Blocos de carnaval vão às ruas no Rio de Janeiro neste domingo (8) marcando a abertura do carnaval não oficial da cidade. A programação começou pela manhã e segue até a noite. Depois de dois anos de pandemia, os foliões voltam a ocupar as ruas.
“Eu acho que, acima de tudo, ocupar as ruas que é algo que o carnaval sempre se propôs e acho que todo mundo está contando que esse ano vai ser melhor, tem esse movimento. É meio que um alivio depois de quatro anos de governo Bolsonaro e depois de pelo menos dois anos pandemia”, diz o economista Bruno Oliveira, de 32 anos.
O evento que tem à frente o movimento Desliga dos Blocos, que se formou para ser uma manifestação livre dos foliões. Os grupos que se apresentam não fazem parte do calendário da Riotur. Mesmo sem recomendação da prefeitura do Rio, em consequência da covid-19, alguns deles saíram às ruas na data oficial no ano passado, que seria em fevereiro, e também no carnaval fora de época em abril, quando ocorreram os desfiles das escolas de samba. Agora, os blocos voltam livremente.
Vestida de malévola, a aeroviária Karina Soares, de 33 anos, estava muito feliz de voltar às ruas. Amante de carnaval, esta é a primeira vez que ela e o marido, o empresário Artur Oliveira, de 43 anos, levam os filhos para a festa. Núbia, de 2 anos, saiu vestida de circense e Kalel, de 1 ano, de dinossauro dormia tranquilo no carrinho.
“A gente ama carnaval. No último, eu estava gravida da Núbia. Então, desde 2020 a gente não curte nada de carnaval. A gente estava super na expectativa de curtir alguma coisa e encontro dos blocos é o que abre o carnaval no Rio”, diz.
Teve também quem veio de longe. O economista chileno Felipe Vial, de 30 anos, veio passar o fim de semana no Rio de Janeiro para a despedida de solteiro de dois amigos de escola. “Hoje pegamos o início do carnaval e gostamos muito, porque é democrático, tem todas as idades, todas as classes sociais dançando juntas. A pessoas são inclusivas, tem todos os corpos e sexualidades, tudo é bem-vindo no carnaval, todos se juntam e celebram a vida. A América Latina é o melhor lugar de festa do mundo”, disse o economista.
A aposentada Araci Dutra, de 75 anos, aproveitou o início dos festejos para comemorar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Com faixa vermelha, adesivos de campanha e com uma bolsa, com rostos de mulheres como a pintora mexicana Frida Kahlo, a filósofa, escritora e ativista estadunidense Angela Davis e a cantora argentina Mercedes Sosa, ela estava emocionada. “É muita emoção que estamos sentindo. Nosso país vai ser reconstruído. Eu sou brasileira e não desisto nunca. Estou na luta desde os tempos de ditatura e não quero que ditadura volte”, afirmou.
Vestida de onça, a vendedora Gracielia Nascimento, de 52 anos, estava animada para retomar as vendas de bebidas. “Estou achando que está bom, estão meio fracas as vendas, mas está pingando. Estava bem complicado [nos últimos anos], mas agora vai melhorar, com fé em Deus, todo mundo vai ganhar seu dinheirinho. Vamos nos divertir e voltar ao que era antes”, diz, e logo a entrevista foi interrompida para que foliões pudessem comprar caipirinhas.
O geógrafo Rafael Della Fávera, de 31 anos, vascaíno, aproveitou o carnaval para homenagear Roberto Dinamite, considerado o maior ídolo da história do Vasco, que faleceu hoje, aos 68 anos de idade. Ele estava com uma grande bandeira do time amarrada às costas.
“Eu fiquei muito emocionado, já tinha um tempo que estávamos vendo ele indo e voltando do hospital, mas, mesmo assim, quando chegou a notícia, eu fiquei muito, mas muito emocionado mesmo, eu chorei, fiquei emocionado”, disse. A bandeira serviu de ponto de encontro. “É legal como todo os vascaínos vieram conversar. Eu achei muito legal. É como se fosse ponto de encontro de escape dos vascaínos”.
Além de festejar e promover o encontro, o Desliga dos Blocos chama atenção para o cuidado com a cidade. O movimento preparou uma carta que alerta para a decadência do centro do Rio, considerado o berço da cultura carnavalesca carioca, que “acontece há séculos, independentemente de organização prévia, do mercado ou do poder público”. O movimento vê com preocupação o cenário atual da festa, que define como agonizante e pedindo socorro.