A decisão é parte de uma nova abordagem das forças de segurança engajadas na caçada do ‘serial killer do DF’
A presença de policiais em circulação nas estradas de terra onde são realizadas as buscas por Lázaro Barbosa de Sousa, 32, foi reduzida.
Após duas semanas sem êxito em capturá-lo, a decisão é parte de uma nova abordagem das forças de segurança engajadas na caçada.
A fase inicial de buscas ao “serial killer do DF” foi marcada por um grande quantitativo de policiais na região do município de Cocalzinho de Goiás (GO). Mais de 200 agentes de Goiás e do Distrito Federal foram mobilizados para a tarefa.
Os responsáveis pela operação agora revêem estratégias. Nos últimos dias, a coordenação da força-tarefa passou a apostar em informações.
A reportagem percorreu as estradas do local nesta quarta-feira (23) e constatou que o número de viaturas em circulação estava bem menor. A perseguição ao acusado de matar uma família no DF entrou em seu 16º dia nesta quinta (24) .
O vaivém de carros da polícia já não era o mesmo dos dias anteriores. Helicópteros das forças de segurança reduziram os sobrevoos na área.
Menor efetivo em circulação, avaliam as autoridades, pode fazer com que o criminoso se movimente. Desde o final da semana passada não há mais relato de que ele tenha sido avistado.
Coordenadora da força-tarefa, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás disponibilizou um aplicativo para celular, pelo qual a população poderá fornecer pistas.
Os dados enviados por meio de denúncias são inseridos em um sistema que os cruza com imagens de satélites. O disque-denúncia por meio de WhatsApp segue funcionando, apesar da grande quantidade de trotes.
A SSP-GO reforçou também a comunicação das equipes com rádios de longo alcance cedidos também tanto pelo Exército como pela Polícia Federal.
Em nota, a secretaria rebateu especulações de que a força-tarefa tenha perdido o rastro de Barbosa, ampliando a área das buscas.
“O perímetro de atuação da força-tarefa continua o mesmo. A área operacional não foi aumentada”, afirmou a pasta.
Nas últimas 48 horas, como vem ocorrendo, policiais se dirigiram a algumas chácaras e fazendas para averiguar situações reportadas por moradores. Um fazendeiro relatou ter trocado tiros com um invasor, mas nada diz que tenha sido Barbosa.
Próximo dessa fazenda uma equipe do COD (Companhia de Operações de Divisas), da Polícia Militar de Goiás, fazia incursões na mata.
Um dos policiais classificou o caso de desafiador. De acordo com ele, bem antes da chacina ocorrida em Ceilândia (DF) e da fuga, o COD fora alertado sobre Barbosa, já considerado um foragido da Justiça.
O matador já era procurado na região. Com a atribuição de patrulhar as divisas do estado com o DF, a companhia tem experiência em fazer buscas em regiões de mata.
Nesta quarta à noite, o Tribunal de Justiça de Goiás negou uma liminar (decisão provisória) para que não sejam realizadas revistas domiciliares sem a devida formalidade legal nos templos e terreiros de umbanda e candomblé situados no local. Líderes religiosos acusam a polícia de truculência.
Além de apontar inconsistências formais no pedido, de autoria do Idafro (Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro), o relator Fábio Cristóvão de Campos Farias afirmou que, até prova em contrário, a polícia age de acordo com as prerrogativas legais.
“Na medida em que não restam dúvidas de que, em virtude da proporção que o caso Lázaro Barbosa tomou, existem ‘fundadas razões’ para o ingresso em qualquer moradia particular, órgão público, estabelecimento comercial, templo religioso de qualquer culto, inclusive no período noturno”, sem a necessidade de mandado judicial”, disse o integrante do TJ goiano.
A polícia procura Barbosa desde o dia 9 de junho, apontado como o responsável por assassinar um casal e dois filhos ao invadir uma chácara na zona rural do DF para roubar.
Cláudio Vidal de Oliveira, 48, Gustavo Vidal, 21, e Carlos Eduardo Vidal, 15, foram mortos no local. Os corpos estavam sob folhas para que não fossem vistos pelas buscas aéreas da polícia.
Cleonice Andrade, 43, foi levada como refém e seu corpo foi localizado três dias depois às margens de um córrego, sem roupas. De acordo com a polícia, a vítima foi executada com tiro na nuca.
Desde então, relatos apontam que ele invadiu outras propriedades no DF e em Goiás. Baleou moradores de uma chácara, fez reféns em outra. Trocou tiros com um funcionário de uma fazenda, roubou armas e veículos.
Além do quádruplo latrocínio (matar para roubar) em Ceilândia, é atribuída a ele uma tentativa do mesmo crime em 2020, ao invadir uma chácara em Goiás para roubar e atingir um idoso com um machado.
O fugitivo tem condenação por duplo homicídio na Bahia. É considerado foragido da Justiça também por crimes de estupro, roubo à mão armada e porte ilegal de arma de fogo, acusações que o levaram à cadeia em 2013 no DF.
Após três anos, progrediu para o regime semiaberto e fugiu. De acordo com informação da Secretaria de Administração Penitenciária do DF, ele não retornou ao sistema após uma saída temporária.
Em 2018, Barbosa foi capturado pela polícia de Goiás, mas conseguiu escapar novamente. Desde então, vinha sendo procurado pela polícia.
Existem contra ele atualmente quatro mandados de prisão cadastrados no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão), administrado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Fonte: O Tempo