Respeito à faixa de pedestre reduz em 83% número de atropelamentos

Considerada uma das campanhas de trânsito mais bem-sucedida no Brasil, a campanha educativa para uso da faixa de pedestres em Brasília completou este mês 24 anos com um resultado extraordinário: reduziu em 83% o número de mortes de pedestres na capital federal.

“Esse número é ainda mais impressionante se considerarmos que, em termos absolutos, a população atual de Brasília é, pelo menos, três vezes maior do que a de 1997, quando teve início a campanha”, disse à Agência Brasil o diretor de Educação de Trânsito do Detran-DF, Marcelo Granja, servidor que participou de todo o processo de campanha e implementação da cultura da faixa no Distrito Federal.

Segundo Granja, em termos de marketing e de sensibilização, essa foi “a maior campanha já feita em termos de visibilidade e de resultados”, o que fez dela referência para os Detrans de todo o país. “Nossos técnicos passaram a ser convidados para participar de palestras no Brasil inteiro”, disse o diretor.

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Brasília mostrava, com essa campanha, que a ligação da capital do país com boas práticas no trânsito ia além da coincidência de seu aniversário, comemorado hoje (21 de abril) vai além de, na data, ser comemorado também o Dia Nacional da Paz no Trânsito.

Estatísticas

Implementada em 1997, a campanha consolidou Brasília como “a capital da travessia segura na faixa”. Naquele ano, houve uma redução de 24% no número de pedestres mortos (202) em relação ao ano anterior (266).

De lá para cá, mesmo com uma frota de tamanho triplicado, segundo o Detran, saltando de 605 mil veículos em 1996 para 1.870.203 veículos em 2020, o número de pedestres que morreram em atropelamento no trânsito do DF caiu de 266 para 44 mortes por ano.

De acordo com o Detran, apenas um dos óbitos ocorreu em acidente durante a travessia na faixa. Os demais (43 pedestres) foram atropelados quando atravessavam a via fora da faixa. Segundo Granja, Brasília tinha cerca de 300 faixas de pedestres em 1997. “Atualmente temos cerca de 4.800 faixas”.

 Campanha consolidou Brasília como “a capital da travessia segura na faixa” – Marcelo Camargo/Agência Brasil

A campanha

O diretor de Educação de Trânsito lembra que, antes dessa campanha específica teve início um trabalho de conscientização da comunidade, com ações educativas lúdicas que incluíam peças teatrais e brincadeiras levadas às escolas do DF.

“A peça ‘Quem Viu a Via’ ganhou espaço, sendo até apresentada em teatros”, lembra Granja. Outro fator anterior que favoreceu a implementação da campanha foi a criação da Escola Pública de Trânsito, obrigatória para quem fosse tirar a carteira de motorista.

“A faixa de pedestre era um dos temas abordados. Ao tomarem conhecimento sobre essa regra, que empodera o pedestre, dando a ele prioridade em relação aos carros, as pessoas começaram a questionar a não obediência à regra pelos motoristas”, acrescenta o diretor.

Os instrutores notaram muitas dúvidas dos alunos sobre procedimentos que garantissem a segurança na hora de atravessar a faixa. “Foi aí que vimos a necessidade de incluirmos um gesto a ser dado pelo pedestre para alertar o motorista sobre a intenção de se fazer a travessia. Essa orientação foi apresentada em cartilhas e folders, até para evitar engavetamentos, já que a velocidade nas vias costumava ser alta devido ao menor número de carros”.

Há 24 anos, a capital federal instituiu o respeito ao pedestre na faixa, comportamento que é exemplo de cidadania e motivo de orgulho para os brasilienses – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Cultura da faixa

A criação de uma “cultura da faixa de pedestre” foi também reforçada por matérias de jornais locais que fizeram uma espécie de contagem regressiva para a data em que teria início a fiscalização sobre o cumprimento dessa regra.

“Na sequência, matérias nacionais mostraram essa nova realidade, o que acabou mexendo positivamente com a autoimagem dos brasilienses. Até então os motoristas se achavam mais do que os pedestres, principalmente quando tinham carro importado”, disse Granja. “Nascia ali um turning point [ponto de virada] que reverteu prioridades. Foi uma espécie de resgate para a igualdade de direitos, emblemático por apresentar um olhar diferente que empodera os vulneráveis e inibe aqueles que não respeitam essa regra”. Ele acrescentou que esse “olhar diferenciado” passou a ser dirigido também a ciclistas e motoristas na cidade.