SP estima nº recorde de casos leves de Covid, o dobro do pico em abril

Por Marina Pinhoni, Patrícia Figueiredo e Rodrigo Rodrigues, g1 SP — São Paulo

“Na segunda quinzena de dezembro, nós observamos aumento na internação de pessoas que agravaram pelos vírus respiratórios. O que temos diferente é o vírus da influenza. O vírus que não apareceu o ano todo, nem sequer na sazonalidade, se disseminou, e por três semanas de dezembro foi o que mais causou internações na cidade. Já observamos que começou a cair o número de internações por influenza. Em contrapartida, há o aumento de internações por Covid”, disse Caldeira.

Pacientes internados com Síndrome Respiratória Aguda Grave na cidade de São Paulo. — Foto: Secretaria Municipal de Saúde

A mesma tendência também foi observada em hospitais particulares da cidade. Nos cinco primeiros dias do ano, o HCor registrou 1,5 mil atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios. Destes, 51% testaram positivo para Covid-19, e apenas 6% para o vírus Influenza da gripe.

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O Hospital Albert Einstein também registrou aumento dos casos de Covid na primeira semana de janeiro. Entre os dias 02 e 06, o hospital confirmou 3.675 casos de Covid-19 e 902 casos de Influenza. Atualmente, o hospital tem 60 pacientes internados com Covid e 23 com Influenza.

Aumento de internações no estado

A média diária de novas internações por suspeita ou confirmação de Covid-19 em enfermaria e UTI dobrou em 23 dias no estado de São Paulo. Diante do apagão nos dados de casos confirmados da doença, o indicador de internações é uma das principais estatísticas para o acompanhamento da pandemia no estado.

Nesta terça-feira (4), foram 566 novas internações, contra 283 em 13 de dezembro de 2021. Embora seja menor do que os dos piores momentos da pandemia, o número já é semelhante ao verificado em setembro de 2021. A média de internações considera o número de novas admissões em leitos de enfermaria ou de UTI de pacientes com confirmação ou suspeita de Covid-19.

Mesmo com o apagão das estatísticas de casos e mortes nas últimas semanas, outros indicadores apontam que a contaminação pelo coronavírus voltou a aumentar no estado. Além de internações, filas em postos de saúde e hospitais e testes positivos de Covid em farmácias cresceram.

Apagão de dados

Desde que o Ministério da Saúde afirmou ter sofrido um ataque hacker, em dezembro, estados enfrentaram dificuldades para extrair as informações sobre a doença dos sistemas oficiais.

Na terça-feira (4), o governo de São Paulo afirmou que a extração começou a ser normalizada. No entanto, especialistas afirmam que as informações represadas durante o período de instabilidade ainda não foram divulgadas completamente. Para eles, os governos ainda estão em um “voo cego” no acompanhamento dos dados de Covid-19.

Nesta quarta, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que os dados ainda não estão completos, e que parte dos casos que ocorreram durante o apagão ainda não foi contabilizada. Mesmo com o aumento nas internações, a gestão estadual descarta a adoção de novas medidas restritivas para conter o avanço da variante ômicron e da gripe.

Profissionais da saúde atendem paciente com Covid-19 em leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital do bairro Imirim, na zona norte de São Paulo — Foto: MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO

Já o coordenador-executivo do Comitê Científico do governo de São Paulo declarou que o apagão de dados ocorreu porque o estado confiou no sistema do Ministério da Saúde.

“Essa questão do apagão talvez seja a manifestação mais evidente do processo de desconstrução do sistema único de saúde que a gente está enfrentando. O estado confiou no Ministério da Saúde. Todos os casos confirmados são encaminhados diretamente dos municípios para o ministério, disse.

Para ele, a permanência do apagão equivale à sensação de estar “conduzindo um Boeing sem GPS e radar”. O médico avaliou ainda a possibilidade de que o estado criasse seu próprio sistema de notificação, para contornar as falhas do Ministério da Saúde. Esta solução já foi adotada por outros estados.

“Talvez a solução para isso seria criar um sistema próprio do estado de São Paulo, em que os municípios encaminham para o próprio estado”, afirmou.

Fonte: G1