Em 2024, quando se completa 55 anos da ida do homem à Lua, está previsto acontecer o retorno ao nosso satélite natural – e com a expectativa dos primeiros passos de uma mulher por lá. Esse é o objetivo do programa Artemis, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). O nome é uma referência à deusa grega Artemis, irmã gêmea de Apolo, que foi como ficou conhecida a primeira missão em solo lunar, em 1969.
Já em desenvolvimento, o programa prevê missões não tripuladas e tripuladas nos próximos anos. A iniciativa está sendo implementada em um período de grandes avanços na exploração do espaço, marcado pela descoberta de moléculas de água em solo lunar e por missões tecnológicas – em curso e futuras – para o planeta Marte.
Liderado pelos Estados Unidos, o projeto conta também com a participação de outros 12 países – dentre eles o Brasil, que assinou o acordo de cooperação neste mês. Para a Nasa, a parceria é uma forma de ampliar a participação dos países e garantir o uso pacífico do espaço. Já o Brasil se vê em um momento decisivo para o programa espacial brasileiro, que projeta a ciência que tem sido feita no país, como avalia o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes.
Em entrevista à Agência Brasil, o ministro projeta uma série de oportunidades para a comunidade científica nacional a partir do ingresso do Brasil na missão Artemis: “Existem muitas áreas em que o Brasil pode cooperar. O desenvolvimento de sistemas não tripulados para a Lua, o desenvolvimento de subsistemas de estações”, disse o ministro, reforçando que o país tem “todas as condições” de participar em várias frentes do projeto.
Agência Brasil: O que representa para a programa espacial brasileiro assinar este acordo de cooperação com a Nasa, que prevê enviar uma missão tripulada à Lua com a presença de uma mulher?
Marcos Pontes: O programa Artemis tem uma importância muito grande, em vários aspectos, do ponto de vista do programa espacial brasileiro. Ele se associa ao desenvolvimento que estamos fazendo de cinco áreas do programa: foguetes lançadores, satélites de cargas úteis, áreas de aplicações do espaço, infraestrutura de lançamento (base de Alcântara) e a renovação de toda a legislação de espaço. E o Artemis – como ele se estende à Lua, Marte, espaço profundo – traz uma série de oportunidades, que vão trazer, de forma sinérgica, os nossos estudantes, os nossos universitários, pós-graduandos, mestres e doutores para pesquisas na Lua, (pesquisas) em outros locais, desenvolvimento de equipamentos por empresas, desenvolvimento por startups. Ou seja, é uma oportunidade muito grande, inclusive para os que querem ingressar no programa espacial ou até outros astronautas.
Agência Brasil: Há alguma área específica em que o Brasil teria expertise para oferecer ao projeto Artemis? Na prática, como se dá esta cooperação?
Marcos Pontes: Existem muitas áreas em que o Brasil pode cooperar. o desenvolvimento de sistemas não tripulados para a Lua, o desenvolvimento de subsistemas de estações. Eu gostaria que o Brasil buscasse expertise na área de radiação ou proteção contra a radiação. A área de engenharia fina, controle, também é bem interessante. São áreas que precisam de maior desenvolvimento na área de propulsão. Isso ajudaria muito o programa espacial brasileiro como um todo. E também – e por que não? – a participação de jovens. Temos que usar este programa para motivar jovens a seguirem carreiras de ciência e tecnologia. O Brasil pode participar sob vários aspectos do programa e a gente vai fazendo essas participações à medida em que tenhamos condições técnicas, científicas e financeiras de participar.
Agência Brasil: A missão Artemis está sendo realizada em um momento em que há confirmação de moléculas de água em solo lunar. Como esta conjuntura pode desdobrar em avanços para outras missões, como as previstas para Marte?
Marcos Pontes: A Artemis prevê missões tripuladas e não tripuladas, uma estação espacial na órbita da Lua (que vai servir como base para ir para lá e para outros lugares também), a construção de infraestrutura na Lua, bem como estudos a serem feitos sobre as tecnologias necessárias, além do conhecimento da geologia e das características da Lua. A missão vai permitir que possamos avançar com mais segurança nas tecnologias para Marte ou outros lugares mais distantes. Um programa enorme, com grandes objetivos. E o Brasil deve participar, do meu ponto de vista, em várias frentes do desenvolvimento deste programa. Nós temos todas as condições. Basta que haja empenho da comunidade científica, do setor produtivo, em conjunto com o ministério, de forma que possamos aproveitar ao máximo esta parceria.
Agência Brasil: Ministro, aproveitando a sua fala sobre a importância da participação dos jovens em projetos como o Artemis, gostaria de uma avaliação do vínculo deste público com a popularização da ciência, como visto, inclusive, no 1º Seminário Internacional de Astronomia e Astronáutica realizado este mês pelo ministério.
Marcos Pontes: A popularização da ciência é uma das prioridades do ministério. Tanto que criamos uma secretaria voltada para isso: de articulação e promoção da ciência. Não adianta termos a maior tecnologia do planeta se não tivermos jovens interessados em se desenvolver dentro dessas profissões e utilizar, desenvolver equipamentos de ciência. O seminário é parte dos esforços da secretaria, assim como tivemos olimpíadas de lançamento de satélites, foguetes, de matemática. Tudo isso converge em uma coisa: motivação dos jovens para utilizarem seus talentos em ciência e tecnologia e eles serem felizes nesta área.