Mil, setecentos e noventa e sete dias. Esse é o tempo que separa a última Olimpíada, no Rio, em 2016, dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que começam no próximo domingo, dia 25 de julho de 2021. Esse é o tema do Caminhos da Reportagem, que vai ao ar neste domingo (18), às 20, na TV Brasil.
Desde os primeiros Jogos da Era Contemporânea, realizados em Atenas, em 1896, este é o maior intervalo de tempo em que as Olimpíadas deixaram de acontecer, fato histórico que só encontra antecedente durante a Segunda Guerra Mundial, quando duas edições seguidas dos Jogos foram efetivamente canceladas – Helsinque (1940) e Londres (1944) – além da Olimpíada de Berlim (1916), cancelada em virtude da Primeira Grande Guerra.
A pandemia da covid-19 – reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020 – não levou ao cancelamento imediato dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas fez com que o maior evento esportivo do mundo fosse adiado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por mais um ano e, com isso, alterou, também, a rotina de treinos e expectativas de muitos atletas brasileiros, que viveram nesse período uma preparação fora do comum.
– No começo da pandemia, a gente não podia entrar aqui no centro de treinamento. Estava tudo fechado. Então, a gente tinha um único espaço em casa, de cinco metros, e não é a mesma coisa de cinco metros atirar 70 metros. Então, tinha dias que eu treinava, tinha dias que eu não treinava – conta Anne Marcelle dos Santos, atleta do tiro com arco, para quem a quebra de rotina foi também um desafio psicológico, dada a incerteza quanto à realização dos Jogos.
O aspecto mental teve um peso significativo ao longo desse último ano e mereceu atenção especial do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A psicóloga Carla di Pierro, que desde 2012 vem trabalhando com o COB, acredita que esse ano a mais de preparação foi mais difícil para a maioria dos atletas, que têm a vida muito planejada em função do calendário esportivo.
– Foi difícil, porque tem atleta que já se organiza pra aposentadoria, pra ter filho depois dos jogos, pra casar depois dos jogos. Mais um ano? Você imagina: já são quatro anos, você ter que organizar mais um ano, e ainda numa condição de adaptação, treino que tem que ser de uma forma diferente do que era antes.
Foi assim para a dupla do vôlei de praia, Alison Cerutti e Álvaro Filho. Classificados desde 2019, nesse ano a mais eles puderam acompanhar de perto o nascimento dos filhos. Mas, por outro lado, tiveram que redobrar a atenção com a segurança da família, além de superar a COVID-19, em momentos distintos. “Foi um processo, onde a gente estava um em cada tempo e depois a gente conseguiu alinhar os dois, e agora nós dois estamos entrando no nosso melhor mesmo. Então, acho que a gente vai chegar forte pra Tóquio”, afirma Álvaro.
Pepê Gonçalves, da canoagem slalom, teve mais sorte em poder contar com um centro de treinamento de ponta, o Parque Olímpico de Deodoro – legado dos Jogos do Rio 2016 – para se preparar melhor e também está otimista quanto à sua participação.
– Se hoje eu tô sonhando e indo buscar minha medalha olímpica em Tóquio é tudo graças ao canal de Deodoro. Porque lá a gente podia ficar totalmente isolado de todo mundo, seguindo as restrições e enquanto muitos centros de treinamento estavam fechados, o nosso estava aberto.
Para os atletas que não tiveram essa oportunidade, o Comitê Olímpico do Brasil, em conjunto com as confederações nacionais, organizou a Missão Europa para que os brasileiros pudessem seguir com os treinos em condições seguras, no Velho Continente. “E quando vieram os resultados, resultados muito bons, que os brasileiros tinham obtido, vagas sendo conquistadas pra Tóquio, aí a gente teve 100% de certeza que a Missão Europa ela realmente foi fundamental”, explica o vice-presidente do COB, Marco Antônio La Porta.
Apesar de toda adversidade, a expectativa de fazer o melhor em Tóquio é o que tem motivado os atletas brasileiros para essa Olimpíada. A jogadora Formiga, que encerra no Japão um ciclo de sete participações em Jogos Olímpicos, está determinada a trazer a tão sonhada medalha de ouro para a seleção brasileira feminina de futebol. “Essa pandemia agora ela me fez superar mais uma dificuldade, me reinventar todo santo dia pra poder manter o foco no meu objetivo, que seria chegar a essa Olimpíada e ganhar a medalha”.
Único representante do remo brasileiro em Tóquio, Lucas Verthein resume o sentimento dos atletas brasileiros:
– É uma Olimpíada histórica. É uma Olimpíada que vai ficar marcada pro resto da nossa história como uma Olimpíada atípica e, ao mesmo tempo, uma Olimpíada que, na minha opinião, ela simboliza a vida (…) simboliza a nossa volta por cima em relação a um vírus que devastou o planeta inteiro. É assim que eu definiria essa Olimpíada. Seria a superação da adversidade.
FICHA TÉCNICA:
Reportagem: Igor Santos
Edição de Texto: Luciana Góes
Edição de Imagem: Eric Gusmão
Produção: Natalia Neves
Cinegrafistas: Eduardo Guimarães, Luís Araújo, Rodolpho Rodrigues
Auxiliar técnico: Adaroan Barro