Neurocirurgião explica o que é politraumatismo, como o de Rodrigo Mussi, e analisa: “Gravíssimo”

Wanderley Cerqueira de Lima avalia caso do ex-BBB, que estava em um carro por aplicativo que se chocou com um caminhão na madrugada desta quinta (31) na Marginal Pinheiros; ele está internado no Hospital das Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, onde foi operado

Internado no Hospital das Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, após sofrer um acidente de trânsito na madrugada desta quinta-feira (31) na Marginal Pinheiros, o ex-BBB Rodrigo Mussi, de 36 anos, foi submetido a uma cirurgia na cabeça e em uma das pernas na noite passada e seguirá em observação nas próximas 48 horas para que sejam definidos novos procedimentos e medicações. As informações foram divulgadas pela assessoria de comunicação do ex-BBB, que informou, ainda, que o estado de saúde dele é considerado “delicado, porém, estável”.

Quem conversou com o neurologista e neurocirurgião Wanderley Cerqueira de Lima, diretor do WCL Neurocirurgia, e médico do Hospital Israelita Albert Einstein e da Rede D’Or, a fim de entender mais sobre casos como o do ex-BBB. “Soube que ele estava no banco de trás do carro, sem cinto de segurança. É um acidente automobilístico, onde tem um processo muito grande de aceleração e desaceleração súbitas. Nesse processo, o corpo vai para a frente — ou pelo impacto ou pela velocidade do carro”, explica.

“Então o paciente passa a ter uma coisa chamada politraumatismo. Pode ter fratura na perna, na coxa, no braço, trauma abdominal fechado, traumatismo no tórax, com fraturas de costela ou perfuração de pulmão, pode ter lesão na coluna cervical pelo mecanismo de ‘chicote’ da coluna cervical e traumatismo craniano. São várias lesões e o quadro é grave”, acrescenta.

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TEMPO É VIDA

Segundo o médico, o atendimento inicial ao paciente politraumatizado deve ser feito de forma rápida e sistematizada. “É fundamental o atendimento no momento do acidente e quando o paciente chega ao hospital. Tempo é vida. Quando um politraumatizado chega a um pronto socorro, a equipe de urgência tem que estar à disposição. Tira-se a roupa inteira do doente, avalia-se se tem fratura, como está o abdômen, o tórax, o crânio. Radiografa-se o paciente inteiro, faz-se tomografia dele inteiro”, conta.

O médico explica como é o traumatismo craniano. “O cérebro está dentro de uma caixa rígida que se chama crânio, que é uma estrutura fechada. Em um traumatismo craniano, o osso é fechado, então o cérebro pode ter inchaço ou edema, pequenos pontos de sangramento ou um coágulo grande, e aí como tratar isso numa caixa fechada? Aí é cirurgia, tem que abrir o crânio”, afirma.

Dr. Wanderley explica que existem alguns tipos de hematoma. “Se é subdural, ou seja, está entre o cérebro e a membrana que o envolve, o sangue forma rapidamente, só que, dentro do crânio, ele não consegue se adaptar, se expandir, e comprimirá estruturas nobres. De imediato, como tempo é vida, o paciente entra em coma. Tudo depende do tamanho do sangramento, do tamanho do edema e da gravidade do impacto que ele teve na cabeça. Depende de ‘n’ fatores”, diz.

CONTROLE INTENSIVO

Após a cirurgia, foi emitido um boletim informando que Rodrigo seguirá em observação nas próximas 48 horas para que sejam definidos novos procedimentos e drogas. “Os neurônios têm que extrair quase que 100% do oxigênio, é diferente de uma célula da perna, da ponta do dedo, que extrai menos oxigênio. Por isso o paciente tem que estar sedado ou em coma induzido, para que haja o controle da oxigenação cerebral, da pressão arterial, da respiração. Também tem que se observar se ele vai ter perda de sangue em outras partes do organismo, como o baço ou dentro da cavidade abdominal ou até mesmo dentro do tórax”, conta.

De acordo com o médico, não há como prever por quantas horas o paciente terá que ficar em observação. “Quando sai da cirurgia, ele vai tendo os parâmetros de uma UTI, mas tem um princípio que é fundamental, que é a monitorização da pressão dento do crânio, a chamada monitorização da PIC [Pressão Intracraniana]. E assim vamos dando remédio de acordo com as tomografias de controle”, explica. “Medicina não é matemática. Esse período pode durar uma semana, mais ou menos. O paciente jovem, como o Rodrigo, tem uma reserva melhor do que o idoso, pode encurtar esse período”, afirma.

PROGNÓSTICO

O médico explica que sempre é possível ter uma noção do que vai acontecer com o paciente. “Depende de onde está o hematoma, se é superficial, se tem hematoma no meio do cérebro, no tronco cerebral. Tudo isso pode ser avaliado com exames complementares. Faz-se uma tomografia ou uma ressonância. Mas, ao mesmo tempo, é preciso dar uma noção à família do prognóstico, que já não é o estudo da imagem, mas, sim, o da função. E aí há exames como o eletroencefalograma e o potencial evocado multimodal, em que é avaliado se está passando estímulo da visão, da audição para o paciente. Assim se consegue ter uma noção de qual será o prognóstico”, afirma.

Para Dr. Wanderley, casos como o do ex-BBB podem ser “gravíssimos”. “Só com o dia a dia pode-se ter uma noção da gravidade e do prognóstico de cada paciente e como ele vai evoluir quando você diminuir as drogas, tirar os cateteres, se ele vai ficar em estado vegetativo, em estado vigil. Essa noção acontece no acompanhamento diário, mas não é algo rápido. É o tempo para que ele possa ser transferido para uma unidade semi-intensiva, depois para o quarto. Em seguida tem toda uma reabilitação, com fisioterapia, fonoaudiologia, dieta. Só depois o paciente volta para a família”, conta.

O médico ressalta, contudo, que não é uma evolução rápida. “Já tive pacientes gravíssimos, quase com morte encefálica, em que fazemos uma avaliação chamada escala de coma de Glasgow [A escala vai de 3 a 15, sendo que no nível 15 o paciente não tem nenhum grau de redução das funções cerebrais e no nível 3 ele apresenta um estado de coma profundo, e não apresenta qualquer resposta ao exame físico específico]. Avaliamos se o paciente abre os olhos, abre a boca, emite sons, conversa, respira sozinho, mexe os braços, mexe as pernas, dá-se gradação. 15 somos nós. 3 é a morte encefálica. Já tive paciente jovem que foi jogado, arremessado para fora do carro, como o Rodrigo, e, de repente, morreu. E já tive pacientes mais idosos, que você acha que vão evoluir mal, e, de repente, foram acordando progressivamente. Mas ninguém acorda de uma hora para a outra, é muito difícil”, esclarece.

O ACIDENTE
Segundo a assessoria do ex-BBB, Rodrigo estava no banco de trás do passageiro e, por não estar usando cinto de segurança, foi arremessado para a parte da frente do veículo. A informação também foi confirmada pelo motorista de aplicativo que levava Rodrigo, em entrevista exibida no Bom Dia São Paulo.

A assessoria ainda emitiu comunicado oficial. “O influenciador Rodrigo Mussi sofreu traumatismo craniano durante o acidente, além de fraturas pelo corpo. O estado de saúde é considerado delicado, porém estável. No momento ele está passando por uma cirurgia múltipla, na perna e na cabeça. Em breve divulgaremos um boletim médico e atualizado”, dizia o comunicado.

Rodrigo Mussi (Foto: Reprodução/Instagram @trumpas_)
Rodrigo Mussi (Foto: Reprodução/Instagram @trumpas_)