O Paço Imperial, situado na Praça XV, região central do Rio de Janeiro, inaugura nesta tarde a exposição Podre de Chique, com de obras do artista mato-grossense Adir Sodré. Com entrada gratuita, a retrospectiva reúne obras de Sodré presentes em diversas coleções brasileiras. Os trabalhos do artista, que morreu em 2020, poderão ser vistos até 23 de outubro, de terça-feira a domingo, das 12h às 18h.
Segundo a fundadora do MT Projetos de Arte e idealizadora da exposição, Margareth Telles, a retrospectiva permite dimensionar a relevância da obra de Sodré. “Os temas por ele tratados há mais de três décadas permanecem extremamente atuais e estão nas manchetes: defesa ambiental, crítica ao poder político, perfil ainda elitista do sistema de arte e questões referentes à sexualidade. Adir trata com muita elegância e contundência tudo isso.”
A exposição foi organizada pelos curadores Guilherme Altmayer e Leno Veras de forma não linear quanto à sua cronologia. As obras estão distribuídas em cinco proposições conceituais: Cuyaverá (Cuiabá), Tapa na cara pálida (horrores da branquitude), Ditos e malditos (imundos das artes), O pop não poupa ninguém (cultura de massas) e Manifestos paus, Brasil! (fabulações estético-eróticas).
Em entrevista à Agência Brasil, Guilherme Altmayer explicou que a organização da mostra não foi determinada pelo percurso de início, meio e fim pelo fato de que o conjunto das obras de Adir Sodré disponíveis para a mostra mostrou uma série de agrupamentos temáticos interessantes que escapam da cronologia. “[Isso] porque os diferentes temas que ele abordou acabam sendo mais relevantes do que a própria cronologia do percurso dele. A gente não considerou tão relevante como forma de exibição.”
Intensidade
Para o curador da mostra, Adir Sodré foi um artista muito intenso, que pintou em todos os espaços e lugares que encontrou pela frente. “Pintou em capas de livros. Intervinha em livros, ilustrações, tênis, em diferentes materiais. Tinha uma compulsão para a pintura muito interessante e deixou vasta produção. Artista muito intenso, até sua morte, em 2020, não deixou de produzir”, afirmou Altmayer.
Sodré foi um artista que, ao longo de 40 anos de pintura, demonstrou capacidade de resposta muito contundente aos contextos socioeconômicos e políticos em diferentes momentos da história, acrescentou. “É como se ele estivesse pintando essa história na medida em que a vivia intensamente.”
Para Altmayer, é isso que torna o trabalho de Adir Sodré muito diverso em termos de estilo, de técnicas de pintura e de desenho. “A gente pode perceber que ele usa diferentes aproximações a partir das diversas temáticas que resolve abordar.”
A exposição conta com apoio da prefeitura de Cuiabá e inclui um retrato do diplomata e empresário Gilberto Chateaubriand, pintado por Sodré. Chateaubriand colecionou trabalhos do pintor desde a década de 1980, quando despontou na coletiva Como Vai Você, Geração 80?, da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. “Chateaubriand tinha mais de 100 obras do Adir”, destacou Altmayer. A mostra destaca ainda um retrato do jornalista, historiador, crítico, colecionador, expositor e negociador de obras de arte Pietro Maria Bardi, que convidou Sodré para uma individual no Museu de Arte de São Paulo (Masp), quando ele contava apenas 21 anos.
Produção
O pintor nasceu em 1962, em Rondonópolis, a 218 quilômetros de Cuiabá, onde passou quase toda a vida. Ao som de artistas como a alemã Nina Hagen e a sul-mato-grossense Tetê Espíndola, ele pintou durante mais de quarenta anos, abordando temas relacionados à cultura regional, à defesa ambiental e dos povos indígenas, além de celebridades e transformistas, entre outras personagens. Sodré, que se inspirava em grandes pintores como o espanhol Pablo Picasso, o francês Henri Matisse e a brasileira Tarsila do Amaral para extravagantes ficções, é considerado um dos 100 maiores artistas do século.
Adir Sodré expôs trabalhos nos museus de Arte Moderna de Paris, Nova Iorque, Rio de Janeiro e São Paulo. No Museu de Arte Moderna de Paris, por exemplo, participou, em 1987, da coletiva Modernidade, Arte Brasileira no Século XX. Suas obras estão presentes no acervo de grandes museus nacionais e internacionais.
O pintor morreu de infarto, em 2020, aos 58 anos de idade.