A extensão da malha cicloviária da cidade de São Paulo equivale atualmente a 37,8% da meta de 1.800 quilômetros (km) prevista nos planos estabelecidos pela prefeitura da capital para o ano de 2028. A população de classe alta e branca tem sido privilegiada com mais infraestrutura cicloviária na cidade.
Os dados são da sexta Nota Técnica Políticas Públicas, Cidades e Desigualdades, produzida pelo Centro de Estudos das Metrópole (CEM), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os pesquisadores lembram que, em relação ao recorte de classe e raça, a população se distribui de forma desigual no acesso a oportunidades, ressaltando que pessoas negras não só têm menor renda, mas ocupam localizações da cidade que dão menos acesso a empregos por transporte público, se comparado a pessoas brancas da mesma classe social.
“O mesmo padrão é observado em relação à infraestrutura cicloviária: pessoas negras de classe baixa moram majoritariamente em regiões menos atendidas por essa infraestrutura, enquanto a classe alta branca se concentra nas regiões centrais e com maior infraestrutura cicloviária na cidade”, aponta o documento.
O levantamento revela que a renda dos moradores a 300 metros das ciclovias e ciclofaixas é 43% maior do que a média da cidade. No entorno das estações de bicicleta compartilhada a renda é 223% maior do que a média.
Da população que mora no entorno de 300 m do sistema de bicicletas compartilhadas, 74,6% têm carro, enquanto nas proximidades das ciclovias e ciclofaixas essa proporção é de 61,1%. A proporção média de toda a cidade é de 55,1%. “Um contrassenso observado é a ausência de ciclovias e ciclofaixas em áreas em que grande parte da população não possui automóvel”, avaliam os autores da nota.
A análise tem como base as medidas propostas pelo último Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo, de 2014, além dos instrumentos de planejamento relacionados ao sistema cicloviário de São Paulo como o Plano de Mobilidade do Município de São Paulo (PlanMob), o Plano Cicloviário 2020 e o Plano de Ação Climática (PlanClima 2021). São eles que expressam a meta de chegar a 1.800 quilômetros de malha cicloviária implantadas até 2028.
Segundo o mapeamento do CEM, atualmente a capital paulista conta com 649,4 km de ciclovias e ciclofaixas, além de 31,6 km de ciclorrotas, o que representa 37,8% da meta prevista. Ao analisar a distribuição de ciclovias, os pesquisadores observaram que “ela atende principalmente às regiões mais centrais da cidade, e as poucas estruturas em regiões periféricas estão, em sua maioria, desconectadas da malha principal ou mesmo de uma malha regional”.
Recomendações
Com base nas conclusões, os pesquisadores elaboraram recomendações em relação à implantação de infraestrutura cicloviária na cidade. São elas a inclusão de indicadores de desigualdade nos instrumentos de planejamento; implementação de programas aprovados e não implementados, como a regulamentação prevista do Programa Bike SP; e implementação da rede prevista para 2028, priorizando áreas com maior potencial para a redução de desigualdades no sistema cicloviário.
“Dentro da perspectiva da redução das desigualdades, sugerimos que as subprefeituras com maior desigualdade na distribuição da infraestrutura sejam priorizadas já a partir da expansão de 300 novos quilômetros prevista para acontecer entre 2021 e 2024”, recomendam os autores.
Já o Programa Bike SP, citado na nota técnica, prevê incentivo direto via créditos para quem escolher usar a bicicleta em vez de modos de transporte motorizados. No entanto, apesar de sancionado como lei em 2016, os pesquisadores alertam que o programa ainda não foi implementado e que, se aplicado, poderá estimular o uso da bicicleta por meio dos créditos e ampliar sua abrangência espacial.
A íntegra da nota técnica está disponível no site do Centro de Estudos das Metrópole (CEM).
A Agência Brasil solicitou posicionamento da prefeitura de São Paulo, mas não obteve retorno até a conclusão da reportagem.