Um mundo diferente e repleto de significados. Seja a partir de selos, latas, carros, TVs, gibis, LPs, obras de arte ou mesmo bonecos colecionáveis, há todo um universo de objetos que são reordenados pelos amantes das coleções.
Fran Welton, empresário e sócio proprietário da Geek Show Colecionáveis, loja especializada na venda de bonecos e personagens da cultura pop, acredita que o colecionismo está crescendo no mundo todo. E explica que os produtos que ele vende como os “action figures”- réplicas articuladas de grandes personagens de séries e filmes – são bem procurados no mercado.
“A gente tem preços de 50 reais a 50 mil reais. Digamos que o perfil maior seja de pessoas nerds, geeks, que gostam do universo geek de todas as idades. O que leva as pessoas a colecionar é, principalmente, a nostalgia. É aquela coisa de um quarentão como eu entrar numa loja e ver uma estátua, ou um “action figure” de um personagem que você via na sua infância ou aquele super herói que você leu todos os quadrinhos”.
Já o colecionador de estátuas e jogos Welliton Fernandes, acredita que o que leva as pessoas a colecionarem é a satisfação que os objetos proporcionam. “É o prazer que aquilo te dá de pesquisar, de encontrar, o valor que aquilo tem pra você”.
Com mais de 300 peças colecionáveis entre super-heróis e personagens de séries, ele tem orgulho de suas aquisições e faz um alerta para os colecionadores mais compulsivos: “Sempre vai ter alguém querendo ganhar muito dinheiro em cima de quem não tem muito conhecimento do mercado”. E acrescenta que “o limite tem que ser aquilo que não cause prejuízo para você e para outros aspectos da sua vida”.
Marijara Queiroz, professora de museologia da Universidade de Brasília, diz que na perspectiva pessoal não há muita diferença entre colecionar e acumular. “Todo colecionador é de certa forma um acumulador, mas nem todo acumulador é necessariamente um colecionador. O que diferencia é exatamente essa lógica classificatória, que em geral os colecionadores tem e o acumulador não”.
Para o colecionador de TVs antigas Alceu Massini, para fazer uma coleção é preciso ter “tempo disponível e espaço para guardá-la”. E brinca: “Porque não adianta você empilhar tudo ou colocar sua mulher para fora de casa para pôr televisor lá em cima da cama e outras coisas mais”.
Identificar, catalogar, organizar, categorizar os objetos de desejo. Esses são alguns dos caminhos trilhados pelos colecionadores. A artista plástica Betty Bettiol, apaixonada por arte, levou anos coletando raridades. “Foi uma aventura de uns 20 anos colhendo todo esse material rico da arte popular brasileira. O Brasil é maravilhoso! O povo simples, que produz, que fabrica obras de arte incríveis”.
As obras de seu acervo estão catalogadas no livro “Arte Brasileira na Coleção Bettiol”, que reúne peças que expressam a alma e a cultura brasileira. Trabalhos de Tomie Ohtake, azulejos de Athos Bulcão, esculturas de Alfredo Ceschiatti, mobiliário de Sérgio Rodrigues, xilogravuras de J. Borges, bonecas de barro de Dona Isabel e muitas outras peças. Sobre a sua vasta coleção, Bettiol ainda aspira outras realizações para a capital do país. “Quem sabe no futuro, se eu tiver tempo ainda de vida, a gente possa dar para a cidade um Museu de Arte Popular Brasileira?”
Uma outra paixão fez com que os caminhos do colecionador Davi Doca e do empresário e vendedor de discos Bruno Prieto se cruzassem. Foi o gosto por vinis. Para Prieto, os LPs se tornaram um produto mais alternativo. “São 103 fábricas no mundo. O vinil voltou com força total nos últimos 10 anos. No Brasil temos duas fábricas, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo, ambas com agenda para produzir vinil até junho de 2023”, esclarece.
Para Davi Doca, os vinis sempre tiveram uma importância afetiva. Ele conta como é escutar as obras musicais garimpadas ao longo dos anos. “O LP é diferente, né? Ele tem um som próprio quando você ouve numa boa pickup. É delicioso ouvir um bom disco, numa boa pickup”. Doca diz que já perdeu as contas de quantos vinis comprou e calcula que já tenha passado há tempos dos 25 mil LPs. E exibe com orgulho uma de suas raridades, o LP Radio Sessions de 1965 da banda The Who: “Esse disco do The Who é numerado. Ele traz uma numeração. Então só existem 1.000 (deles) no planeta. E eu sou um dos 1.000. Sou privilegiado’.
“Colecionar, preservar, reviver” é o tema do Caminhos da Reportagem que vai ao ar neste domingo (6), às 20h, na TV Brasil.
Equipe técnica:
Reportagem: Gracielly Bittencourt
Edição: Cintia Vargas e Ana Passos
Produção: Cintia Vargas, Claiton Miranda, Flávia Peixoto, Gracielly Bittencourt
Edição de imagens: André Eustáquio, Jerson Portela, Rivaldo Martins
Imagens: André Pacheco, Gilvan Rocha, Rogério Verçoza, Jefferson Pastori
Apoio de imagens: Rogério Simas
Auxilio Técnico: Alexandre Souza, Dailton Matos, Thiago Pinto, Rafael Calado, Ivan Meira