Presidente visitou neste sábado a exposição agropecuária Expointer, em Esteio, no Rio Grande do Sul
BRASÍLIA — No primeiro evento público após os atos antidemocráticos de 7 de Setembro e o recuo às críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro manteve o tom mais cauteloso visto na carta que escreveu com o ex-presidente Michel Temer. Em visita neste sábado a exposição agropecuária em Esteio (RS), o presidente afirmou em breve discurso que não se pode falar em Poder vitorioso após atos de 7 de Setembro.
— Não é para dizer se este ou aquele Poder saiu vitorioso, a vitória tem que ser do povo brasileiro, a vitória tem que ser de vocês porque somente assim a gente vai poder viver em harmonia — disse o presidente durante discurso.
Após receber a Medalha do Mérito Farroupilha, concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Bolsonaro pregou a pacificação e o diálogo, divergindo do tom belicoso dos atos de 7 de Setembro.
— Não podemos fazer as coisas a velocidade que muitos querem, a gente vai aos poucos redirecionando o futuro do nosso país. Temos Três Poderes que têm que ser respeitados e buscar sempre a melhor maneira de nos entendemos para que o produto de nosso trabalho seja estendido aos seus 210 milhões de habitantes.
No evento, disse que, aos poucos, o país está mudando e o “verde e amarelo”está substituindo outras cores. Bolsonaro estava vestindo uma jaqueta amarela com o símbolo do Banco do Brasil.
— No dia 7 de setembro eu fui apenas um na multidão. Tive a oportunidade da palavra por duas vezes e senti o calor da nossa população, senti os reais motivos pelos quais esse povo foi às ruas. Foi em primeiro lugar para realmente dizer que não aceita retrocesso — afirmou.
Bolsonaro, contudo, voltou a falar de um julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF): afirmou que não se pode permitir que as demarcações indígenas continuem de áreas que não eram ocupadas por estas populações antes da Constituição de 1988, o chamado marco temporal, pois disse que esse entendimento do ministros Edson Fachin “acabaria com a agronegócio”.
O presidente foi mais aplaudido no momento em que “reciclou” discurso antigo e afirmou que nunca defendeu medidas como lockdown ou toque de recolher na pandemia. Disse mais uma vez que até a Organização Mundial de Saúde (OMS), “que errou muito”, aprovou sua proposta de manter as atividades econômicas abertas. Essa sua interpretação dos parâmetros da OMS já foi contestada inclusive por integrantes do organismo internacional.
Ao falar aos agricultores, Bolsonaro disse que o agronegócio começou com Emílio Médici, terceiro presidente da ditadura militar. Segundo Bolsonaro , “a revolução começou por lá”.
Sem máscara, o presidente chegou ao Parque de Exposições Assis Brasil por volta de 11h. Mais uma vez causou aglomeração cumprimentando apoiadores. Este foi o primeiro evento de Bolsonaro com público desde o 7 de Setembro.
Bolsonaro, que na sexta-feira participou da cúpula virtual dos Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) mantendo o tom ameno e agradecendo a parceria com os chineses na vacinação contra a Covid-19.
Na quinta-feira, na retratação feita após chamar o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e dizer que não cumpriria mais suas decisões, o presidente afirmou que as ameaças ao Supremo foram feitas no “calor do momento”, que nunca teve “intenção de agredir” outros Poderes e que Moraes tem qualidades como “jurista e professor”. Em sua live semanal, também manteve o tom ameno que desagradou parte de seus seguidores.
Fonte: O Globo