Presidente atacou prefeito de São Paulo por ida ao Maracanã em fevereiro deste ano, durante a pandemia. À época, tucano enfrentava reincidência do câncer. Ele morreu poucos meses depois.
Tomás Covas chamou de covarde a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre seu pai, Bruno Covas, nesta terça-feira (3).
Na segunda-feira (2), Bolsonaro afirmou a apoiadores na porta do Palácio do Planalto, em Brasília, referindo-se a Covas: “O outro, que morreu, fecha São Paulo e vai assistir a Palmeiras e Santos no Maracanã”. Em janeiro, o então prefeito de São Paulo foi ao Rio de Janeiro assistir à final da Libertadores entre Santos e Palmeiras no Maracanã com Tomás, seu filho.
Nesta terça-feira (3), a coluna da jornalista Monica Bergamo na Folha de S. Paulo trouxe as reações à declaração de Bolsonaro. Em mensagem ao jornal, Tomás disse:
“Lamento a fala dita hoje pelo incompetente e negacionista presidente Bolsonaro. Em uma fala covarde hoje durante a tarde, ele atacou quem não está mais aqui conosco, não dando o direito de resposta ao meu pai. Além disso, cumprimos com todos os protocolos no estádio do Maracanã, utilizando a máscara e sentando apenas nas cadeiras permitidas”, afirmou ele em mensagem enviada à coluna.
“Meu pai sempre foi um homem sério e fez questão de me levar ao Maracanã no fim da sua vida para curtirmos seus últimos momentos juntos. Isso é amor! Bolsonaro nunca entenderá esse sentimento”, completou.
Na época em que esteve no estádio, Covas chegou a ser criticado nas redes sociais, e respondeu com post em uma rede social, dizendo que tinha cumprido todos os protocolos de segurança e que, depois de incertezas sobre a vida por causa da doença, quis usufruir de um prazer ao lado do filho:
“Respeitamos todas as normas de segurança determinadas pelas autoridades sanitárias do RJ. Mas a lacração da Internet resolveu pegar pesado”, escreveu.
“Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim. Ir ao jogo é direito meu. É usufruir de um pequeno prazer da vida. Mas a hipocrisia generalizada que virou nossa sociedade resolveu me julgar como se eu tivesse feito algo ilegal.”
Covas morreu poucos meses depois, em maio, vítima de complicações do câncer, após 14 dias de internação.
Em entrevista, o filho de Covas falou sobre o último jogo que assistiu ao lado do pai. Assista aqui:
A fala de Bolsonaro repercutiu também entre políticos nas redes sociais e por meio de divulgação de notas à imprensa. Nesta terça-feira, Ricardo Nunes (MDB) e atual prefeito de São Paulo defendeu Covas em nota.
“São Paulo ainda sofre com a perda do prefeito Bruno Covas e com o sentimento de dor vê uma fala agressiva, desnecessária e desleal com quem sequer pode se defender, e sempre agiu corretamente no combate à pandemia.”
O presidente do Diretório Municipal do PSDB-SP, Fernando Alfredo, disse em nota que condena veementemente as declarações de Bolsonaro sobre Bruno Covas “e por seu exemplo seguiremos lutando pela vida, contra a política do ódio”.
“Para todo ato de covardia, resistiremos com a coragem de um povo que não foge à luta. Por Bruno Covas. Pela democracia. Por um Brasil livre da estupidez.”
Veja a repercussão nas redes sociais sobre a fala de Bolsonaro:
Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem Brasileira dos Advogados (OAB)
“Digo há muito tempo que Jair Bolsonaro é acima de tudo um covarde. A predileção pelo ataque aos mortos – como no caso do meu pai e agora com Bruno Covas – demonstra a extensão da sua falta de caráter e covardia. Minha solidariedade ao filho do Prefeito Bruno Covas.”
PSDB
“Bolsonaro não respeita os vivos, os mortos, as instituições, a democracia, o bom senso. Agora ataca até a memória de Bruno Covas, prefeito eleito por milhões de paulistanos.”
João Doria, governador de SP
“A desumanidade de Bolsonaro, agredindo de forma covarde Bruno Covas, só demonstra ainda mais sua falta de respeito pelos vivos e pela memória dos mortos.”
Rodrigo Garcia, vice-governador de SP
“A luta que o Bruno Covas travou contra o câncer é um exemplo pra todos nós. Zombar da morte e da dor de qualquer pessoa é desumano e cruel.”
Eduardo Leite, governador do RS
“O desrespeito com a memória de Bruno Covas escancara, de maneira lamentável, a crueldade do presidente e o seu desprezo pela vida e pelo ser humano.
Eduardo Paes, prefeito do RJ
“Minha solidariedade à família e aos amigos desse grande brasileiro e colega Prefeito de São Paulo Bruno Covas. Sua memória não será atingida por atos desse nível!”
Marcelo Freixo, deputado federal (PSB-RJ)
“Quero manifestar minha solidariedade à família do Bruno Covas, que ao contrário de Bolsonaro sempre foi um homem digno. As ofensas grotescas do presidente jamais estarão à altura da memória do Bruno.”
Randolfe Rodrigues, senador (Rede Sustentabilidade-AP)
“Bolsonaro é pequeno. É minúsculo. Não é digno da cadeira que ocupa, nunca será! Manifesto minha solidariedade à família do Bruno Covas. Bruno não merece ter seu nome e sua memória atacada por gente tão vil e sem empatia.”
Fonte: G1