Nanotecnologia contribui para evolução das próteses ortopédicas

Dispositivos são feitos de metal, cerâmica ou polímero de alta resistência e podem substituir articulações, tendões e membros do corpo

Foto: Pressfoto/Freepik

Próteses ortopédicas cirúrgicas com maior duração e menos rejeição têm sido desenvolvidas e disponibilizadas graças à nanotecnologia na saúde. Feitas de metal, cerâmica ou polímero de alta resistência, podem substituir uma articulação — como a do ombro, quadril, tornozelo, cotovelo, dedos da mãe e do pé —, tendões e membros do corpo. O cirurgião com especialidade em Ortopedia pode usar esses equipamentos de diversas maneiras, dependendo das necessidades e da situação do paciente.

A tecnologia utilizada em próteses aumentou exponencialmente nas últimas décadas, o que levou a um pós-operatório mais tranquilo para o paciente. A partir da nanotecnologia e de novos métodos construtivos, é possível ter uma compreensão cada vez maior da anatomia humana e de como esses dispositivos podem trabalhar com o corpo do paciente.

Além disso, proporcionam materiais cada vez mais leves e resistentes, aumentando a durabilidade das próteses e reduzindo visitas ao cirurgião-ortopedista.

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De acordo com o Centro de Tecnologias Estratégicas no Nordeste (Cetene) — unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) —, a nanotecnologia pode ser definida como o estudo de manipulação da matéria em escala atômica e molecular. Isso inclui o desenvolvimento de materiais que estão relacionados a várias áreas, como medicina, ciência da computação, eletrônica, biologia, física, química e engenharia dos materiais.

A atuação nesses segmentos tem como princípio a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos. O objetivo é elaborar estruturas estáveis com eles, não de chegar a um controle individual.

Nanoestruturas de grafeno melhoram resistência de próteses

A incorporação de nanoestruturas de grafeno — uma das formas cristalinas do carbono, como diamante e grafite — ajuda a melhorar a resistência de cerâmicas avançadas de zircônia ao envelhecimento hidrotérmico (degradação em baixa temperatura), facilitando seu uso como biomaterial.

A descoberta, publicada em estudo na revista científica Journal of the European Ceramic Society, foi feita por uma equipe de pesquisa do Conselho Superior de Pesquisa Científica (CSIC) e da Universidade de Sevilha, na Espanha.

Os pesquisadores apontam que a falta de estabilidade mecânica a longo prazo em meios aquosos, como os fluidos do corpo humano, é a principal limitação para o uso da cerâmica avançada de zircônia como biomaterial em próteses de joelho e quadril.

Em entrevista à imprensa, Ana Morales Rodríguez, pesquisadora da Faculdade de Física da Universidade de Sevilha, explica que o fato de o grafeno ser impermeável à água fez a equipe pensar que ele poderia ser usado como barreira contra a umidade na cerâmica, o que pode modificar a resistência ao envelhecimento hidrotérmico.

Os resultados mostraram que os materiais contendo grafeno apresentaram significativa melhora na resistência ao envelhecimento, alta tolerância a danos e integridade microestrutural bastante superior quando comparados à cerâmica de zircônia.

Importância das tecnologias assistivas

Conforme o Guia para Prescrição, Concessão, Adaptação e Manutenção de Órteses, Próteses e Meios Auxiliares de Locomoção, do Ministério da Saúde, a junção de reabilitação e cuidado é entendida como uma estratégia de saúde e uma resposta social à deficiência.

Esse método tem nas tecnologias assistivas (TA) um ajudante importante para a valorização, integração, inclusão e promoção dos direitos das pessoas com deficiência. No universo das TA, as órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção (OPM) ocupam papel de destaque no âmbito da saúde.

Segundo o documento, a efetividade desses dispositivos perpassa por um processo responsável e qualificado que inclui avaliação, prescrição, confecção, dispensação, preparação, treino para o uso, acompanhamento, adequação e manutenção.

Vale lembrar que “tecnologia assistiva” é um termo utilizado para identificar todo o arsenal de serviços e recursos que colaboram para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas e, consequentemente, promover inclusão e independência.

A tecnologia assistiva nasce da aplicação de avanços tecnológicos em áreas já estabelecidas. Trata-se de uma disciplina de domínio de profissionais de diferentes áreas do conhecimento que interagem para restaurar a função humana.

Refere-se ainda à pesquisa, fabricação, uso de equipamentos, estratégias ou recursos utilizados para potencializar as habilidades funcionais do desempenho humano, desde as tarefas básicas de autocuidado até o desempenho de atividades profissionais.

Um pouco de história

Como ressaltado pelo guia do Ministério da Saúde, a busca por dispositivos que pudessem auxiliar o ser humano diante de perdas funcionais ou de membros do corpo tem sido descrita desde épocas remotas, datadas de 3.500 a.C.. No entanto, somente a partir da Guerra Civil Americana e das primeira e segunda guerras mundiais foram observados avanços nos processos relacionados às técnicas cirúrgicas de amputações e na confecção de OPMs.

No século passado, depois da Primeira Guerra Mundial, foram criados fóruns e instituições, como a Associação Americana de Órteses e Próteses, para discutir e desenvolver padrões éticos, programas científicos e educacionais e alternativas para melhorar o relacionamento entre os protesistas e os profissionais da área da saúde.

Assim, segundo o estudo do Ministério, os avanços na restauração protética e ortética sempre são provenientes de múltiplas frentes. Desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, melhoria no tratamento de pré e pós-operatório e avanços na tecnologia de materiais são exemplos. Fatores como design e técnicas utilizadas pela indústria de próteses e melhor entendimento das implicações psicossociais decorrentes de perdas funcionais também são relevantes.