Moradores da Grande SP estão preocupados com chuva forte prevista a partir de domingo; 18 morreram em Franco da Rocha

Casas foram interditadas e áreas de risco mapeadas. No total, 34 pessoas morreram no estado após temporais.

A previsão de chuva intensa a partir deste domingo (6) preocupa quem mora em cidades da Grande São Paulo que foram castigadas por deslizamentos de terra há uma semana.

Como é o caso de Franco da Rocha, que perdeu 18 moradores depois do temporal. Na sexta-feira (4), as últimas vítimas do deslizamento de terra foram resgatadas.

A Prefeitura diz que a cidade está com muitos pontos de atenção e risco para deslizamentos e que mais de 180 imóveis foram interditados.

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O coordenador do laboratório de gestão de risco da Universidade Federal do ABC diz que o poder público precisa desenvolver políticas contínuas para evitar ao máximo cenas como a da última semana.

“A evolução é muito lenta das politicas publicas de gestão de risco. Não é um problema da Defesa Civil, é problema dos governos, de como governos tratam seus problemas. Risco é um problema que tem que ser tratado antes do desastre”, diz.

Os impactos das chuvas também são visíveis na vizinha Francisco Morato. Casas foram interditadas pela Defesa Civil, mas muitos moradores ainda não conseguem ficar totalmente tranquilos com a chuva que se aproxima.

Um relatório da Defesa Civil Estadual, de 2020, identificou 172 áreas de risco em Francisco Morato, com 6,7 mil casas sujeitas a algum tipo de incidente. Oito em cada dez dessas áreas estão sob risco de deslizamento.

A aposentada Margarida Bispo de Barros mora na vizinha Francisco Morato há 35 anos e nunca viu nada parecido com as chuvas no último final de semana. Quatro pessoas morreram na cidade.

“Eu fiquei desesperada. pedindo a Deus pra parar. A gente tem que pensar não só na gente. Tem que pensar também no próximo.

18 vítimas

O Corpo de Bombeiros localizou na noite de sexta-feira (4) o corpo da última vítima que estava desaparecida em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, após os deslizamentos e desabamentos provocados pelas fortes chuvas do último domingo (30). Com isso, subiu para 18 o total de mortos na cidade e para 34, no estado.

O operador da escavadeira que colaborava com os bombeiros se emocionou quando a máquina colidiu com o corpo. Ele desceu do equipamento chorando, e foi apoiado pelos bombeiros, antes de voltar ao trabalho.

Outros dois corpos já haviam sido localizado nesta sexta. A maior parte das vítimas já foi identificada pelo Instituto de Criminalística.

Na quinta-feira, foram encontrados os corpos de um tio e sobrinho, de 36 e 10 anos, respectivamente. Eles eram parentes de Erotides Feliciano Santana, um dos sobreviventes do deslizamento.

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Veja as vítimas identificadas após deslizamento em Franco da Rocha. — Foto: Reprodução/TV Globo

A Defesa Civil informou na quinta que 5.548 estão famílias desabrigadas ou desalojadas no estado.

Em visita à cidade na manhã de quinta, o governador João Doria (PSDB) anunciou a liberação de mais R$ 3 milhões para Franco da Rocha, além dos R$ 5 milhões que já havia anunciado.

“Nós estamos deliberando e informando ao prefeito que vamos destinar mais R$ 1 milhão para o atendimento às vítimas e mais 2 milhões de reais para a recuperação da estrutura urbana da cidade e as necessidades pra que minimamente tenham condições pra reestabelecer”.

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Corpo encontrado em Franco da Rocha — Foto: Reprodução

Moradores em áreas de riscos

O parque Paulista não é a única área de risco de Franco da Rocha. Na comunidade Buraco do Sapo, no bairro Monte Verde, existem vários pontos de deslizamento de terra com casa embaixo.

“Temos muitos pontos críticos aqui na comunidade, áreas que não foram desabitadas pelos moradores. Estamos passando muita dificuldade, a gente precisa que alguém da Prefeitura venha aqui e tome providências”, afirma Lucas Reis, líder comunitária.

A filha de Rosângela mora com mais sete pessoas em uma casa que está bem próxima a uma área considerada de risco de desabamento. Todos estão domingo em um quarto que eles consideram mais seguro. “Está quase descendo tudo, vai chegar em um ponto que todo mundo vai morrer para a gente ser salvo?”, afirma Rosângela Aparecida dos Santos.

O Prefeito de Franco da Rocha, Nivaldo da Silva Santos (PSDB), informou que o valor liberado pelo governo estadual será utilizado prioritariamente para estabilizar a região do deslizamento no Parque Paulista.

“Existem obras que estamos fazendo o planejamento para executar. Obras de pequeno porte a própria Prefeitura arca, já as de grande porte vamos fazer o projeto e buscar recursos com o governo do estado e federal”, afirmou o prefeito.

Um estudo realizado em setembro de 2021,aponta que existem cerca de 70 áreas de risco intensificadas na cidade.

A Prefeitura de Franco da Rocha informou que a Defesa Civil realizou vistorias na comunidade Buraco do Sapo e irá fazer uma visita no local na sexta-feira (4). Disse também que o Centro de Referência de Assistência Social da região está aberto pra acolher famílias e que fez obras de contenção de encostas na região e outras pequenas de drenagem, nos últimos anos.

Casas interditadas

Foram interditadas 62 casas próximas ao local dos deslizamento e os moradores aos poucos vão retirando o que a enxurrada não levou. Na manhã de domingo, a Andreiuza só teve tempo de correr levando o filho de 7 anos e os documentos. Ela está na casa de amigos, e agora espera a liberação do auxílio aluguel pra recomeçar a vida longe do local.

“Mesmo que a Defesa Civil libere, eu não tenho mais condições psicológicas de ficar aqui. Não tenho”, afirma Andreiuza dos Santos de Lima.

A Prefeitura de Franco da Rocha disse que deve pagar o auxílio aluguel no valor de R$ 400 a partir da próxima semana. Informou ainda que interditou 188 imóveis em toda a cidade depois da chuva do fim de semana e disse que esses imóveis não estão seguros com a previsão de chuva para os próximos dias e orientou que os moradores desses lugares deixem os imóveis e procurem abrigos municipais.

Fonte: G1