O final da temporada de 2020 foi histórico para o wrestling brasileiro. A chapa Keep Wrestling foi eleita para comandar a Confederação Brasileira da modalidade (CBW) pelos próximos quatro anos. Além de Waldeci Silva e do ex-atleta Flavio Cabral Neto, a direção será composta pela lutadora Aline Silva. Ela será a primeira mulher a ocupar um cargo na direção da CBW. “Representa credibilidade antes de tudo. Muitas pessoas me deram os parabéns. Mas considero que não é exatamente uma conquista. É muito mais uma situação de confiança. Temos muito trabalho a ser feito e fico extremamente feliz por estar aqui para tentar ajudar”, disse a recém-empossada vice-presidente.
Participaram do pleito as federações estaduais e a comissão de atletas, através de uma atualização na Lei Pelé. “Os atletas só passaram a ter direito a voto há três anos. Acho que essa que é a grande questão que deve ser comemorada. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) iniciou essa mudança que teve um terço de representatividade dos atletas e condicionou a aprovação de diversas questões ao alinhamento das confederações e o acesso maior deles às decisões. Finalmente, os mais interessados e aqueles que mais estão envolvidos no processo estão tendo um poder maior de decisão”, disse.
Formada em 2000, a antiga Confederação de Lutas Associadas foi comandada por muitos anos por membros da família Gama. O primeiro presidente foi Pedro Gama, com mandato até 2004. Na sequência, por 12 anos, a CBW foi comandada por Pedro Gama Filho, filho do primeiro presidente. “É um processo. Tudo na vida passa por fases. O nosso esporte só chegou até aqui porque passou por aquele período. Mas é normal que, para conquistar outros objetivos, seja necessário entrar em uma nova fase”. Aos 34 anos, Aline está longe de pensar na aposentadoria como atleta. Mas, mesmo assim, considerou que era o momento de partir para esse novo desafio. “Eu sempre fui de reclamar bastante e questionar os rumos da Confederação. Achei que nesse momento eu estaria sendo hipócrita se eu não aceitasse participar. Acabou acontecendo. Confesso que não estava nos meus planos nesse momento. Mas não poderia me abster nessa hora na qual eu realmente posso fazer a diferença”.
O principal foco da nova direção é descentralizar o esporte. “Temos que pensar em massificar. Sabemos que existe o CT da Seleção no Rio de Janeiro e o foco principal da Confederação vinha sendo cuidar do alto rendimento. Mas o wrestling não é muito capilarizado no Brasil. Então, precisamos ajudar as federações nesse processo para que os atletas possam chegar prontos na Confederação”, projeta. Em termos de resultados, ela coloca uma meta audaciosa para o trabalho na CBW. “Já se passaram quase sete anos daquela minha medalha de prata no Mundial do Uzbequistão. E até hoje ela é inédita no esporte brasileiro. Acho que passou da hora de alguma outra atleta repetir ou até superar esse feito. Quero muito ajudá-las para que isso ocorra”.
Com três medalhas em Jogos Pan-Americanos, prata no Mundial de 2014, ouro no Mundial Militar do mesmo ano, participação destacada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e a classificação já garantida à Olimpíada de Tóquio, além de várias outras conquistas, ela se diz realizada como atleta. “Eu ganhei muito com o esporte. Não tenho mais como perder. Como pessoa, estou totalmente realizada e pronta para continuar trabalhando pelo wrestling, seja dentro ou fora do tapete de luta. Hoje o esporte ampliou os meus limites. Atualmente me sinto muito feliz e tenho consciência de que possa ir muito além de uma medalha olímpica”.
Já classificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio, a lutadora evita fazer planos sobre o torneio. “A pandemia do novo coronavírus (covid-19) trouxe uma total indefinição. Não faço ideia de como estão as minhas adversárias. Não faço ideia de como vamos voltar dessa parada. Vai ser uma caixinha de surpresas”, finaliza.