Polícia Civil tenta agora montar quebra-cabeças para saber circunstâncias e locais em que outras 13 pessoas, mortas na mesma operação, foram baleadas
Nove policiais militares e três policiais rodoviários federais ouvidos na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) apresentaram 12 fuzis e admitiram participação em confrontos, na localidade conhecida como Vacaria, numa região de mata da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, onde dez pessoas foram mortas. O tiroteio aconteceu no último dia 24, durante uma operação da Polícia Militar (PM) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Agentes da DHC tentam agora montar uma espécie de quebra-cabeças para saber as circunstâncias em que outras 13 pessoas, mortas na mesma ação, foram baleadas e em que parte da comunidade estavam quando foram atingidas por tiros. No total, houve 23 mortes na operação, que está sendo investigada pela Polícia Civil. Na terça-feira, durante a operação, quando o número de óbitos divulgados era de 11, o porta-voz da PM, o tenente-coronel Ivan Blaz, reconheceu que era “provável que outras pessoas pudessem aparecer feridas ou mortas”.
A maior parte desses 13 baleados foi levada por parentes ou moradores para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde as mortes foram atestadas. A Polícia Civil já ouviu alguns parentes para colher informações sobre o local onde as pessoas estavam quando foram feridas pelos disparos. O teor dos depoimentos já colhidos é mantido em sigilo.
Já se sabe, no entanto, que alguns integrantes da lista também estavam numa mata que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, mesma região em que os dez outros mortos foram baleados em um confronto com policiais. Informações preliminares dão conta que, até agora, exames periciais feitos em parte dos corpos , no Instituto Médico-Legal, no Centro do Rio, não teriam encontrado marcas de perfurações produzidas por facas.
A DHC vai aguardar a conclusão dos laudos que vão esclarecer ainda se os tiros que atingiram os corpos foram ou não disparados de uma curta distância. A resposta pode ajudar os investigadores a descobrir se houve ou não execução de alguns dos 22 dos 23 mortos. A 23ª morta é a cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, que foi atingida por uma bala perdida. Apesar de relatos de parentes e de amigos dando conta que ela foi baleada a 300 metros da entrada da entrada da Favela da Chatuba, comunidade vizinha à Vila Cruzeiro, a Delegacia de Homicídios investiga a hipótese de a cabeleireira ter sido deixada baleada, onde foi encontrada morta, por ocupantes de um carro prata. Uma perícia foi feita no local e o resultado de um laudo é aguardado para ajudar a esclarecer a questão.
O Ministério Público Federal estipulou prazo de 72 horas para que a Polícia Rodoviária Federal informe os nomes e as matrículas de todos os agentes envolvidos na operação. A medida é parte de um procedimento instaurado pelo procurador Eduardo Benones que apura detalhes da atuação da corporação nesta e em outras operações na cidade este ano.
Segundo a polícia, a operação foi deflagrada, no último dia 24, na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, para prender chefes da maior facção criminosa do estado e suspeitos vindos de outros estados que estariam escondidos na região. De acordo com a PM, a operação estava sendo planejada havia meses, mas foi deflagrada de modo emergencial para impedir uma suposta migração para a comunidade da Rocinha, na Zona Sul.
De acordo com a PM, a ação estava sendo planejada havia meses, mas ocorreu de modo emergencial para impedir uma suposta migração de bandidos para a comunidade da Rocinha, na Zona Sul. Procurada, a Polícia Rodoviária Federal informou que 26 policiais da corporação, com 11 viaturas, participaram da operação. Também procurada, a Polícia Militar ainda não informou o total do efetivo usado na Vila Cruzeiro.
A operação é considerada a segunda mais letal da história do Rio, atrás somente da ação no Jacarezinho, de maio de 2021, que resultou em 28 mortes.
Fonte: O Globo