Palco Virtual apresenta produções inéditas de artes cênicas

O Palco Virtual de Cênicas, realizado pelo Itaú Cultural, apresenta ao público produções inéditas, de 24 a 27 de junho, que abordam a negritude e as diferentes formas de se relacionar. Todas as apresentações são gratuitas e seguidas por conversas dos espectadores com diretores, elencos e convidados. Os ingressos devem ser reservados via Sympla.

A programação abre na quinta-feira (24) com a pré-estreia de Maré, do coletivo potiguar Cida, tratando do amor a partir da situação da pandemia e da realidade dos cinco artistas em cena, seus corpos e suas vivências. As diferentes maneiras de se relacionar são problematizadas também por questões como gênero, raça, capacitismo e violência contra a mulher.

Na estreia da peça-filme Desfazenda – me enterrem fora desse lugar, do coletivo O Bonde, quatro crianças são salvas da guerra e crescem em uma fazenda. Quando jovens, começam a reconhecer-se como negras, vendo o mundo e a liberdade de outra forma. A obra é livremente inspirada no filme Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, de Belisario Franca, no qual a descoberta de tijolos em uma fazenda com o símbolo da suástica desvendou a história de crianças negras que foram levadas de um orfanato para essa fazenda.

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Os dois espetáculos foram pensados inicialmente para apresentações presenciais ao público. No entanto, diante da necessidade de isolamento social durante a pandemia, as peças ganharam novas produções voltadas para o audiovisual.

Criado em 2017 pelo Cida, núcleo artístico de dança contemporânea, fundado por jovens artistas emergentes, negros, com e sem deficiências, radicados em Natal (RN), o espetáculo Maré foi remontado em 2021 como uma obra audiovisual em dança acessível. Após a exibição de pré-estreia, Maré ficará disponível até 1 de julho no Youtube do Itaú Cultural.

“Com a chegada da pandemia, tivemos que repensar o nosso modo de trabalho. A gente não tinha intimidade com o audiovisual, mas acabamos nos aproximando de pessoas da área, e estamos agora trabalhando juntos esse novo modo de pensar a dança”, disse o bailarino René Loui, fundador do coletivo ao lado de Rozeane Oliveira.

De sexta-feira a domingo (25 a 27), o Palco Virtual será ocupado pela temporada de estreia de Desfazenda – me enterrem fora desse lugar, que trata de questões ligadas ao corpo e à subjetividade de pessoas negras diante do processo de abolição inconclusa no Brasil, conforme apontou a diretora Roberta Estrela D’Alva.

Desfazenda – me enterrem fora desse lugar – José de Holanda/Direitos reservados

“Estamos em plena decorrência dessa abolição inconclusa, inventando estratégias – e a arte tem um papel fundamental nisso – para questionar coisas que a gente não aceita mais. Na peça, também tem esse passo de descobrir o que aconteceu. Ela fala sobre entender-se negre no Brasil, e isso necessariamente é descobrir a história da escravidão”, avaliou Roberta.

Devido à pandemia, o espetáculo, que vinha sendo ensaiado virtualmente pelo elenco ao longo do último ano, foi repensado para o audiovisual e ganhou o formato de peça-filme, que tem como destaque a ênfase à palavra durante o espetáculo. A força do texto são potencializados pelas batidas, trilhas e paisagens sonoras criadas pela compositora e DJ Dani Nega.

“O espetáculo traz essa característica que vem do spoken word, das rodas de Slam, das batalhas de poesia, da poesia falada como fio dessa radicalidade narrativa, poéticas. A gente não tem muitos elementos de cenário, para que o público veja tudo o que tem que ver a partir dessa performance da palavra. É para fazer com que, quem tenha que ver essa fazenda, veja pelos olhos, pela palavra, pelo ritmo, pela entonação e memória de quem está falando”, disse a diretora.

Após a temporada de estreia, a peça ficará disponível até 14 de julho no canal do YouTube de O Bonde.