Wassef confirma compra de Rolex nos EUA, mas nega pedido de Bolsonaro

Advogado afirma ter adquirido relógio como presente ao governo, mas rejeita ligação com suposta “operação de resgate”

Frederick Wassef, advogado que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro e o senador Flavio Bolsonaro, no Palácio do Planalto em junho de 2020
Foto: Reprodução/REUTERS/Adriano Machado/File Photo

O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef, trouxe esclarecimentos durante uma entrevista coletiva realizada nesta terça-feira, 15, em São Paulo. Ele confirmou ter feito uma viagem aos Estados Unidos e adquirido um relógio Rolex no dia 14 de março deste ano. Alegou que essa aquisição foi realizada com a intenção de oferecer um presente ao governo brasileiro, porém, negou veementemente ter sido instado por Bolsonaro a participar de uma suposta “operação de resgate” da joia.

Em 2019, durante uma viagem oficial à Arábia Saudita e ao Catar, Jair Bolsonaro recebeu um relógio de luxo como presente das autoridades sauditas. Esse presente de valor foi posteriormente levado para os Estados Unidos, onde Bolsonaro também viajou pouco antes do término de seu mandato presidencial. Lá, conforme informações da Polícia Federal (PF), o relógio teria sido ilegalmente vendido pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.

A controvérsia em torno do relógio se intensificou quando, em 15 de março deste ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) demandou que Bolsonaro fornecesse ao tribunal um conjunto de joias suíças da marca Chopard, feitas em ouro branco, que haviam sido recebidas como presente do governo da Arábia Saudita em 2019. Essas joias posteriormente foram devolvidas.

Continua após a publicidade..

Wassef, em sua entrevista coletiva, enfatizou que a viagem aos EUA já estava planejada por motivos pessoais e explicou que usou seu próprio dinheiro para comprar o relógio. Ele ressaltou que seu objetivo ao adquirir a joia era cumprir a decisão do Tribunal de Contas da União, e levantou a possibilidade de que o relógio em questão pudesse ser outro, insinuando que talvez não fosse o mesmo produto.

Expondo uma suposta dívida com o governo brasileiro, Wassef afirmou: “O governo do Brasil me deve R$ 300 mil”. Apresentou um recibo de compra no valor de 49 mil dólares, aproximadamente R$ 300 mil, como prova de pagamento. Contestando as especulações de sua ligação com Mauro Cid, o ex-assessor de Bolsonaro, ele alegou que sua relação com Cid era puramente formal e não amistosa.

A respeito da forma de pagamento, Wassef explicou ter usado dinheiro para identificar de maneira transparente o comprador, de acordo com a legislação dos Estados Unidos, além de obter um “desconto” de US$ 11 mil dólares, justificado também pela economia de não pagar o IOF de 5% que seria aplicado nas compras com cartão de crédito.

Para assegurar um posicionamento livre de edições, Wassef convocou a entrevista coletiva. Contudo, a Polícia Federal está empenhada em examinar itens de luxo confiscados durante a operação realizada em 11 de agosto, que busca esclarecer suspeitas de venda ilegal de presentes destinados ao governo Bolsonaro. Nesse contexto, foi solicitada autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para acessar registros financeiros da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O Rolex, avaliado em cerca de R$ 300 mil, inicialmente presenteado em 2019, foi posteriormente vendido nos EUA por Cid em junho de 2022. Após a revelação da existência do relógio em março de 2023, a equipe de assessores de Bolsonaro agiu para recuperá-lo. Wassef viajou aos EUA para buscar o item, retornando em 29 de março e entregando o relógio a Mauro Cid em 2 de abril. Dois dias após essa entrega, a defesa de Bolsonaro devolveu o item à União.

Finalmente, a operação “Lucas 12:2” da Polícia Federal, ocorrida em 11 de agosto, visava desvendar um esquema que usava a estrutura estatal para desviar bens de alto valor entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais e revendê-los ilegalmente no exterior. As investigações abordam crimes de peculato e lavagem de dinheiro, e Wassef foi um dos alvos dessa operação.