Terrorismo em Brasília: Fantástico refaz a cronologia da barbárie dos atos golpistas de domingo (8)

Passo a passo aponta para falhas e omissões, e mostra o que vem sendo feito pra se apurar responsabilidades no ato criminoso contra a democracia brasileira.

A equipe do Fantástico refez a cronologia da barbárie do domingo passado (8), quando extremistas bolsonaristas vandalizaram as sedes dos Três Poderes em Brasília: um passo a passo que aponta para as falhas e omissões, e mostra o que vem sendo feito pra se apurar responsabilidades no ato criminoso contra a democracia brasileira.

Eram 14h45 quando jogaram a primeira pedra. Depois, foram mais duas horas de quebradeira diante dos olhos do ministro da Justiça, Flávio Dino, que conversou com o repórter Marcelo Canellas.

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Canellas: Então o senhor assistiu de camarote aqui, com esse monte de janela atrás do senhor?
Flávio Dino: Infelizmente, eu assisti. Com a graça de Deus, não tive um infarto, mas cheguei perto. Porque, em primeiro lugar, a indignação; em segundo lugar, imediatamente, a impotência; e em terceiro lugar, muita atividade, muita ação, para poder dar conta das múltiplas situações, porque inicialmente só eu estava aqui.

O ataque terrorista contra a democracia brasileira não foi planejado de uma hora para outra. Como uma bomba relógio, começou a ser preparado depois do segundo turno das eleições, quando o primeiro acampamento bolsonarista foi montado, como mostra o áudio abaixo, enviado por um dos golpistas:

“Se tiver que dar tiro, dá tiro. Se tiver que meter a mão no pescoço… Não tem mais que ter dó”.

“Festa da Selma” foi o código usado por grupos golpistas em trocas de mensagens, na conspiração para tomar o poder. À noite, na véspera do ataque, o acampamento bolsonarista estava lotado e nas primeiras horas do dia 8, mais pessoas continuavam chegando.

Às 13h, cerca de 4 mil pessoas se preparavam para deixar o local, em frente ao QG do Exército, em direção à Esplanada. Aos gritos, entoavam palavras de ordem golpistas, mas ao em vez de contê-los, a PM preparou uma escolta para o grupo e, em áudio enviado ao governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o então secretário de Segurança Pública disse que o clima estava “bem tranquilo”.

Segundo o ex-secretário de Segurança e professor da UNB, Artur Trindade, tudo estava totalmente fora do protocolo:

“Existem protocolos, vários protocolos – tanto em relação ao tamanho da manifestação quanto em relação ao grau de risco que ela envolve. Por que se abandonou o protocolo? Por que sabendo do tamanho da manifestação e do grau de risco que ela envolvia, o protocolo foi mudado? Foi mudando de maneira, eu diria, criminosa”.

Apenas 365 policiais militares estavam na Esplanada, sendo que, pelo protocolo da Secretaria, para uma multidão desse tamanho, seriam necessários 1.096. O mesmo protocolo, segundo apurou o Fantástico, exigiria gradis duplos de contenção nas duas margens da Alameda das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional, e outro gradil duplo na altura da Avenida José Sarney, mas só havia gradis simples em cada um desses pontos, guardados por poucos policiais.

Nossa equipe também apurou que, no momento do ataque, não havia sentinelas da Guarda Presidencial nas guaritas. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, vê mais indícios de conivência de gente de dentro do Palácio do Planalto:

“80%, 90% das pessoas só corriam e quebravam tudo, e tinha um grupo menor que sabia onde é que ia ir. Sabia onde era a sala de armas, sabia onde é que era o GSI, sabia onde é que era a Abin, sabia onde é que era a Secom. Então, enquanto uma turma corria e quebrava tudo, outros iam nos locais onde eles queriam ir”.

O Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto informou ao Fantástico que há militares do Exército sob investigação.

No âmbito do Distrito Federal, quatro inquéritos policiais militares e um da Polícia Civil foram abertos para apurar responsabilidades. O interventor federal afastou todo o comando da Polícia Militar. Oito integrantes da cúpula da Secretaria de Segurança Pública foram exonerados; já na cúpula da PM foram nove exonerações.

Ao todo, 1.843 pessoas foram detidas – 684 foram liberados e vão responder em liberdade. A Polícia Federal prendeu 1.159 pessoas.

Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal afirma que adotou protocolos para reforçar o policiamento preventivo na região central de Brasília. A PM diz que, antes da invasão, participantes foram presos pelo Batalhão de Trânsito porque tinham objetos como atiradeiras, bolas de gude e pedras.

A nota afirma ainda que, até o início da tarde do último domingo, eles se comportavam “de maneira colaborativa” e que, de repente, entraram em confronto com os policiais. Ainda segundo a PM do DF, centenas de pessoas foram detidas e dezenas de policiais militares ficaram feridos nos confrontos.

Também em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército afirma que todos os fatos ocorridos no dia 8 que dizem respeito ao próprio Exército estão sendo apurados.

O Palácio do Planalto não informou quantos integrantes do Gabinete de Segurança Institucional e da Guarda Presidencial estavam no palácio no momento da invasão.

A defesa de Ibaneis Rocha diz que ele repudia veementemente os atos de vandalismo e que o governo do Distrito Federal tinha um protocolo de segurança que deveria ser observado. Segundo a defesa, Ibaneis se sente traído pelo que chama de “sabotagem” e que espera que seu afastamento seja revisto.

Já a defesa do ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres não retornou nossas ligações e mensagens. Também não conseguimos contato com o ex-secretário interino de Segurança, Fernando de Sousa Oliveira, e com a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Fonte: G1