Relatório americano sobre laboratório de Wuhan provoca novo choque entre EUA e China

Documento, classificado por Pequim como ‘completamente falso’, diz que três pesquisadores do Instituto de Virologia da cidade procuraram atendimento médico um mês antes de os primeiros casos de Covid-19 serem relatados no país

Seguranças em frente ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China, em fevereiro de 2021, durante visita de time da Organização Mundial da Saúde que investiga as origens da Covid-19 Foto: Thomas Peter / Reuters

WASHINGTON — A China acusou os Estados Unidos de promoverem a teoria de que o novo coronavírus teria escapado por acidente de um laboratório de alta segurança em Wuhan, um dia depois de o jornal The Wall Street Journal, citando um suposto relatório da Inteligência americana, afirmar que três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan procuraram atendimento médico em novembro de 2019, um mês antes de Pequim relatar os primeiros casos da Covid-19.

O jornal disse que o relatório, feito ainda no governo de Donald Trump, forneceria informações sobre o número de pesquisadores que adoeceram, o momento de suas doenças e suas visitas a médicos, o que pode reforçar os pedidos de uma investigação mais ampla sobre a origem do coronavírus. O relatório, no entanto, não teria podido concluir que esses cientistas tiveram a Covid-19.

Fontes do governo americano ouvidas pela agência Reuters disseram nesta segunda-feira que o relatório existe, mas alertaram que não há nenhuma prova de que o vírus tenha se espalhado a partir do laboratório. As mesmas fontes afirmaram que nem sequer se sabe quais eram os sintomas dos cientistas que teriam ficado doentes ou se eles chegaram a ser hospitalizados.

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Segundo o Wall Street Journal, funcionários americanos antigos e atuais, familiarizados com o relatório, deram opiniões diferentes sobre a força dos indícios em que o documento se baseia. Um deles, que não foi identificado, disse que uma “investigação e uma confirmação adicionais” seriam necessárias. Outro, no entanto, descreveu o relatório como forte.

— As informações que recebíamos de várias fontes eram de excelente qualidade. Foi muito preciso. Mas o que eles não dizem é por que exatamente eles ficaram doentes — disse um dos funcionários consultados, segundo o Wall Street Journal.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse nesta segunda-feira que é “completamente falso” que três membros da equipe do instituto tenham ficado doentes no período citado, e sugeriu que as atividades de pesquisa no Forte Detrick, uma base militar americana no estado de Maryland, deveriam ser investigadas. A base abrigou, entre 1943 e 1969, o programa de armas biológicas dos EUA.

— Há suspeitas sobre as atividades no Forte Detrick e nos mais de 200 laboratórios de biologia dos Estados Unidos. Os Estados Unidos continuam a estimular a teoria de um vazamento de laboratório — disse Zhao. — Mas os EUA de fato se preocupam em estudar a origem do vírus ou estão apenas tentando desviar a atenção? Esperamos que os departamentos americanos correspondentes façam os esclarecimentos devidos e deem ao mundo uma resposta clara.

Os primeiros casos da Covid-19 foram relatados em meados dezembro de 2019 em Wuhan, onde está localizado o laboratório especializado na pesquisa de vírus que surgem em animais e eventualmente podem ser transmitidos a humanos. O laboratório é de segurança máxima, e já realizou parcerias com cientistas dos EUA e de outros países.

Autoridades e cientistas chineses têm rejeitado a hipótese de que o vírus pudesse ter escapado do laboratório por acidente. A teoria começou a ser propagada por autoridades americanas no governo Trump.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em março após estudos na China afirmou que a hipótese mais provável é que o coronavírus tenha passado de morcegos para o homem por meio de um animal intermediário, mas ressaltou que são necessários mais estudos sobre sua origem e que nenhuma hipótese pode ser descartada.

Nesta semana, em sua assembleia anual, a OMS deve deliberar sobre a próxima fase de sua investigação sobre as origens da Covid-19.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, não quis confirmar se o relatório citado pelo Wall Street Journal é verdadeiro.

— Não temos informação suficiente para tirar uma conclusão sobre as origens do coronavírus. Por isso precisamos de uma investigação independente e é isso que estamos pedindo — disse ela, acrescentando que o governo dos EUA está trabalhando com a OMS e outros países-membros da organização para apoiar uma avaliação das origens da pandemia “que esteja livre de interferência ou politização”.

Fonte: O Globo