A Casa França Brasil inaugura na próxima segunda–feira (20), às 19h, a exposição Uns sobre os outros: História como corpo coletivo, que reúne 17 obras inéditas da artista Thelma Innecco. O projeto da artista foi um dos cinco selecionados pela edição 2020 do Prêmio Funarte Artes Visuais, nos editais O Diálogo entre o Patrimônio Histórico da cidade do Rio de Janeiro e Brasileiro presente nas Artes Visuais, na Arquitetura e nos Espaços Urbanos.
Em função da pandemia de covid-19, o projeto da exposição só pôde ser realizado este ano, tendo ficado 30 dias na Sala Funarte, em Belo Horizonte. Agora, a mostra permanecerá também 30 dias na Casa França Brasil, no Rio de Janeiro, onde poderá ser visitada até o dia 23 de janeiro, de quarta a domingo, das 12h às 20h. Mais informações estão disponíveis no site da Casa França Brasil. A exposição é gratuita e não há limite de idade.
Reflexão
Em entrevista à Agência Brasil, Thelma Innecco disse que desde 2011 trabalha na série de obras, tendo o barro como matéria-prima. O material é usado para refletir a humanidade e também constitui um ato de resistência, segundo avaliou a crítica de arte Ana Emília Lobo, doutora em arte e cultura contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e curadora da exposição.
As obras da vencedora do prêmio estão organizadas em três ambientes que refletem o ser humano em episódios da memória coletiva, tecendo comentários estéticos sobre as relações humanas, através de movimentos transversais ao tempo histórico. São esculturas em cerâmica de Corpos , os quais instalam manobras de questionamento sobre as relações humanas a partir das dessemelhanças. Afetos calorosos – coletivos e individuais – comungam do espaço com corpos serializados, eximidos de particularidades. Tal associação nos aproxima uns dos outros, nos faz recordar memórias íntimas, resgatando em nós o sentido de uma humanidade em curso”, afirmou Ana Emília.
“O que muito me inspirou foi a Chacina da Candelária. Daí, essa série começou a tomar um corpo, com Os Empilhados, com o empilhamento dos corpos, literalmente. Cenas urbanas foram me trazendo novas obras. A exposição é muito fruto dessa reflexão do mundo, de todos os tempos, refletindo a humanidade, seja ontem, hoje e como vamos viver”, comentou a artista plástica Thelma Innecco.
Vídeo
A mostra inclui um vídeo da cineasta inglesa Caren Moy, a quem Thelma pediu para inserir imagens com corpos de pessoas chegando ao Brasil em navios negreiros, aportando no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, com conexão com Bahia e Pernambuco. “A Caren fez um vídeo incrível, utilizando documentos e fotos.”
A cineasta e artista a elegeram um personagem chamado Bacaqua, escravo que conseguiu fugir, foi alforriado, e rumou para os Estados Unidos. “É o único escravo que a gente sabe que teve uma biografia sobre ele. É muito emocionante”.
Thelma Innecco resumiu: “Viajamos pela história. Esses corpos funcionaram muito bem”. O mestre em antropologia Fernando Batista, doutorando em cultura e sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), escreveu: “E a dor sob cujas ondas a arte de Thelma Inneco nos faz navegar ambiguamente é a mesma arte que nos porta a esperança.”
Para a artista plástica, trata-se de uma exposição positiva, emocionante e, com certeza, educativa. O vídeo é todo feito na Língua Brasileira de Sinais (Libras) também em inglês. A monitoria está sendo treinada para que algumas peças possam ser tocadas por deficientes visuais. “O vídeo é um convite à exposição”, disse Thelma.
A mostra é uma realização da Funarte, Ministério do Turismo e Secretaria Especial da Cultura, com produção de 8 Cultural e Galeria Modernistas.
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