Policiais militares do Rio de Janeiro começaram hoje (30) a usar câmeras filmadoras portáteis acopladas aos uniformes. Na primeira etapa, os equipamentos serão usados em ações de patrulhamento por policiais de oito batalhões – Botafogo, Méier, São Cristóvão, Tijuca, Olaria, Ilha do Governador, Copacabana e Leblon — e da 1ª Companhia Independente da Polícia Militar, sediada em Laranjeiras.
Na cerimônia de lançamento da operação, o secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, disse que as câmeras servirão para proteção dos policiais e da sociedade. “O equipamento vem para proteção, não vem para punir ou para vigiar ninguém, o equipamento vem proteger a tropa, proteger o nosso trabalho, proteger a sociedade.”
De acordo com Pires, o uso das câmeras também levará à mudança no comportamento do policial militar e da sociedade, que “há muito tempo desejava” a implantação do equipamento de filmagem das ações da corporação.
Segundo o governador Cláudio Castro, as câmeras, que serão usadas inicialmente pelas equipes de patrulha, vão ajudar a dirimir dúvidas sobre possíveis erros dos agentes de segurança, cujas ações muitas vezes são incompreendidas. Castro explicou que o uso da câmera faz parte de um processo de evolução da Polícia Militar w que poderá esclarecer quando não é o policial que erra.
Ele informou que foram compradas 21 mil câmeras compradas que irão para locais de patrulhamento. “Quem dirá a curva de aprendizado e a hora de avançar é a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e eu reitero a minha confiança da Polícia Militar.”
Operações em favelas
O governador disse que não há previsão para que unidades operacionais, incluindo a Polícia Civil, que fazem operações nas favelas, comecem a usar câmeras. Segundo Castro, isso colocaria o policial em risco. “A operação é planejada, tem estratégia, tem sigilo. Há que se tomar muito cuidado, principalmente pensando na vida do policial. Não posso colocar meu policial, que já está lá na linha de frente, trocando tiro. Como é que ainda vou expor por onde ele entra, a estratégia dele. Então, há que se ter um cuidado muito grande para não virar uma carnificina de policiais. Lá do outro lado, também tem gente estudando nossos passos. Eu não vou botar a vida do meu policial em risco”, enfatizou.
Para o coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araújo, uma das entidades de direitos humanos que reivindicam o uso de câmeras nos uniformes dos policiais, a iniciativa é bem-vinda, porém, sozinha, não dará conta de reduzir as mortes provocadas pelas forças de segurança.
“Tudo que envolve tecnologia precisa de detalhamento sobre outros procedimentos para que se garanta o objetivo final da filmagem. Que a câmera não possa ser desligada pelo próprio policial, que as imagens sejam arquivadas por um tempo considerável, porque, às vezes, denúncias podem demorar a chegar. Que haja tecnologia que impeça a edição das imagens e, principalmente, que famílias envolvidas em possíveis violações e os próprios advogados, tenham acesso às imagens”, ressaltou Araújo.
Vila Cruzeiro
Sobre a operação da semana passada na Vila Cruzeiro, que terminou com 23 mortos, Castro disse que estava de acordo com a ação de descumprimento de preceito fundamental julgada pelo Supremo Tribunal Federal em fevereiro, que impôs ao governo e às forças de segurança do Rio de Janeiro uma série de medidas e critérios para reduzir a letalidade policial no estado.
“Foi uma operação conjunta com três forças: Polícia Militar, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, demonstrando a integração que existe hoje entre as forças de segurança. Somente as armas apreendidas já demonstram a necessidade que se tinha de fazer aquela operação, que visava prender os líderes da facção criminosa mais perigosa do Rio de Janeiro”, afirmou.
Em São Paulo, após a implantação do sistema de câmeras pessoais, os batalhões da Polícia Militar que adotaram o equipamento tiveram redução de 87% nas ocorrências de confronto.