Vice-presidente da Câmara se declara oposição a Bolsonaro

Mudança de posição levou colegas a cogitarem se Marcelo Ramos autorizaria impeachment em eventual licença de Lira

A aprovação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) na última quinta-feira (15), que turbina os recursos do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões em 2022, colocou de lados opostos o presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM).

A troca de farpas fez o número dois da Câmara deixar a base de apoio a Bolsonaro e adotar uma postura de oposição, como fica claro em sua última declaração nas redes sociais. Ao R7 Planalto, Ramos confirmou que suas últimas declarações não são apenas uma postura crítica: ele disse que está se declarando oficialmente oposição ao governo Bolsonaro.

“Temos um presidente que não se dá respeito. Não respeita grandeza do cargo. O Brasil precisa de uma mensagem de esperança, de combate à roubo em vacina, de retomada da economia e do emprego, de ajuda para os que têm fome. Mas ele prefere o ódio e a baixaria. É uma vergonha”, disse Ramos em sua conta do Twitter.

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A nova postura não é boa notícia para o presidente Bolsonaro. Ramos é o segundo homem na Câmara, que tem parados mais de 130 pedidos de impeachment contra o presidente. Na ausência de Lira, aliado de Bolsonaro, é Ramos quem comanda os trabalhos, como aconteceu na última quinta-feira. A troca pública de acusações entre Ramos e Bolsonaro fez, inclusive, que parlamentares cogitassem que Ramos poderia acatar um dos pedidos de impeachment durante uma eventual licença de Lira.

Antes de terminar a sessão da votação da LDO, Ramos já se mostrava contrariado com o que julgou ser uma tentativa de deputados bolsonaristas de colocarem nele a culpa pela aprovação do aumento do fundo: “Quero dizer ao deputado Eduardo Bolsonaro que ele deve ter coragem de assumir seus votos, as suas atitudes e as suas posturas, porque tenho que assumir as minhas. Não exponho os colegas, não tergiverso sobre minhas posições mesmo quando são impopulares”, disse no comando do plenário.

Deputados bolsonaristas foram massacrados nas redes sociais por terem votado a favor da LDO, que turbina o fundo. Também nas redes, Eduardo Bolsonaro havia acusado Ramos: “Pretendíamos votar para não ser esse fundão de R$ 6 bilhões, o que é uma excrescência. Infelizmente, o presidente Marcelo Ramos atropelou a votação e acabou a Lei de Diretrizes Orçamentárias sendo aprovada com esse fundão”, disse o filho 02 do presidente.

Bolsonaro sinalizou, no último domingo (18), que pode vetar o fundão eleitoral. “Eu sigo a minha consciência, sigo a economia e a gente vai buscar um bom sinal para isso tudo aí. Afinal de contas, eu já antecipo, R$ 6 bi pra fundo eleitoral, para financiamento de campanhas, pelo amor de Deus”, disse.

Ao receber alta, o presidente afirmou na saída do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde ficou internado para tratar uma obstrução intestinal, que o vice-presidente da Câmara atropelou a votação da LDO.

De acordo com o presidente, Ramos “passou por cima” e não pôs em votação um destaque à redação da LDO que alteraria o texto para suprimir a previsão de reajuste do fundo eleitoral.

“Então, num projeto enorme, alguém botou lá dentro essa casca de banana, essa jabuticaba. O Parlamento descobriu, foi tentando destacar para que a votação fosse nominal. Essa questão, o presidente Marcelo Ramos, do Amazonas… Pelo amor de Deus o estado do Amazonas ter um parlamentar como esse, pelo amor de Deus”, afirmou.

Fonte: R7