Assessor de Gabriel Monteiro diz à polícia que levou pílula do dia seguinte para a menor gravada fazendo sexo com o vereador

Outro funcionário revelou que Gabriel falava para todo mundo que a adolescente tinha 15 anos e que ele a chamava de “minha novinha”. Em depoimento, o vereador afirmou que a menina lhe disse ter mais de 18 anos.

Continua após a publicidade..

Em depoimento à polícia, um ex-assessor de Gabriel Monteiro (PL) afirmou que já levou uma pílula do dia seguinte para a adolescente de 15 anos que aparece em um vídeo de sexo com o vereador.

Segundo Fabio Neder, o comprimido foi deixado na caixinha de correio da casa da garota. O ex-funcionário não especificou quando essa entrega foi feita.

Neder disse ainda que a menor costumava frequentar a casa de Gabriel e que ela ficava estudando, até com roupa de colégio.

Continua após a publicidade..

Já Robson Coutinho, que ainda é nomeado no gabinete do ex-PM, contou à polícia que Gabriel falava para todo mundo que a adolescente tinha 15 anos e que ele a chamava de “minha novinha”. Em depoimento, o vereador afirmou que a menina lhe disse ter mais de 18 anos.

Gabriel Monteiro (PL) foi alvo, nesta quinta-feira (7), de uma operação da polícia que apura o vazamento desse vídeo.

Entre os objetos levados pelos agentes da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) estão 8 armas, 23 computadores e 17 celulares. A lista de 123 itens inclui um carro e até um cofre.

Gabriel pode responder por distribuir material pornográfico envolvendo menores (Artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente). A pena chega a seis anos de prisão mais multa.

‘Troféus’

Um de seus assessores afirmou à polícia que Monteiro mostrava vídeos de sexo com menores “como se fossem troféus”. “Ele tinha o hábito de fazer brincadeiras, dizendo que iria abrir uma creche e que mulheres de 20 anos de idade já seriam velhas”, disse o homem à polícia. O assessor também afirmou que já presenciou meninas “saindo de lá [casa dele] chorando, aparentando ter sido estupradas”.

Desde o fim de março que Gabriel Monteiro é alvo de denúncias de ex-funcionários que relaram episódios de assédio moral e sexual e agressões físicas. Eles também afirmaram que alguns dos vídeos postados nas redes sociais do vereador foram forjados — como é o caso de um vídeo que mostra um funcionário de Gabriel Monteiro orientando um morador de rua a simular furto e depois sofrendo abordagem do vereador.

As denúncias foram feitas em uma reportagem do Fantástico, exibida no dia 27 de março. O Conselho de Ética da Câmara decidiu, em 5 de abril, abrir uma representação disciplinar contra o parlamentar, o que pode resultar na cassação do mandato dele.

A seguir, veja o que se sabe sobre o caso:

  1. De quem são as denúncias?
  2. Quais são as acusações?
  3. Qual a acusação envolvendo a adolescente de 15 anos?
  4. Como era o suposto assédio sexual?
  5. Por que Gabriel é acusado de estupros?
  6. Como eram as agressões físicas?
  7. Como era o assédio moral?
  8. De que forma os vídeos eram forjados?
  9. Como foram as buscas na casa de Monteiro?
  10. O que o assessor e outras testemunhas disseram à polícia?
  11. O que diz o especialista ouvido pelo Fantástico sobre os vídeos?
  12. O que diz o Ministério Público sobre o vídeo com a criança?
  13. O diz a Câmara Municipal do Rio sobre as denúncias?
  14. O que diz o vereador em sua defesa?

1. De quem são as denúncias?

As denúncias foram feitas por servidores, ex-funcionários e uma mulher que diz ter mantido relações sexuais à força com o vereador (entenda caso a caso abaixo).

2. Quais são as acusações?

Assédio moral, assédio sexual, estupro e agressões físicas. Há ainda denúncias de cenas de vídeos forjadas no YouTube, como tiroteios ou a ajuda a uma criança carente, e de irregularidades no funcionamento de seu gabinete na Câmara Municipal. E também há o caso de um vídeo que mostra um funcionário de Gabriel Monteiro orientando um morador de rua a simular furto e depois sofrendo abordagem do vereador.

3. Qual a acusação envolvendo a adolescente de 15 anos?

Em depoimento à Polícia Civil, testemunhas afirmaram que o vereador sabia que a menina que aparece em um vídeo íntimo com ele era menor de idade. Outra testemunha afirmou ainda à polícia que a menina costumava ir para a casa de Gabriel Monteiro com uniforme escolar, e que o vereador costumava divulgar “a sua preferência por se relacionar com menores de idade”.

Inicialmente, Gabriel Monteiro e a adolescente alegaram que tanto a relação íntima quanto a gravação do vídeo foram autorizadas pelas duas partes. Gabriel Monteiro afirmou ainda que a jovem teria dito a ele que era maior de idade. A jovem de 15 anos, acompanhada da mãe, e o próprio vereador foram à 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) para abrir um registro de ocorrência sobre o caso no fim de março. Na delegacia, a mãe da adolescente disse que o ato entre a filha e o vereador foi consensual.

4. Como era o suposto assédio sexual?

Beijos e abraços sem consentimento, cenas constrangedoras, carinhos “em todas as regiões do corpo”, inclusive na região genital.

Mateus Souza, um assessor, contou que pedia para Gabriel parar, sem sucesso. “Inúmeras vezes ele começava a fazer alguns atos, eu pedia para parar e ele não parava”. Segundo ele, o vereador pedia que ela ficasse fazendo carinho nele.

Luíza Batista foi assistente de produção de Gabriel Monteiro. “Ele me abraçava por trás, ‘te amo’, beijava o meu rosto, saía de pênis ereto. Cansou de passar a mão na minha bunda”, narrou. Ela registrou queixa na polícia por assédio sexual e importunação sexual.

Um funcionário contou que era obrigado a cumprir expediente na casa de Gabriel, onde presenciou cenas constrangedoras. “Várias vezes ele foi na parte da frente da varanda da casa, e em outros cômodos a gente já viu também, com o órgão sexual para fora. E se vangloriando do tamanho do pênis. E mesmo se masturbando na frente de toda a equipe”, descreveu.

5. Por que Gabriel é acusado de estupros?

Ao Fantástico, uma mulher que não quis ser identificada fez uma uma acusação de estupro contra Gabriel Monteiro. Segundo ela, a relação começou consensual, mas ela pediu para ele parar (o que não aconteceu).

“A gente sempre frequentou as mesmas festas na adolescência. E decidimos ficar. Logo depois, nós dois decidimos ir pro carro dele que estava do lado da casa de festas. Estacionado. E começamos o ato sexual, até então consentido, porém, até um certo momento em que ele começou a me dar tapas, socos, a me filmar com o telefone. O tempo inteiro eu empurrava o celular, mas ele, mesmo assim, me filmava, tentava filmar minhas partes e meu rosto. Eu comecei a gritar muito e ele pegou a arma e colocou a arma no freio de mão. Próximo ao freio de mão. E eu comecei a me debater, me debatia. Só que ele conseguiu fazer a penetração, tudo, sem camisinha. E, um certo momento, ele colocou a arma na minha cabeça mandando eu ficar quieta”, relata.

6. Como eram as agressões físicas?

Ex-funcionários afirmam que foram expostos a tapasgolpes com pedaço de pau e tentativas de enforcamento. O material bruto de um vídeo mostra agressões e discussões durante a filmagem.

Em um dos trechos é possível ver um diálogo entre Gabriel Monteiro e um servidor:

  • Gabriel: “Cala a boca. Cala a boca”.
  • Renato: “Por causa do prego”.
  • Gabriel: “O prego tá aqui”.
  • Renato: “Não é assim, cara”.
  • Gabriel: “Para de falar. Te furou?”
  • Renato: “Não, mas doeu.”

Muitas vezes, eles dizem que ficaram feridos.

  • Gabriel: “Machucou?”
  • Renato: “Lógico.”
  • Gabriel: “Machucou nada.”
  • Renato: “Claro que machucou.”
  • Gabriel: “Eu bati no seu pé.”

Em resposta às acusações, Gabriel Monteiro disse que se tratava de “brincadeira e uma encenação”.

7. Como era o assédio moral?

Ex-funcionários relatam “pressão psicológica, xingamentos e humilhação” na rotina do trabalho. Dizem também que muitas vezes não podiam nem parar para o almoço.

“Muitas vezes a gente falava: ‘Gabriel, posso comer?’, e ele respondia: ‘Não, termina o vídeo aí rapidinho’. Passava duas, três, quatro horas, e ele falava: ‘Agora vamos gravar na rua’, e aí não tinha mais como comer”, contou Mateus Souza.

8. De que forma os vídeos eram forjados?

Os ex-funcionários dizem que era Gabriel Monteiro que encenava e “dirigia” o que era filmado (os vídeos eram postados em seu canal no YouTube). Com ajuda de policiais militares, simulou ações de tiroteio e chamou a polícia, orientando o que seria relatado aos oficiais que chegassem.

Em outro vídeo, Gabriel é visto instruindo uma criança a dizer que está sem comida. Na versão editada, publicada em suas redes sociais, ele leva a menina ao shopping, que diz que “está comendo o que mais gosta” (veja acima).

Outro vídeo, obtido pelo g1, mostra um homem em situação de rua sendo orientado a simular o furto de uma bolsa na Lapa, na Região Central do Rio. Depois de fazer isso, ele é abordado pelo vereador, que o questiona pelo ato. Pouco tempo depois, um segurança empurra a pessoa em situação de rua no chão. Gabriel Monteiro afirmou que o vídeo era um “experimento social”.

Em um outro caso, prints de mensagens mostram a ideia de Gabriel de mudar a estética’ de um garoto morador de rua. “‘Cabeludo, em estado precário”, afirmou o vereador.

Gabriel foi acusado também de forjar um ataque a tiros contra o seu carro em Quintino, na Zona Norte.

9. Como foram as buscas na casa de Gabriel Monteiro?

Gabriel Monteiro foi alvo de uma operação da Polícia Civil do RJ no dia 7 de abril, dentro do inquérito sobre o vazamento de um vídeo íntimo em que ele aparece fazendo sexo com uma adolescente de 15 anos. Agentes da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) cumpriram mandados de busca e apreensão contra Gabriel e outras seis pessoas, entre assessores e ex-funcionários. Não teve mandados de prisão, mas, por volta das 8h30, o vereador esteve na 42ªDP (Recreio) para prestar esclarecimentos. Na casa dele a polícia apreendeu vários documentos e equipamento.

Entre os endereços visados estavam a casa do vereador, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, e o gabinete dele na Câmara de Vereadores, no Centro do Rio.

10. O que o assessor e outras testemunhas disseram à polícia?

Um dos assessores de Gabriel Monteiro afirmou à polícia que o chefe mostrava vídeos de sexo com menores “como se fossem troféus”. O g1 teve acesso ao depoimento desse funcionário, que pediu licença médica em janeiro “após crise de transtorno de ansiedade”. “Gabriel tinha o hábito de ficar exibindo vídeos íntimos, dele mantendo relações sexuais com outras mulheres, maiores ou menores de idade, como se fossem ‘troféus'”, disse o assessor em depoimento.

Também em depoimento, testemunhas afirmaram que o vereador sabia que a menina era menor de idade, e que ainda contava a pessoas ao seu redor que ela tem 15 anos. Outra testemunha afirmou ainda à polícia que a menina costumava ir até a casa de Gabriel Monteiro com uniforme escolar, e que o vereador costumava divulgar “a sua preferência por se relacionar com menores de idade”.

11. O que diz o especialista ouvido pelo Fantástico sobre os vídeos?

Um especialista ouvido na reportagem diz que há diversas violações ao Estatuto da Criança e Adolescente, e que é preciso investigar as acusações de submeter a criança a vexames e constrangimento.

Uma perita analisou o material e concluiu que o material bruto e editado são “incompatíveis”.

“Várias vezes ele orienta ‘vai para lá, filma a favela’. Ele orienta como gravar, onde gravar. Orienta a posição das pessoas. Não parece realmente que ele está sob forte emoção ou numa determinada ação ou atitude ameaçadora”.

12. O que diz o Ministério Público sobre o vídeo com a criança?

O Ministério Público abriu um inquérito para investigar se Gabriel Monteiro violou direitos de criança que apareceu no vídeo do shopping.

Segundo o órgão, “poderão ser adotadas medidas para a remoção do vídeo das mídias sociais”, e também é possível que o vereador seja processado por dano moral coletivo.

13. O diz a Câmara Municipal do Rio sobre as denúncias?

Conselho de Ética se reúne para discutir denúncias contra Gabriel Monteiro  — Foto: Nicolás Satriano/g1 Rio
Conselho de Ética se reúne para discutir denúncias contra Gabriel Monteiro — Foto: Nicolás Satriano/g1 Rio

O Conselho de Ética da Câmara abriu um processo ético-disciplinar contra o vereador Gabriel Monteiro nesta terça-feira (5), por decisão unânime dos sete vereadores que compõem a Comissão.

O processo pode levar à cessação do mandato do político e ex-PM, alvo de várias denúncias.

Os próximos passos na Câmara:

  1. A representação é dirigida à Mesa Diretora, que analisa seus requisitos formais e a encaminha, no prazo de três dias úteis, à Comissão de Justiça e Redação.
  2. Ao receber a representação, a Comissão de Justiça e Redação analisa, em até cinco dias úteis, se a peça processual contém algum vício jurídico.
  3. Caso a representação seja aceita pela maioria de seus membros, a Comissão de Justiça e Redação a encaminha ao Conselho de Ética;
  4. Ao receber a representação, o Conselho de Ética sorteia um relator, que cita o vereador representado, no prazo de cinco dias.
  5. O relator abre o prazo de dez dias úteis para o vereador apresentar defesa escrita e provas;
  6. Apresentada a defesa, tem início a fase de instrução do processo, pelo prazo de até 30 dias úteis, prorrogáveis por mais 15 dias;
  7. Finalizada a instrução, o relator dá parecer em até cinco dias úteis, concluindo pela procedência da representação ou pelo seu arquivamento;
  8. Caso o parecer seja pela procedência da denúncia, é aberto prazo de cinco dias para apresentação de alegações finais pela defesa do acusado;
  9. O parecer do relator é submetido à deliberação do Conselho de Ética em até cinco dias úteis, considerando-se aprovado se obtiver a maioria absoluta dos votos dos seus integrantes;
  10. Concluída a tramitação no Conselho, com parecer favorável à denúncia, o processo é encaminhado à Mesa Diretora e incluído na Ordem do Dia;
  11. A punição é deliberada em votação aberta no Plenário, com direito a fala dos parlamentares e da defesa durante a sessão, decidida por dois terços dos vereadores (34 votos) em caso de cassação ou maioria absoluta em caso de suspensão.

14. O que diz o vereador em sua defesa?

Gabriel Monteiro negou as acusações de assédio e estupro. “Eu não cometi estupro contra ninguém. É mais uma tentativa de acabar com Gabriel Monteiro”, defendeu-se o político.

Sobre o vídeo com a criança, o vereador disse que a família da menina recebeu uma “vaquinha”. Em nota, o Youtube afirmou que as regras do site não permitem vídeos que ponham em risco o bem-estar emocional e físico de crianças, e que vai avaliar as denúncias.

Em relação ao vídeo do tiroteio, Gabriel Monteiro afirmou que houve diversos disparos.

Após ser alvo de busca e apreensão em sua casa, o vereador Gabriel Monteiro disse que “já de antemão, não encontraram nada ilegal na minha casa, tudo perfeito”, declarou.

Fonte: G1