Levantamento contratado pela TV Globo mostra cenário estável entre líderes das pesquisas. Ciro Gomes com 7% e Simone Tebet com 3%. Margem de erro é de dois pontos percentuais
Com cenário de estabilidade nas intenções de voto dos presidenciáveis, a pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira indicou crescimentos nas rejeições e mudanças nos desempenhos por faixa de renda do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que pontuam à frente dos demais. A pesquisa, feita entre sexta-feira e domingo, durante os primeiros dias do horário eleitoral em rádio e TV e após as sabatinas realizadas pelo Jornal Nacional, mostra que Lula manteve 44% da preferência dos eleitores, enquanto Bolsonaro seguiu com os mesmos 32% do levantamento anterior, divulgado no último dia 15.
Foi também a primeira pesquisa do instituto feita após um período maior de tempo desde o início do pagamento do Auxílio Brasil, no dia 9 de agosto. O desempenho do petista recuou entre eleitores mais pobres e mais ricos, enquanto Bolsonaro teve ligeiro avanço nos dois grupos.
A pesquisa, contratada pela TV Globo, tem margem de erro de dois pontos percentuais, continua indicando um afunilamento da disputa presidencial, com apenas cinco candidatos pontuando com 1% ou mais. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) oscilaram positivamente um ponto, e figuram hoje com 7% e 3% das intenções de voto, respectivamente. Felipe D’Ávila (Novo) marcou 1%. Entre os candidatos que aparecem no horário eleitoral, pelo fato de seus partidos terem superado a cláusula de barreira, Soraya Thronicke (União) foi a única a não pontuar.
Em relação à possibilidade de a eleição ser decidida em primeiro turno, a pesquisa divulgada ontem pelo Ipec apresenta um cenário ainda mais incerto do que o levantamento realizado há cerca de duas semanas. O percentual total de entrevistados que disseram votar branco, nulo ou que não responderam recuou nesta pesquisa, passando de 15% para 13%. Isto impacta o cálculo de votos válidos, método utilizado pela Justiça Eleitoral para definir o resultado das eleições, mesmo sem ter ocorrido alterações nas intenções de voto dos candidatos na dianteira. Lula, que tinha 51% dos votos válidos na pesquisa anterior, agora aparece com 50%, desempenho que não garante vitória em primeiro turno. Bolsonaro chega a 37% nesse desenho.
Recuo nos dois extremos
Em que pese a estabilidade no quadro geral, houve movimentos de Lula e Bolsonaro em alguns segmentos considerados pontos-chave para o resultado da disputa presidencial. Entre os mais pobres, com renda familiar mensal de até um salário mínimo, Lula apareceu com 54% na pesquisa divulgada ontem, ante 60% registrados no levantamento anterior. O ex-presidente ainda tem sua principal base de votos no eleitorado de menor renda, que constitui o grosso do público-alvo do Auxílio Brasil — não à toa, Lula manteve 52% das intenções de voto entre pessoas que declararam ser beneficiárias de programas sociais, contra 29% para Bolsonaro. Mas o peso deste grupo no eleitorado do candidato do PT ficou diluído, em parte pelo avanço de Lula nas faixas de renda intermediárias.
No estrato dos que recebem de dois a cinco salários mínimos mensais, em que Lula aparecia com 32% na última pesquisa, o desempenho do petista hoje é de 39%, segundo o Ipec. Bolsonaro, por sua vez, passou de 41% para 37% neste segmento.
A pesquisa foi realizada após o início do pagamento do benefício mínimo de R$ 600 do Auxílio Brasil e do auxílio-gás bimestral de R$ 120. O aumento do primeiro e a criação do segundo são apostas de Bolsonaro para melhorar seu desempenho entre eleitores mais pobres. Por ora, o Ipec identificou uma oscilação positiva para o presidente neste grupo, passando de 20% para 22%, e uma ligeira variação também entre os eleitores com renda superior a cinco salários mínimos. Entre os mais ricos, Lula teve seu maior recuo no levantamento, e hoje registra 28% da preferência.
Lula e Bolsonaro tiveram percentuais superiores de rejeição nesta pesquisa, em comparação ao levantamento do dia 15. Bolsonaro, que lidera o quesito, passou de 46% para 47%. A rejeição a Lula aumentou três pontos, e hoje 36% dizem não votar no petista “de jeito nenhum”.
Preferência evangélica
No recorte por região, Bolsonaro chegou a 25% da preferência entre eleitores do Nordeste, desempenho três pontos acima ao da última pesquisa. Lula, contudo, se manteve com 57% das intenções de voto na região, que tem quase metade (9,2 milhões) dos beneficiários do Auxílio Brasil. No Sudeste, região que concentra quatro em cada dez eleitores do país, a situação se manteve estável, com Lula marcando 39%, contra 33% de Bolsonaro.
Bolsonaro também consolidou sua preferência entre os eleitores evangélicos, chegando a 48% das intenções de voto neste grupo, um ponto acima do levantamento anterior. Lula, por sua vez, recuou de 29% para 26%. O início oficial da campanha, há duas semanas, foi marcado por discursos de pastores e parlamentares da bancada evangélica próximos a Bolsonaro com ataques ao petista, incluindo acusações falsas de que o ex-presidente teria a intenção de fechar igrejas.
Os dados do Ipec sugerem ainda que a rejeição ao governo é um dos principais obstáculos à campanha de Bolsonaro, que procurou nos primeiros dias de horário eleitoral trocar o discurso de ataques às instituições e a adversários por uma apresentação sobre medidas implementadas durante sua gestão, como o Pix e o próprio Auxílio Brasil. Segundo a pesquisa, embora tenha crescido a avaliação positiva à gestão — passando de 26% para 31% —, 43% consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, percentual igual ao do levantamento anterior.