Quem não se lembra do desfile “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, que deu à Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio o título de campeã do carnaval carioca de 2022? Pois o desfile campeão virou a exposição Laroyê, Grande Rio, que ocupará o Museu de Arte do Rio (MAR) a partir das 16h da próxima sexta-feira (15), com show da bateria e diversos segmentos da Grande Rio. A mostra gratuita ficará aberta ao público até o dia 3 de março de 2024, com visitação de quinta-feira a domingo, das 11h às 18h, sendo a última entrada às 17h. Laroyê, Exu é uma expressão usada como saudação à entidade Exu.
A mostra foi produzida pelo coletivo Carnavalize, em parceria com os carnavalescos da agremiação Leonardo Bora e Gabriel Haddad, e tem curadoria de Leonardo Antan, Luise Campos e Thomas Reis, com acompanhamento curatorial de Marcelo Campos, Amanda Bonan e Jean Carlos Azuos, da equipe MAR. Exu é o Orixá da comunicação e da linguagem. Entre outras atribuições, ele atua como mensageiro entre os seres humanos e as divindades. É cultuado no continente africano pelo povo iorubá, bem como em cultos afrodescendentes, como no candomblé baiano e no tambor de mina maranhense, entre outros.
Perenidade
“A tônica da exposição é olhar para esse desfile e entender como ele pensou Exu na sociedade e na arte, de maneira geral. A gente tem o trabalho dos carnavalescos, das peças que fizeram parte do desfile, como esculturas, fantasias, material fotográfico, os croquis, em contato também com obras do acervo do museu e obras de outros artistas contemporâneos que também pensam a comunicação e a linguagem de Exu”, disse Leonardo Antan nesta terça-feira (12) à Agência Brasil.
E completou: “Esse desfile pensa Exu como uma forma de pensamento, uma porta filosófica, de entendimento de mundo. É isso também que a gente faz na exposição”. A ideia é alargar o contato do desfile e suas possibilidades com a arte, com a cultura e o que isso relata para o tempo atual.
O objetivo, segundo confirmou Antan, é que a narrativa carnavalesca passe a ter maior amplitude na sociedade. “Um desfile de escola de samba é uma visão de Brasil, um discurso de Brasil. E, sobretudo, desse discurso muito poderoso de Exu sobre a nossa sociedade e do que nos forma enquanto país”.
De acordo com o curador, o entendimento é que uma escola de samba é um acontecimento de arte e que também faz parte de um museu, ultrapassando o tempo de 75 minutos que a agremiação dispõe para passar na avenida. “Então, a gente amplia a ideia do desfile. Embora tudo que é produzido para um desfile aconteça na Passarela do Samba, quando as peças são deslocadas para o museu isso dá novo entendimento e propõe um novo olhar para elas. A gente quer propor esse olhar mais calmo, mais pausado, para esse desfile que ressoou tanto na sociedade e na mídia. É um desfile que não terminou quando acabou na Sapucaí. É um desfile que fica na cultura, na arte e que ainda ressoa. O que a gente está fazendo é mais um ressoar, mais uma etapa da eternidade desse desfile”, concluiu Antan.
Inspiração
Entre os artistas convidados que serviram de inspiração para o trabalho dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora destacam-se Mulambo, Cety Soledade, Guilherme Kid e Ju Angelino, que compõem o time de artistas que mostram a atualidade e a ressonância do cortejo na sociedade contemporânea.
A exposição procura também discutir a essência da divindade Exu para além do preconceito e da visão comum de que o orixá estaria associado ao diabo na cultura ocidental. O carnavalesco Leonardo Bora afirma que ocupar um espaço tão importante como o Museu de Arte do Rio com uma exposição pensada a partir de desfile de escola de samba cujo enredo exaltou (“e continua a exaltar”) as potências de Exu, “complexo divino tão demonizado devido ao racismo religioso, é algo que nos enche de orgulho, força e alegria”. Bora deseja que as narrativas carnavalescas e as visualidades das agremiações sambistas possam ocupar cada vez mais espaços, “ levantando discussões e causando faíscas”.