O que esperar dos relatórios financeiros do 3º trimestre de 2022?

Com a época de apresentação de contas do 3º trimestre aí à porta, todas as atenções voltam-se agora para Wall Street. A abertura da época será realizada por gigantes bancários como Morgan Stanley, JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citigroup, seguindo-se empresas como a PepsiCo e a Delta na próxima semana.

Segundo o Financial Times os analistas antecipam um crescimento dos lucros das empresas listadas no S&P 500 para uma média de 2,6% anuais. Este é um abrandamento acentuado m relação aos 9,8% previstos anteriormente, o que, a confirmar-se, representaria o pior trimestre da América corporativa desde o 2º trimestre de 2020. Também, o Financial Times afirma que os gigantes de Wall Street reduziram as suas estimativas em cerca de 34 mil milhões de dólares.

Enquanto as previsões de lucros são elaboradas, os avisos sobre lucros já emitidos por alguns gigantes da América corporativa, antecipam maus resultados, num momento em que o medo de uma pesada recessão se associa à inflação. Estimativas e previsões são tema de interesse geral, particularmente para quem negoceia CFDs em corretoras como a easymarkets, investe de alguma forma na bolsa de valores ou noutros ativos financeiros.

As ações de alguns dos grandes nomes que fazem parte do índice S&P 500, sofreram ultimamente com os avisos de lucros emitidos pelos seus respetivos gigantes. Foi o caso da AMD, que recentemente assistiu ao colapso do preço das ações, com uma queda de quase 14%.

Há três semanas, também o preço das ações da FedEx caíram mais de 21% devido a um alerta sobre o volume de negócios, que se esperava estar 500 milhões de dólares abaixo do objetivo previamente estabelecido.

Em entrevista à CNN, Scott Ellis, gestor de carteira da Penn Mutual Asset Management, afirmou que esta “earnings season” será um teste útil para ver o que as equipas de topo dirão e para ver quanta visibilidade têm.

Shawn Snyder, responsável pela estratégia de investimento do Citi U.S. Wealth Management, acredita ser possível uma queda de 10% nos rendimentos no próximo ano. Em entrevista à CNN, Shawn Snyder afirmou que “assumindo que haverá uma recessão em 2023, as estimativas atuais de rendimentos são, provavelmente, demasiado elevadas”.

O consenso, porém, está longe de prever tal cenário. Consoante as estimativas da FactSet, Wall Street espera um crescimento dos ganhos de +8% em 2023.

Depois há a questão do Super dólar: “O mais interessante de ver nesta época de apresentação de contas é a força do dólar, que vai atingir as multinacionais”, constatou Shawn Snyder, acrescentando que as empresas americanas com menos exposição aos mercados estrangeiros, poderiam relatar uma melhor tendência de ganhos, uma vez que estão isentas do impacto das flutuações das taxas de câmbio.

Mas o Super dólar, embora seja uma ameaça real, não está no topo da lista das preocupações dos analistas. De acordo com um inquérito lançado pela FactSet, é a inflação que irá pesar mais na rentabilidade.

Pessimismo generalizado

Depois de um cenário mais risonho do que esperado no 2º trimestre, o pessimismo sobre a tendência de lucros da América corporativa é, agora, bastante generalizado.

Peter Garnry, chefe da estratégia de equidade do Saxo Bank, disse, em entrevista à Bloomberg que “os ganhos do terceiro trimestre serão dececionantes, com riscos claros para os analistas”. Acrescentou ainda que os principais fatores de risco para os lucros do terceiro trimestre são, na sua opinião, o aumento dos custos, afetando obviamente o sentimento dos consumidores, daí a procura de produtos de consumo, face aos salários mais elevados que corroem os lucros das empresas.

Em suma, o problema mais destacado é sempre o mesmo: a inflação. Existe, porém, um sector que poderia beneficiar do atual ambiente de subida de taxas: o dos bancos, cuja rentabilidade recebeu um impulso do aumento do custo do dinheiro.

Segundo David Konrad, analista do KBW, os balanços dos bancos permanecem de boa saúde. Deve salientar-se, no entanto, que o cenário de uma recessão, também não é benéfico para os bancos, que poderiam ver uma redução acentuada nos pedidos de empréstimos. Neste ano, o índice bancário KBW caiu cerca de 22%. Uma queda que reflete preocupações sobre o aumento dos empréstimos e a subida das taxas de juro.

As disposições previstas serão, de qualquer forma, significativamente inferiores às que foram tomadas pelas instituições de crédito no início da pandemia em 2020, quando aumentaram as reservas em dezenas de biliões de dólares de modo a se prepararem para um choque económico.

Agora, com a crescente procura de empréstimos, os bancos preparam-se para a possibilidade do aumento das taxas de juro abrandar a economia e causar um aumento nas perdas de empréstimos, preocupação tal, que este ano já prejudicou os preços das ações dos bancos.

Conforme as estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg, os seis maiores bancos americanos reservarão coletivamente cerca de 4,5 mil milhões de dólares em reservas para perdas de empréstimos nos seus resultados do terceiro trimestre.