Imagens de peixes nadando no Rio Pinheiros, no trecho próximo à ponte Cidade Jardim, na capital paulista, foram divulgadas nos últimos dias em redes sociais e pelo governo do estado de São Paulo. A diretora da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, avalia que o aparecimento dos peixes é uma conquista de investimento de longo prazo na recuperação do rio e que a preservação de rios urbanos, como o Pinheiros, deve ser um programa permanente de estado.
“O saneamento, a despoluição dos nossos rios urbanos tem que ser um programa de estado, que não tem começo, meio e fim, tem que ser permanente, porque a dinâmica social na bacia, principalmente em uma cidade como São Paulo, é extremamente complexa”, disse Malu, que é especialista em políticas públicas e gestão de recursos hídricos.
Segundo Malu, uma conquista como essa não é resultado de curto prazo. Ela explica que se está colhendo os frutos agora dos investimentos que começaram na década de 1990, quando um jacaré apareceu no Rio Tietê e despertou nas pessoas a esperança de despoluir o Rio Tietê. “Com esses peixes é a mesma coisa, o ressurgimento de peixes em um rio extremamente poluído, em um ambiente extremamente insalubre como é ainda a margem do Pinheiros, desperta na gente essa esperança”, disse a especialista.
O Rio Pinheiros – que se estende pelas zonas Sul e Oeste da capital paulista – deságua no Tietê. Ele é um dos principais afluentes do Rio Tietê na Grande São Paulo e a melhoria das condições do Pinheiros terá impacto na melhoria da qualidade das águas também do Tietê. Em 2019, foi lançado o Programa Novo Rio Pinheiros, mas existe desde 1992 o Projeto Tietê, que também é um programa de saneamento ambiental.
“Os afluentes que chegam ao Rio Pinheiros e estão nessa bacia já vêm recebendo há vários anos programas de coleta, afastamento, tratamento de esgoto. Eles vêm passando por processo de despoluição nessas duas décadas, então o Pinheiros vai ser reflexo das ações que estão sendo feitas agora e de todo esse processo de saneamento ao longo das últimas décadas”, avaliou a especialista.
A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que o Novo Rio Pinheiros e o Projeto Tietê são complementares “porque as obras executadas no escopo do Novo Rio Pinheiros contribuem para a despoluição do Tietê”. O investimento no Novo Rio Pinheiros totaliza R$ 1,7 bilhão em obras realizadas pela Sabesp, que tiveram início em 2019. As obras do Projeto Tietê são executadas desde 1992 e totalizam desde então U$S 3,1 bilhões.
Desde começo do programa, foram retiradas mais de 30 mil toneladas de lixo flutuante, como plástico, somente das águas do Rio Pinheiros. Por meio do desassoreamento, para aprofundamento e manutenção do rio, as equipes retiraram 256 mil m³ de sedimentos, o que equivale a mais de 16 mil caminhões.
Despoluição até 2022
O governo do estado prevê que a despoluição do Rio Pinheiros ocorrerá até 2022. Até lá, as ações incluem expansão da coleta e tratamento de esgotos; desassoreamento e aprofundamento do rio; coleta e destinação dos resíduos sólidos ao longo dos 25 quilômetros do rio; revitalização das margens, além de iniciativas socioambientais.
Até março deste ano, obras realizadas pela Sabesp conectaram 230 mil imóveis localizados na bacia do Pinheiros à rede de esgoto, o que permitiu a coleta e envio para tratamento do esgoto dessas casas. A especialista citou que o acesso da população ao saneamento e à água se reflete na situação dos rios.
“Essa exclusão social é refletida na qualidade da água de rios urbanos. Quanto mais pessoas sem acesso a saneamento, maior o comprometimento da qualidade da água no rio. Então é uma soma de ações que precisam ser feitas”, disse. Entre essas ações, além do poder público, Malu diz que a sociedade pode participar com ações de fiscalização e monitoramento, ou seja, voltar a olhar para o rio, inclusive usando as ciclovias próximas das margens do Rio Pinheiros.
Segundo o governo estadual, a participação da população é fundamental para evitar o descarte irregular de lixo nas vias e córregos. A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado acrescentou que, assim como grandes rios urbanos, a água não será potável nem permitirá a prática de natação e que a expectativa é que o Rio Pinheiros abrigue algumas espécies de peixes, tenha águas claras e limpas para que, sem o odor, a população possa ocupar suas margens e contar com uma nova opção de lazer.
Ainda sem condições
A diretora da SOS Mata Atlântica ressaltou que o aparecimento dos peixes não significa que, neste momento, o Rio Pinheiros tenha condições de abrigar vida aquática ao longo da sua extensão. Ele ainda está poluído e não teria oxigênio para suprir a demanda dessa vida aquática. No entanto, ela disse que o fenômeno é uma prova da possibilidade de o rio abrigar organismos vivos.
“O surgimento desses peixes e a permanência deles vivos no rio, coisa que não acontecia antes, é uma grande esperança para todo o paulistano, para os paulistas inclusive porque, na medida em que despolui um rio como o Pinheiros, se comprova que, fazendo investimento em saneamento básico, a natureza rapidamente se recupera. Eu vejo essa aparição desses peixes e a emoção dos ciclistas, das pessoas que viram esses peixes, como uma grande esperança de que a gente está no caminho certo”, disse Malu.
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), responsável pelo monitoramento de qualidade da água, constatou uma melhora no trecho inferior do Pinheiros, que compreende os pontos entre a Estrutura do Retiro e a Usina São Paulo, inclusive próximo à ponte Cidade Jardim, onde foram filmados os peixes.