acordo com o grupo OVD-Info, que há anos documenta a repressão à oposição russa.

Na tarde de domingo, o presidente Jair Bolsonaro postou em uma rede social que 39 pessoas, das quais 37 brasileiros e dois uruguaios, chegaram à embaixada do Brasil na Romênia. Eles haviam sido transportados de trem de Kiev. “Estão todos bem e em segurança”, afirmou Bolsonaro.

O jogador de futebol brasileiro Felipe Pires, atleta do Dnipro, disse que teve de pagar para deixar a Ucrânia pela fronteira com a Romênia, porque o governo ucraniano não estava autorizando a saída de homens do país, independentemente da nacionalidade.

Resumo dos últimos acontecimentos:

  • O governo da Ucrânia informou, na tarde deste domingo, que as negociações com a Rússia já começaram.
  • Putin colocouequipes de armas nucleares em posição de alerta.
  • Bilionários russos pediram o fim de guerra na Ucrânia.
  • G7 disse que Ocidente cortou alguns bancos de sistema internacional de pagamentos Swift.
  • Embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield afirmou que a ordem de Putin mostra que o líder russo está escalando o conflito de uma maneira que é inaceitável.
  • O presidente da Ucrânia disse que delegação do país vai encontrar os russos sem pré-condições.
  • Israel se ofereceu para intermediar as negociações entre a Ucrânia e a Rússia.
  • União Europeia começou a fornecer quantidades ‘significativas’ de armas à Ucrânia.
  • O Conselho de Segurança aprovou a realização de uma reunião de emergência da Assembleia Geral da ONU nesta segunda-feira (28); o Brasil votou a favor.
  • A União Europeia aprovou envio de caças à Ucrânia. Ainda não está claro quando eles serão enviados.

Conflitos do sábado

Uma das imagens mais impressionantes deste sábado (26), terceiro dia da Guerra na Ucrânia, mostrou o momento em que um prédio residencial foi atingido em Kiev. Duas pessoas morreram, e 30 ficaram feridas.

É possível ver o míssil entrando em um apartamento, provocando um clarão e destruindo o imóvel (veja fotos).

Também em Kiev um ataque aéreo russo neste sábado matou uma criança e feriu cinco pessoas, incluindo três crianças, no hospital infantil Okhmatdyt. A informação é do jornal ucraniano “Kyiv Independent”.

Em um vídeo publicado no mesmo dia, Zelensky afirmou: “Nós resistimos e estamos repelindo os ataques inimigos com sucesso. A luta continua”. Ele também disse que seu governo iria armar aqueles que quiserem ajudar os militares ucranianos e recusou a oferta do governo dos Estados Unidos.

Em um pronunciamento posterior, Zelensky anunciou ter chamado “todos os amigos da Ucrânia” para ajudar a combater invasão russa e declarou que iria lutar pelo tempo que for preciso para libertar o país.

Manifestações contra a guerra

A procuradoria da Rússia disse que qualquer pessoa que for flagrada dando assistência a um Estado estrangeiro em uma ação que pode colocar a segurança da Rússia em perigo poderá ser condenada por traição, e a pena pode ser de até 20 anos de prisão.

Em Berlim, na Alemanha, manifestantes foram a uma das principais avenidas da capital alemã para pedir o fim das agressões militares da Rússia na Ucrânia.

O chanceler Olaf Scholz, o líder do país, disse que vai aumentar o orçamento para mais de 2% do total das receitas. A decisão foi tomada após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Alemanha suspendeu a autorização de um gasoduto que foi construído entre os dos países.

“Vamos investir mais em segurança no nosso país para proteger a nossa liberdade e democracia”, disse Scholz em uma sessão no Parlamento.

Neste domingo, o Papa Francisco também falou sobre a invasão na Ucrânia. O pontífice pediu a criação de um corredor humanitário para ajudar os refugiados que fogem da guerra.

Ele disse ainda que quem faz guerra não deve ter a ilusão de que estão com Deus do lado deles.

Segundo a agência de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU), 150 mil pessoas já deixaram o território após a invasão pela Rússia. O vice-ministro polonês do Interior, Pawel Szefernaker disse que cerca de 100 mil ucranianos já cruzaram a fronteira para a Polônia.

Governo russo diz que a Ucrânia se recusou a negociar; ucranianos desmentem

O governo russo afirmou neste sábado que a Ucrânia se recusou a negociar com seus inimigos para tentar interromper as agressões. A Rússia invadiu a Ucrânia há três dias.

Rapidamente, um assessor da presidência da Ucrânia disse à agência Reuters que seu país não se recusa a negociar. Os ucranianos já haviam até preparado o que iriam exigir e o que iriam ceder, mas que a Rússia, inicialmente, impôs condições que inviabilizam o diálogo.

Ele afirmou que os ucranianos consideram essas ações uma tentativa de derrotar seu país e impor condições que ele considera inaceitáveis.

Foto divulgada pela presidência da Ucrânia mostra Vlodymyr Zelensky no centro de Kiev — Foto: Ukrainian Presidential Press Office via AP

Maior ataque na Europa em 80 anos

O ataque é o maior de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.

Na quinta, tropas russas atacaram a Ucrânia por três frentes (terra, ar e mar), rapidamente tomando Chernobyl, no norte do país. Na madrugada de sábado (26), no horário local, a ofensiva de Moscou alcançou Kiev. A capital ucraniana foi atingida por explosões que causaram danos em áreas residenciais da cidade.

Na sexta (25), o governo da Rússia afirmou estar pronto para enviar uma delegação a Minsk, capital belarussa, para conversas com a Ucrânia, acrescentando que a desmilitarização da Ucrânia seria uma parte essencial da negociação. Pouco antes, o governo da Ucrânia afirmou que está pronto para conversas com a Rússia, inclusive sobre o status neutro em relação à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança que tem papel importante na disputa entre os dois países (leia mais sobre isso abaixo).

Em resposta ao ataque russo à Ucrânia, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido anunciaram sanções contra o presidente Vladimir Putin. A Rússia, por sua vez, usou seu poder de veto para barrar a resolução do Conselho de Segurança da ONU que serviria para condenar a invasão da Ucrânia.

“Se as conversações forem possíveis, elas devem ser realizadas. Se em Moscou eles dizem que querem manter conversações, inclusive sobre o status neutro, não temos medo disso”, disse Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial ucraniano à agência de notícias Reuters.

“Nossa disponibilidade para o diálogo é parte de nossa persistente busca da paz”, acrescentou Podolyak.

Apesar das declarações do porta-voz Peskov, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que os militares ucranianos deveriam tomar o poder, sugerindo a derrubada do presidente Volodymyr Zelensky. Em discurso na TV, Putin disse que será mais fácil para eles se os militares tomarem o poder. No mesmo vídeo, ele chama Zelensky e os membros de seu governo de “gangue de viciados em drogas e neonazistas”.

Otan

A Ucrânia atualmente não faz parte da Otan nem da União Europeia, embora queira aderir a ambas, o que desagrada a Moscou.

A Rússia e a Ucrânia vivem uma antiga história de conflitos. Ao longo dos séculos, a Ucrânia, uma ex-república soviética, fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.

Fonte: G1