País registra 438 óbitos no momento em que o premer Boris Johnson cogita reduzir as medidas implementadas para controlar a disseminação da Ômicron
O Globo
Matéria atualizada em 18/01/2021 ás 18h35
LONDRES — O Reino Unido registrou o maior número de mortes por Covid-19 em quase um ano nesta terça-feira. O país atingiu a marca no momento em que o governo do primeiro-ministro Boris Johnson considera relaxar as medidas introduzidas para reduzir a propagação da variante Ômicron.
Foram 438 novas mortes por Covid hoje, marcando o maior número de óbitos em um dia desde 24 de fevereiro de 2021.
A média móvel de mortes no Reino Unido vem crescendo desde o fim de dezembro, subindo de 73 naquela época para 264 na segunda-feira, segundo dados do Our World in Data, da Universidade de Oxford. Apesar de alto, o número ficou bem abaixo do visto durante o pico de óbitos, em janeiro de 2021, quando o país chegou a ter uma média móvel de mais de 1.200 mortes.
À época, o país estava no início de sua última quarentena nacional, decretada em 31 de dezembro de 2020, e por causa do confinamento teve logo em seguida uma queda vertiginosa da média móvel de mortes, chegando a uma taxa diária de menos de 30 óbitos em meados de abril, quando foi iniciado o plano de flexbilização do lockdown.
Na segunda-feira, a média móvel aparentemente sugeria uma estabilização no número de mortes, já que desde quinta-feira passada a taxa ficou um pouco acima de 260 por dia.
Antes do recorde desta terça-feira, o ministro da Saúde, Sajid Javid, havia dito ao Parlamento que estava otimista de que as medidas introduzidas para reduzir a disseminação da Ômicron serão reduzidas na próxima semana, uma vez que os casos e as hospitalizações provocados pela variante parecem ter atingido o pico.
Segundo a mídia britânica, o governo está considerando eliminar gradualmente as restrições pandêmicas restantes na Inglaterra, incluindo o trabalho remoto e o uso de passaporte da vacina.
Apesar de as infecções terem atingido recordes nas últimas semanas, a velocidade na aplicação de doses de reforço e os efeitos menos graves da Ômicron em vacinados fizeram com que as internações e as mortes não aumentassem tão acentuadamente em comparação com surtos anteriores. Atualmente, 70% da população britânica estão totalmente imunizados, enquanto 53% já tomaram a dose de reforço.
Diferentemente do que ocorre com a taxa de mortes, a média móvel de casos no Reino Unido durante toda a pandemia atingiu seu pico no atual surto, chegando a 182.890 contaminações em 5 de janeiro — em janeiro de 2021, durante outro surto, a maior média de infecções foi de 59.688.
No entanto, a média de casos no país vem caindo rapidamente na última semana, chegando a 98.684 nesta segunda.
No mundo, a pandemia vive seu pico de casos, mas não o de mortes. A média móvel de óbitos em nível global vem aumentando nos últimos dias, e na segunda-feira foi de 7.066. A taxa é semelhante à registrada em dezembro e cerca de metade da registrada em janeiro de 2021, quando chegou ao seu pico global: 14.704 por dia.
Ômicron já é a variante dominante no mundo, indicam dados da OMS
A variante ômicron do coronavírus já está presente em 58,5% dos casos de covid-19 analisados no mundo, tendo, portanto, ultrapassado a delta e se tornado dominante em nível global, apontou a Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório epidemiológico semanal divulgado nesta terça-feira (11/01) pela OMS afirma que, dos mais de 357 mil casos sequenciados reportados à iniciativa global para o compartilhamento de dados sobre influenza e covid-19 (Gisaid, na sigla em inglês) nos últimos 30 dias, mais de 208 mil foram causados pela variante ômicron.
A variante delta, que foi a cepa dominante durante grande parte do ano passado, respondeu por 147 mil dos casos sequenciados (41%). Dados também já apontaram que a ômicron, detectada inicialmente no sul da África e reportada à OMS no fim de novembro, se tornou a variante dominante no Brasil. Dribla imunidade, mas é menos grave O relatório destaca haver cada vez mais evidências de que a variante ômicron é capaz de “escapar à imunidade”, pois há transmissão mesmo entre os vacinados e pessoas que já tiveram a doença.
A OMS também destaca, por outro lado, “evidências crescentes” de que a ômicron é menos grave do que variantes anteriores do coronavírus Sars-Cov-2. Apesar disso, em outro relatório da OMS também publicado nesta terça, a organização destacou que os riscos à saúde apresentados pela ômicron continuam sendo “muito altos”, pois ela pode levar a um aumento de hospitalizações e mortes em populações vulneráveis.
O recorde diário de casos em mais de dois anos de pandemia até o momento foi registrado no último dia 6, com mais de 2,6 milhões de diagnósticos positivos em todo o mundo, número que a própria OMS reconhece poder ser muito maior. Desde então, a barreira de 2 milhões de casos foi ultrapassada em vários dias, e um pico de infecções ainda não foi confirmado, embora alguns países primeiramente afetados pela variante ômicron, como a África do Sul, pareçam ter atingido essa marca. “Transmissibilidade sem precedentes”
Com a rápida disseminação da ômicron, especialistas pressupõem que logo será difícil evitar uma infecção. Nesta terça-feira, a OMS alertou que mais da metade da população da Europa poderá ter contraído a variante nos próximos dois meses se os números de infecções continuarem nas taxas atuais. Também o imunologista Anthony Fauci, o principal assessor do governo dos EUA em relação à pandemia, prevê que, mais cedo ou mais tarde, a ômicron, “com seu grau de eficiência de transmissibilidade sem precedentes”, infecte quase todas as pessoas.
Fauci afirmou que também vacinados devem ser infectados, mas que a maioria deles não terá quadros graves da doença, e que os não vacinados serão os mais duramente atingidos. Apesar dos relatos de um maior grau de casos assintomáticos e menor proporção de hospitalizações para casos da variante ômicron, a OMS disse que é muito cedo para tratar a doença como endêmica – no caso de uma doença mais leve que ocorre regularmente, como a gripe.
“Ainda temos um vírus que está evoluindo muito rapidamente e apresentando novos desafios. Portanto, certamente não estamos no ponto de poder chamá-lo de endêmico”, disse Catherine Smallwood, do Departamento de Emergências da OMS.
Fonte: O Globo e lf/rk (Efe, AFP, ots)