O Museu Virtual Rio Memórias completa dois anos ampliando seu acervo com três novas galerias, que se somarão às quatro já existentes. A primeira das novas galerias, intitulada Rio, Cidade Febril, será inaugurada hoje (24) durante live (transmissão em tempo real pela internet) que contará com as participações da historiadora Heloísa Starling, também curadora da galeria, do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Sidney Chalhoub; e de Danilo Marques, do Projeto República, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No espaço, haverá informações sobre as doenças e epidemias que assolaram a capital fluminense desde antes de sua fundação, como a varíola, que chegou com os portugueses e franceses e dizimou boa parte da população indígena local; passando pela gripe espanhola, febre amarela, a epidemia de Aids até a pandemia de covid-19. O lançamento pode ser acompanhado pelo YouTube, às 18h.
“Tudo isso é muito bacana a gente estudar e pensar, por exemplo, como a população lidou com todas essas epidemias e doenças e como os governos lidaram, em cada um desses momentos, com campanhas de vacinação totalmente bem-sucedidas, como a da poliomielite, da varíola. É interessante ver, a cada governo, como isso aconteceu”, destacou, em entrevista à Agência Brasil, a diretora e curadora do museu, Livia de Sá Baião.
A segunda das novas galerias, denominada Rio, Cidade em Transformação, tem seu lançamento previsto para o dia 1º de julho, no mesmo horário. O tema será o desenvolvimento urbano da cidade desde sua fundação, no Morro Cara de Cão, até hoje, passando pelo Morro do Castelo que já não existe mais, as ocupações dos morros de São Bento e da Conceição.
Já a terceira galeria, Rio Cinético, com lançamento no dia 8 de julho. é uma parceria com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), e vai exibir curtas-metragens com imagens quase inéditas do Rio de Janeiro, com durações de nove e dez minutos.
“A proposta é incendiar a memória das pessoas para mostrar como era o Rio. Tem imagens lindas do Passeio Público antes do Aterro do Flamengo; as pessoas andando nas ruas, os homens viajando de bonde de terno e gravata, chiquérrimos, totalmente diferente de como é hoje”, apontou a diretora.
Podcasts
A partir de julho, conteúdos de algumas galerias começarão a ser lançados em podcasts (programas de áudio sob demanda que o ouvinte escuta quando quiser). “A gente vai ter um podcast a cada sexta-feira, com conteúdo das galerias”, disse Lívia.
A primeira temporada do podcast Rio Memórias, com seis episódios e lançamento previsto para 15 de julho, terá informações da galeria Rio de Conflitos, que foi lançada em 2020. O primeiro episódio será sobre a Revolta da Vacina.
“A gente escolhe os episódios que acha que cabem no formato sonoro, porque tem temas que são mais difíceis de colocar em podcast.”
Os programas são resultado de uma rica pesquisa de texto e áudio que inclui entrevistas com pesquisadores e uma reconstrução sonora minuciosa da época.
Mostra de cinema
A parceria com o MAM vai resultar também na Mostra de Cinema Rio Desaparecido, evento paralelo ao 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA 2021).
Serão exibidos três documentários, sendo um deles inédito, e haverá debates com historiadores, arquitetos e cineastas sobre as transformações urbanas ocorridas no Rio de Janeiro.
Os filmes estarão disponíveis entre os dias 15 e 20 de julho no Vimeo e os debates serão realizados nos dias 19, 20 e 21 do mesmo mês, com transmissão simultânea no YouTube do MAM e no YouTube do Rio Memórias.
A Cinemateca do MAM Rio vai disponibilizar os filmes Crônica da demolição e O desmonte do monte, que tratam, respectivamente, da demolição do Palácio Monroe, antigo prédio do Senado Federal no Rio de Janeiro, decretada pelo presidente Ernesto Geisel no período militar; e a história do Morro do Castelo, seu desmonte e arrasamento.
A Cinemateca Belga trará o inédito Nossos Soberanos no Brasil, que narra a visita dos reis da Bélgica ao Brasil em 1920, envolvendo as cidades de Rio de Janeiro, Petrópolis, Santos, São Paulo e Belo Horizonte, com planos aéreos de grandes paradas, desfiles, exercícios militares.
“Tem imagens do Instituto Butantan incríveis, imagens da Quinta da Boa Vista, no Rio, nunca vistas. O filme não estava digitalizado. A gente, junto com a cinemateca, bancou a digitalização do filme e vai trazer então esse filme inédito durante a mostra”, informou Lívia Baião.
História
A curadora afirmou que a ideia do museu é contar as “histórias apagadas” do Rio de Janeiro, aquelas pouco conhecidas pela população em geral.
O Museu Virtual Rio Memória foi inaugurado em agosto de 2019 e desde seu início foi um projeto online, mas agora cresce em termos de alcance, visando atingir um número maior de pessoas, avalia a curadora.
Até este mês, o espaço contava com quatro galerias: Rio de Movimento, Rio Desaparecido, Rio de Sons e Rio de Conflitos. A primeira conta a história dos esportes no Rio, desde o frescobol, natação, remo, turfe, entre outros. O Rio de Conflitos, por outro lado, aborda os conflitos desde a Revolta da Vacina até os protestos de 2013.
Já o Rio de Sons une canções e barulhos, como o velho samba que toca em um botequim, o grito do ambulante que amola uma faca, o bloco de carnaval que passa na rua, o helicóptero que sobrevoa uma comunidade.
O Rio Desaparecido, por sua vez, fala das mudanças que acontecem na cidade do Rio, onde monumentos, edifícios e praças são erguidos e destruídos num piscar de olhos; profissões, lojas e hábitos desaparecem muitas vezes sem registros. Várias dessas narrativas foram recuperadas nessa galeria assim como a história de pessoas que tiveram suas vidas subtraídas de forma inesperada.