Se a CPI da Covid provar, Bolsonaro ‘será responsabilizado sim’, diz Renan

Senador, que é relator da comissão, também disse que atual ministro da Saúde adotou estratégia de não falar a verdade

Relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL) em pronunciamento Foto: Jefferson Rudy / Jefferson Rudy/Agência Senado
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BRASÍLIA – O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse neste sábado esperar que o presidente Jair Bolsonaro não tenha responsabilidade sobre o agravamento da pandemia no país, que já matou mais de 400 mil pessoas. Por outro lado destacou que, se isso for provado, ele vai ser responsabilizado. A declaração foi dada em entrevista ao Grupo Prerrogativas, que reúne advogados.

Primeiramente, o senador citou algumas declarações de Bolsonaro que ele chamou de “absurdos”:

— O que deve ser levado em conta é a maneira como o governo minimizou a pandemia, como o governo entendia que ela não era letal, não causa mortes, como o governo minimizou o papel da vacina, que é o único instrumento que pode resolver o problema, e como o governo fechou as portas para os produtores de vacinas. Não foi só para a Pfizer. Por quê? Porque o presidente disse várias vezes que não acreditava na vacina, muito menos na chinesa, que quem tomasse ia virar jacaré e afinar a voz.

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Depois concluiu:

— Não dá para comparar, por tudo isso, a circunstância do Brasil com a de nenhum outro país. Em nenhum outro lugar, o chefe de Estado ou de governo falou publicamente esses absurdos para os seus governados, para a sua população. Então não dá. Só tivemos isso no Brasil. Eu espero que o presidente da República não tenha responsabilidade com o agravamento do morticínio no Brasil. Espero que a CPI não chegue a tanto. Mas se a CPI chegar, não tenho nenhuma dúvida que ele será responsabilizado sim.

E reforçou:

— Ainda não temos como responsabilizar o presidente da República nem ninguém. Estamos começando os trabalhos. O nosso objetivo é fazer uma revisão nas politicas equivocadas para salvar vidas, e investigar o que aconteceu.

— Há a percepção da sociedade de que, e o governo tivesse feito certo, e o governo tem na CPI uma oportunidade para mostrar que fez certo, certamente também não teríamos tido que conviver com esse morticínio todo, transformado o Brasil em cemitério do mundo — acrescentou o relator da CPI.

Calheiros defendeu a convocação do ministro da Justiça, Anderson Torres, que, em entrevista à revista “Veja”, disse que vai requisitar à Polícia Federal (PF) informações sobre desvios de recursos federais enviados a estados e municípios. Por outro lado, disse ser contra convocar os filhos do presidente, até para não dar motivo para dizer que a CPI é uma iniciativa para atingir pessoalmente Bolsonaro. Mas não deixou de criticar pai e filhos pelos ataques que desferem, muitas vezes sem provas, à China, país que fornece vacinas e outros insumos de saúde ao Brasil. Esta semana, por exemplo, o senador insinuou que o coronavírus foi produzido pela China como parte de uma guerra química.

— Precisamos pôr termo a essa irresponsabilidade — disse o relator da CPI.

O senador voltou a elogiar os depoimentos dados à CPI pelos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que reafirmaram discordar da forma como Bolsonaro conduziu o enfrentamento à pandemia. Quanto ao depoimento do atual ministro, Marcelo Queiroga, Renan disse que ele adotou uma estratégia de não falar a verdade.

— Tivemos um depoimento do atual ministro que não foi esclarecedor porque visivelmente ele defendeu uma estratégia de não responder as perguntas objetivamente e consequentemente não falar a verdade. Mas ainda reconheceu a existência do grupo paralelo [de assessoramento ao presidente], o constrangimento em algumas oportunidades de ser desautorizado pelo discurso negacionista do presidente da República — disse o relator da CPI.

Queiroga foi questionado várias vezes sobre declarações de Bolsonaro. A resposta padrão foi a de que ele não poderia fazer juízo de valor sobre falas do presidente. Também houve perguntas sobre falhas do Ministério da Saúde antes de sua chegada ao cargo. Nesse caso, a resposta padrão foi a de que não poderia falar sobre gestões anteriores.

Questionado sobre o que pode ocorrer caso o ex-ministro Eduardo Pazuello, que seguiu as orientações de Bolsonaro, o senador lembrou que os investigados podem deixar de comparecer à sessão da CPI. Mas também afirmou que Pazuello vai ser ouvido como testemunha, sem citar medidas concretas para obrigá-lo a ir. Calheiros destacou, por exemplo, que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a possibilidade de fazer condução coercitiva. Pazuello falaria à CPI na última quarta-feira, mas alegou ter mantido contato com pessoas com Covid-19 para pedir um depoimento remoto, o que foi negado. A comissão remarcou a audiência dele para o dia 19 de maio.

— Queremos que ele compareça. Ele será interrogado como os outros foram — disse o relator da CPI.

Ele também elogiou a gestão do filho, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), no enfrentamento à pandemia. O governo Bolsonaro quer focar as investigações na forma como estados municípios gastaram recursos federais. O próprio presidente, inclusive, já sugeriu uma investigação contra Renan Filho. Neste sábado, o relator da CPI voltou a dizer que, em caso de apuração sobre a gestão de seu filho, isso ficará a cargo de outro integrante da comissão.

Fonte: O Globo