Resenha: A Cor do Poder, Uma Obra Racista Que Não Vale A Pena Assistir

A Cor do Poder conta a história de um possível mundo distópico em que a Africa teria conquistado a Europa e os brancos e não os negros seriam o povo oprimido

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A Cor do Poder é uma série britânica sobre um país europeu fictício, Albion, colonizado por um império africano, que aqui é chamado de Aprica. Mas não se deixe enganar, embora a premissa da série pareça maravilhosa, o resultado final é apenas uma visão branca racista do que seria o mundo “dominado por povos pretos”, que aqui agem da mesma forma que os brancos colonizadores opressores.

A Cor do Poder representa os povos de Albion, em que Noughts são os brancos oprimidos e Crosses os pretos privilegiados e opressores. A obra é totalmente anti-preto. Ao inverter os papéis, pintando negros de opressores de brancos, a mensagem é clara: não deixem pessoas não-brancas ascenderem ao poder pois será muito pior, afinal já há justiça e igualdade social na sociedade racista que os brancos construíram.

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A série que foi baseada em livro de mesmo nome, já começa com o clássico episódio de brutalidade policial, em que os agentes são pretos e as vítimas brancas. E daí em diante somos apresentados aos personagens principais. Temos desde o político preto intolerante até o branco pobre que se junta a uma facção criminosa revolucionária. Por seis episódios somos levados a uma insurreição popular, tendo como destaque a proibida relação interracial dos protagonistas.

E o que escrever sobre eles? Sephy e Callum (que vemos no pôster acima) vivem sua própria história de amor proibido, a versão interracial de Romeu e Julieta. Mas o que vemos na série não é nada épico, apenas o rapaz branco cometendo erro atrás de erro, enquanto a jovem preta vive correndo atrás dele, implorando por migalhas de seu amor, enquanto tenta consertar suas cagadas. Este é um dos enredos mais frustrantes de toda série e mais clichê impossível.

Callum e Sephy se beijando

A Cor do Poder é tão inverossímil, que nessa distopia em que pretos oprimem brancos os atores brancos da série sequer conseguem imprimir verdade em suas atuações como “povos oprimidos pelo sistema”. Pois branco não sabe o que é viver numa sociedade racista, o que resulta em uma atuação insuportavelmente falsa e forçada!

E a falta de noção é recorrente…

Numa cena quando o Novo Primeiro Ministro faz discurso após ser empossado no cargo, vemos manifestantes brancos acorrentados, fazendo direta referência a pessoas escravizadas e exploradas, que deram seu sangue pela nação. Entretanto, na maioria das cenas de violência da série, as vítimas são personagens pretos, sendo assim corpos negros continuam a sangrar para entretenimento de brancos. A série é uma sucessão de erros e falsas simetrias que não dá pra engolir. Subestimam a inteligência do espectador apenas reforçando um imaginário racista de que pretos no poder resultarão em perseguição aos brancos.

E para coroar essa patifaria toda, a obra desvirtua imagens, sinais, dialetos e vestimentas de povos africanos tornando-os símbolos de opressão. Tanto que a expressão racista nigger, usada contra pretos, na série ganha sua versão branca, blankers.

O maior erro de A Cor do Poder é pressupor que numa sociedade em que os pretos estão no topo da pirâmide social, sendo os detentores dos privilégios políticos e econômicos, eles seriam tão opressores e excludentes com os brancos, como estes são na vida real contra os demais povos da Terra. Provando que a série não passa de um desserviço para o Movimento Negro, na busca por direitos sociais, ao deixar implícito que pretos no poder resultarão na mesma opressão que os brancos já fazem há séculos. Quando na verdade a série passa longe do conceito Ubuntu que representa vários povos africanos. Ubuntu tem vários significados, dentre eles “Sou o que sou pelo que nós somos” e Humanidade para os outros”, que em resumo representa a busca pelo bem estar próprio, assim como de todos à nossa volta.

Por isso A Cor do Poder é uma péssima série, que teria relevância há quinze ou dez anos, mas não em pleno 2020, revelando-se apenas um devaneio branco de panfletagem racista contra povos não-brancos.