Vulcão de La Palma: a perigosa reação que vai ocorrer quando lava do vulcão de La Palma atingir o mar

As autoridades dizem que mantêm estudos sobre a ecologia e a geologia da ilha. Temor do Instituto de Investigação Sísmica da Universidade de Tóquio era que desabamento afetasse ilha vizinha.

Lava é expelida de vulcão no parque nacional Cumbre Vieja em El Paso, na ilha de La Palma, no domingo (19) — Foto: FORTA/Handout via Reuters

Após a erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, nas Ilhas Canárias (Espanha), a preocupação das autoridades agora se concentra na chegada da lava vulcânica ao mar. O fenômeno já destruiu mais de uma centena de casas e obrigou a evacuação de milhares de pessoas da região.

É difícil determinar quando isso vai ocorrer. Tudo depende da velocidade do fluxo da lava, que diminui à medida que ela esfria e atravessa terrenos mais planos.

Para proteger a população, as autoridades intensificaram o sistema de proteção civil e o perímetro de interdição no litoral foi ampliado para evitar que as pessoas se aproximassem do local.

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O principal motivo pelo qual a chegada do magma ao oceano é monitorada de perto é a reação química gerada pelo contato do fluido com a água salgada. Esse contato “pode ​​gerar explosões e emissão de gases nocivos”, segundo as autoridades do Plano de Emergência Vulcânica das Ilhas Canárias (Pevolca).

Lava da erupção do vulcão Cumbre Viejo flui destruindo casas na ilha de La Palma nas Canárias, na Espanha, em 21 de setembro de 2021 — Foto: Emilio Morenatti/AP

Gases tóxicos

“Quando o magma toca o mar, grandes colunas de vapor d’água se formam porque grande parte da água salgada vai vaporizar. Isso se deve ao grande contraste térmico entre os dois: a lava tem uma temperatura de mais de 900°C, enquanto a água tem cerca de 23°C “, explica José Mangas, professor de geologia da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria.

“Mas como a água contém cloretos, sulfatos, carbonatos, flúor e iodo (entre outras coisas), os gases tóxicos também se volatilizam”, diz o acadêmico à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Esses gases podem causar irritação na pele, nos olhos e nas vias respiratórias.

Mangas dá como exemplo o que acontece nas áreas próximas aos vulcões do Havaí.

“Quando você se aproxima da área do mar onde a lava líquida está caindo, seu nariz e garganta começam a coçar, porque você está respirando os gases que evaporaram da água do mar que contém cloro, sulfatos…”, diz.

São gases que deixam temporariamente um cheiro desagradável nas áreas mais próximas.

Por outro lado, quando a lava é resfriada rapidamente pelo contato com a água, “a lava se quebra, e isso pode produzir a ejeção de projéteis a uma distância relativamente curta. E a liberação de gases (tóxicos) que a lava aprisiona dentro dela”, explica Héctor Lamolda Ordóñez, engenheiro geográfico do Instituto Geográfico Nacional e professor da Faculdade de Matemática da Universidade Complutense de Madri.

“Os gases gerados nesses dois processos são empurrados pelos ventos em direção ao mar, nas atuais condições meteorológicas”, diz Lamolda, que acrescenta que, mesmo que as condições mudem, eles se dispersariam no ar em pouco tempo.

Os dois cientistas concordam que a delimitação de um perímetro próximo à área afetada é suficiente para controlar o perigo.

“Os gases tóxicos lançados na atmosfera aberta, em um espaço obviamente restrito e delimitado, não deveriam representar um perigo maior, pois não deveria ter ninguém por perto quando isso acontecesse”, diz Lamolda.

Outros perigos ligados à chegada do magma ao oceano, de acordo com o United States Geological Survey, e que não estão necessariamente ligados ao caso do vulcão Cumbre Vieja em La Palma, são o colapso repentino de terras e falésias da costa, explosões desencadeadas como resultado deste colapso e das ondas de água fervente que são geradas ao redor.

Fases iniciais

 

Embora a situação agora esteja sob controle, tudo pode mudar com o passar dos dias.

“Estamos apenas começando, essas são as fases iniciais da erupção, ainda há um longo caminho a percorrer”, avisa Mangas.

“Numa erupção estromboliana como a que temos agora em La Palma, dois dias não são nada, porque nas erupções históricas que tivemos aqui, do século 15 até agora, duraram um, dois ou três meses.”

As erupções estrombolianas — batizadas com o nome do vulcão Stromboli, na Itália — são relativamente leves e ocorrem em intervalos que podem durar de segundos a várias horas.

Embora ela esteja apenas começando, Mangas deixa claro que a erupção já é devastadora para a região.

“Há perdas materiais significativas, cerca de 200 casas destruídas, que não podem ser recuperadas, porque a força e a energia da lava as destruíram completamente. São 200 famílias que ficaram sem casa”, frisa.

 

Por outro lado, a lava já atingiu quatro rodovias, cortando a ligação daquela parte da ilha de norte a sul.

“Nessas estradas estão os encanamentos que fornecem água encanada para as casas, e como a temperatura da lava é tão alta, muitas terão derretido, afetando o abastecimento”, diz Mangas.

Postes de luz, cabos elétricos e telefônicos também foram danificados. E “a parte agropecuária também sofreu muito”, diz.

“Do ponto de vista humano, é uma catástrofe”, finaliza.