Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estudam a aplicação de adubos orgânicos, produzidos a partir da compostagem do lodo proveniente do tratamento do esgoto, a fim de determinar as melhores práticas de manejo do composto em lavouras. Entre as investigações realizadas, houve resultados positivos no uso do adubo como fonte orgânica de nutrientes para o solo do Cerrado, em culturas de milho e soja.
Os estudos, desenvolvidos pelo Grupo de Estudo em Nutrição, Adubação e Fertilidade do Solo (Genafert) do campus Ilha Solteira da Unesp e liderados pelo professor Thiago Nogueira, envolvem variáveis como a busca da dose mais adequada para aplicação nas plantações, da periodicidade e da forma mais efetiva dessa aplicação, além de se identificar as culturas que apresentam melhores retornos após a aplicação do composto.
Em uma das etapas da pesquisa, desenvolvida durante o projeto de mestrado de Adrielle Rodrigues Prates, os dados mostraram que a aplicação do composto oriundo do tratamento de esgoto aumentou a concentração de micronutrientes no solo e nas folhas, além de elevar em 67% a produtividade da soja, em comparação com a média brasileira.
“O solo do Cerrado é uma região em que normalmente a fertilidade é baixa, onde os limites e nutrientes são baixos, e o que ocorre é uma limitação na produção das culturas. Então [nesta fase do estudo] o foco foi utilizar esse composto como fonte de micronutrientes, atrelado com adubação mineral convencional, e também estudando a forma de aplicação – em área total ou nas entrelinhas das culturas -, qual seria a melhor forma de aplicação e a melhor dose”, explicou Adrielle.
Após a aplicação do composto e semeadura da soja, os pesquisadores fizeram a semeadura do milho para estudar o efeito residual do adubo nessa segunda cultura, o que resultou também em benefício da produtividade. O milho teve aumento de mais de 100% na produtividade em relação à média brasileira, conforme apontou Adrielle.
A pesquisadora explicou que o aumento da concentração de micronutrientes no solo, resultado do uso do composto oriundo do lodo do tratamento de esgoto, é importante porque o solo se comporta como uma reserva de nutrientes para a planta.
“Se aumentar esses nutrientes a níveis adequados, o solo vai fornecê-los à planta. E, quando a planta está bem nutrida, com os teores adequados, ela consegue desenvolver adequadamente todo seu ciclo e consegue aumentar sua produção, de forma que não tem nenhum limitante, não tem nenhum nutriente [faltante] que está limitando seu desenvolvimento, a sua produção”, disse.
Ela avalia a necessidade de estudo a longo prazo dessa aplicação do composto, para acompanhar como o solo vai se comportar e para evitar eventos de toxicidade nas culturas. “É importante, além da pesquisa pela melhor dose e o melhor modo de aplicação, esse estudo a longo prazo, para ver como que está a saúde desse solo, como que vai ficar o aumento dos teores [de nutrientes].”
Além do benefício para as plantações, a compostagem desse material resultante do tratamento de esgoto pode atenuar poluição ambiental e o volume de matéria orgânica que acaba nos aterros sanitários. “Todo esse processo traz, além do benefício para agricultura, um benefício ambiental. Por todo cuidado no processo de compostagem, que elimina os microrganismos patogênicos e torna indisponível os metais pesados para planta, faz com que o risco para o meio ambiente se torne bem menor.”
“Além disso, o lodo de esgoto normalmente é descartado em aterro sanitário. Ele pode ser despejado em cursos hídricos ocorrendo a poluição. Então, esse uso adequado do composto [oriundo] do lodo, passando pelo processo de compostagem, aplicando na dose correta, ele traz um benefício tanto para agricultura como para o meio ambiente, porque esse resíduo não está sendo jogado em aterros, em cursos hídricos nem incinerados, ele tem um destino final adequado”, explicou a pesquisadora.