O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (25) que “é possível” discutir a adoção de um acordo de livre comércio entre a China e o Mercosul, bloco econômico que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de países associados.
Lula viajou nesta quarta-feira para Montevidéu, no Uruguai, onde se reuniu com o presidente do país, Luis Lacalle Pou. O objetivo da visita foi discutir o fortalecimento do Mercosul, diante das negociações avançadas entre Uruguai e China para o estabelecimento de um acordo comercial independente entre os dois países.
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Para o presidente brasileiro, antes é preciso destravar a ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, esse acordo comercial precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. No entanto, diversos países europeus suspenderam a aprovação do acordo, o que exigirá negociações adicionais.
“Vamos intensificar as discussões com a União Europeia e vamos firmar esse acordo para que a gente possa discutir apenas um possível acordo entre China e Mercosul e eu acho que é possível”, disse em declaração à imprensa ao lado de Lacalle Pou.
“Apesar do Brasil ter na China o seu maior parceiro comercial e do Brasil ter um grande superávit com a China, nós queremos sentar, enquanto Mercosul, e discutir esse acordo com nossos amigos chineses”, completou.
Lula afirmou ainda que está de acordo com a visão de Lacalle Pou sobre a “inovação e renovação” do Mercosul. Segundo ele, as ideias serão tratadas, primeiramente, no nível técnico, depois ministerial e, então, entre os presidentes dos países que compõem o bloco.
“Os pleitos do presidente Lacalle Pou são mais que justos. Primeiro porque o papel de um presidente é defender os interesses do seu país, da sua economia e do seu povo. Segundo porque é justo querer produzir mais e querer vender mais e por isso é importante se abrir o quanto mais possível para o mundo dos negócios”, disse Lula, defendendo que o todos os países da região devem crescer juntos.
“Eu voltei a ser presidente não apenas para resolver os problemas do povo brasileiro, eu voltei porque acredito no multilateralismo e quero fortalecer o Mercosul, a Unasul, a Celac e quero brigar por uma nova governança mundial, completou o presidente.
Para Lacalle Pou, o Mercosul precisa ser moderno, flexível e aberto ao mundo. Segundo ele, o Uruguai está em negociação com a China, mas não há impedimento em dividir as informações com os demais países do bloco sul-americano. “Vamos criar uma equipe técnica entre Uruguai e Brasil e outros países interessados para avaliar o que queremos e precisamos no nosso relacionamento com a China”, disse.
Questões bilaterais
Os projetos de infraestrutura para a integração de Brasil e Uruguai também foram tema do encontro. Um dos pleitos do presidente Lacalle Pou é o apoio do Brasil para a internacionalização do aeroporto da cidade de Rivera, que faz fronteira seca com Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. Lula afirmou que discutirá a questão prontamente com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França.
O Uruguai também defende a ampliação da ponte que liga as cidades de Jaguarão, no lado brasileiro, e Rio Branco, no lado uruguaio. A construção de uma segunda ponte também estava em discussão com o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Lula, as discussões sobre essa obra começaram ainda em seu primeiro mandato. “Pensei que essa ponte já estava pronta e hoje soube que nem começou. Quero assumir de novo esse compromisso que vamos fazer essa ponte. Interessa ao Brasil, ao Uruguai, ao povo dos dois países”, disse.
Por último, Lacalle Pou falou sobre a criação de uma hidrovia na Lagoa Mirim e na Lagoa dos Patos. Para isso, é preciso realizar a dragagem do canal no lado brasileiro. “O montante [de recursos] não será muito elevado, mas será importante para as duas nações”, disse o uruguaio.
Nesta tarde, Lula também participa de uma cerimônia na prefeitura de Montevideu, onde receberá a medalha Más Verde, em reconhecimento aos seus esforços em defesa do meio ambiente. Após a entrega do prêmio, ele fará uma visita pessoal ao ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, na chácara dele, nos arredores da capital uruguaia.
A previsão é de que a comitiva de Lula deixe Montevideu logo após este compromisso, com destino a Brasília.
Antes do Uruguai, Lula esteve em Buenos Aires, na Argentina, onde se reuniu com o presidente do país, Alberto Fernándes, para retomar as relações entre os dois países, e participou da cúpula de líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além de outros compromissos e encontros bilaterais com lideranças.