Polícia de SP vai investigar Monark e podcast por apologia ao nazismo durante programa ao vivo na internet

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Por Kleber Tomaz e Renata Bitar, g1 SP — São Paulo

Polícia Civil de São Paulo vai investigar o influencer Bruno Aib, conhecido como Monark, e o Flow Podcast, que é veiculado na internet, por suspeita de apologia ao nazismo e discriminação contra judeus durante o programa ao vivo realizado na última segunda-feira (7).

A assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta quarta-feira (9), por meio de sua assessoria de imprensa, que uma delegacia do Departamento de Polícia da Capital (Decap) vai abrir inquérito para apurar o caso. Como a autoria é conhecida, e a produtora do programa ficaria no Centro da capital paulista, o 78º Distrito Policial (DP) talvez assuma a investigação, segundo policiais.

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Na terça-feira (8) o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu inquérito civil para apurar a denúncia e determinou que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurasse inquérito para investigar o caso. Mas antes mesmo da comunicação do MP, a Decradi, que é uma delegacia especializada no combate a grupos de intolerância, como os neonazistas, viu a repercussão do caso nas redes sociais e na imprensa e decidiu fazer uma denúncia diretamente ao Decap. Apesar disso, a Decradi não deverá participar da investigação.

No entendimento da Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público estadual, Monark e o Flow Podcast devem ser investigados por divulgação e defesa do nazismo e discriminação por procedência nacional. Em caso de condenação na Justiça, os responsáveis por esses crimes podem ser punidos com pena de 5 anos de prisão e multa.

O deputado eleito Kim Kataguiri, ao lado de Marcel van Hatten (dir.), ao anunciar que desistiu de disputar a eleição para presidente da Câmara — Foto: Fernanda Calgaro / G1

Monark e os responsáveis pelo Flow Podcast serão chamados pela Polícia Civil para explicarem a defesa de que deveria haver um “partido nazista reconhecido pela lei” e que “se um cara quisesse ser antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser”. As declarações foram dadas pelo influencer durante conversa com os deputados federais Kim Kataguiri (DEM-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP):

  • Monark: “Eu acho que o nazista, tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”.

O Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, também investiga Monark por apologia ao nazismo após determinação do procurador-geral Augusto Aras. Mas além do influencer, a Procuradoria apura se Kim cometeu o mesmo crime por entender ele também fez declarações de cunho neonazista ao responder a Tabata que a Alemanha não deveria ter criminalizado o nazismo:

  • Tabata: “Kim, você acha que é errado a Alemanha ter criminalizado o nazismo?”
  • Kim: “acho!”

Em São Paulo, o Ministério Público estadual apura somente a participação de Monark e o Flow Poadcast no caso de apologia ao nazismo. Kim tem foro privilegiado. Segundo a Promotoria de Direitos Humanos de São Paulo, o programa foi transmitido ao vivo pelo YouTube para 400 mil pessoas em 7 de fevereiro e “o conteúdo nazista e antissemita é inquestionável”.

Monark

Investigado por apologia ao nazismo, Monark se desculpou num vídeo postado em sua rede social dizendo que estava “bêbado” durante sua participação no programa e pediu a compreensão de todos:

  • Monark: “Ó galera, eu queria fazer esse vídeo pra só pedir desculpa mesmo porque eu errei, a verdade é essa, eu tava muito bêbado”. “Eu peço tambem um pouco de compreensão, são 4 horas de conversa.”

Kim

O deputado eleito Kim Kataguiri, ao lado de Marcel van Hatten (dir.), ao anunciar que desistiu de disputar a eleição para presidente da Câmara — Foto: Fernanda Calgaro / G1

Kim, por sua vez, também se defendeu ao dizer que foi “antinazista” durante o programa, mas não se posicionou quanto ao fato de ter criticado a proibição da existência de partidos nazistas na Alemanha:

  • Kim: “Estou fazendo esse vídeo para deixar o mais claro possível a minha posição e rechaçar, refutar e rebater todos aqueles que estão difundindo calunias aí contra mim dizendo que eu sou nazista quando todo o meu discurso foi antinazista, foi para trabalhar e pra expor uma maneira de derrotar e sufocar um nazismo da melhor maneira possível”.

Youtube

GNews – Ministério Público de SP — Foto: globonews

O Ministério Público de São Paulo ainda determinou que o Youtube retirasse do ar o vídeo no qual Monark é investigado por apologia ao nazismo. A Promotoria ainda avalia a possibilidade de ter ocorrido “dano moral coletivo ou difuso ou mesmo dano social” pelas frases do apresentador.

Em outras palavras, segundo os promotores, Monark e programa podem ter ofendido todas as vítimas do Holocausto, que foi o genocídio de 6 milhões de judeus pela Alemanha do governante Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Em caso de eventual dano moral, os acusados poderão ser condenados a pagar quantias em dinheiro para um fundo que poderá tratar sobre discursos de ódio.

Repercussão

As declarações de Monark sobre o nazismo repercutiram imediatamente na internet, gerando uma onda de críticas.

O coletivo Judeus e Judias pela Democracia São Paulo entrou com um pedido para que o Ministério Público estadual investigasse o caso e a suspeita de prática de crimes como apologia ao nazismo, incitação à violência, injúria racial e intolerância religiosa durante a transmissão do podcast.

Após a repercussão do caso, os Estúdios Flow divulgaram uma nota informando que Monark “está desligado” da empresa e que o episódio em questão será retirado do ar. A nota não informou mais detalhes sobre como se deu o desligamento — Monark é sócio-administrador dos Estúdios Flow.

Segundo o Sleeping Giants Brasil, perfil no Twitter que busca a tirada de financiamento de meios e programas que propagam discurso de ódio, o Flow Podcast já perdeu seis patrocinadores.