Pelé impulsionou o futebol nos EUA ao se transferir para o Cosmos

Clive Toye, dirigente do Cosmos, via em Pelé a chance de fazer o futebol decolar no país e tentava contratá-lo desde a fundação do clube

Pelé só jogou em dois clubes profissionais, Santos e New York Cosmos — Foto: AP

“O futebol chegou aos Estados Unidos. Eles podem espalhá-lo”, disse Pelé durante sua apresentação em 1975 no New York Cosmos, o único clube profissional pelo qual jogou além do Santos.

Foi o início de uma parceria de quase três anos que lançou o futebol no cenário esportivo americano e rendeu milhões de dólares aos jogadores e amigos como o músico Mick Jagger, o ex-meio-campista alemão Franz Beckenbauer e o boxeador Muhammad Ali.

Pelé saiu em 1974, após 18 anos no Santos. Mas o futebol ainda não estava pronto para viver sem o rei.

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Houve várias sugestões. No entanto, Cosmos estava tão empenhado em contratar o jogador que também envolveu o então secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, na transação.

Clive Toye, diretor do Cosmos, viu em Pelé uma chance de deslanchar o futebol do país e vinha tentando contratá-lo desde a criação do clube, em 1970. Quando o Rei se demitiu, ele agarrou a chance.
“Eu disse: ‘Se você for para o Real Madrid ou para a Juventus, a única coisa que você pode ganhar é outro campeonato. Se você vier ao Cosmos, podemos ganhar o país'”, disse Toye, que chamou Pelé de “grande crocodilo” durante a competição. reunião para evitar vazamento de mensagens.

Quando as negociações se tornaram públicas, a ideia de Pelé jogar no exterior não foi bem recebida no Brasil. Então entra Kissinger.
“Em meus contatos com o governo brasileiro, tentei convencê-los de que ter Pelé jogando nos Estados Unidos foi um grande benefício para o Brasil”, diz Kissinger no documentário de 2006 “Once in a Life” sobre o Cosmos. Ele também chamou os jogadores.

Atraído por um contrato de US$ 3 milhões (US$ 16,6 milhões em valores atuais, ou cerca de R$ 86 milhões) para jogar e pela ideia de expandir o futebol para território norte-americano, Pelé aceitou.

Com a contratação do alemão Franz Beckenbauer, do italiano Giorgio Chinaglia e do também brasileiro Carlos Alberto Torres, o Cosmos se tornou o primeiro time galáctico do futebol.

Os atletas eram celebridades em Nova York. Eles festejaram na elegante boate Studio 54, bebendo champanhe e com celebridades como Mick Jagger, Elton John e Rod Stewart. Beckenbauer, campeão mundial em 1974, descreve esse período como “o melhor de sua vida”.

O Cosmos aumentou a média de público da NASL (North American Football League) de 7.597 pessoas por jogo em 1975 para 13.584 em 1977. Os jogos da liga voltaram à televisão. Em 1977, último ano de Pelé na equipe, o Cosmos foi campeão.

A última partida de King foi um amistoso contra o Santos, em 1977. Pelé jogou o primeiro tempo pelo Nova York e o segundo pela Seleção Brasileira – marcando apenas para o Cosmos.

Emocionado, no final da partida pediu aos jovens: “Por favor, repitam comigo: ‘Love, love, love’ [amor, amor, amor].” A frase foi imortalizada em inglês por Caetano Veloso na música “Love, love, love”, do álbum “Tudo”, de 1978.

A Kosmos fechou em 1985 e retomou as operações em 2010. Pelé foi presidente honorário.

(Guiliana Vallone/Folhapress)